Gás encanado representa comodidade, mas se houver vazamentos pode trazer risco aos moradores e à edificação. Gestores têm de ficar atentos às manutenções do sistema e, condôminos, ao reformar cozinhas e áreas de serviço dos apartamentos.
Síndica do condomínio On Panamby, no Jardim Fonte do Morumbi, zona sul de São Paulo, Adriana Monteagudo já teve que lidar inúmeras vezes com vazamentos de gás nas unidades. Nos 104 apartamentos, são comuns as reformas em cozinhas e áreas de serviço que incluem novas bancadas e armários. O resultado são furos nas tubulações de gás natural ao instalar os equipamentos. “O transtorno afeta vários condôminos, pois temos que fechar o gás de toda a prumada para fazer o reparo”, conta Adriana.
Esse tipo de dor de cabeça pode ser evitado, bastando que moradores e instaladores se orientem pela planta da unidade. Já uma inspeção periódica deve ser feita nas instalações de gás dos edifícios, sejam elas de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) ou GN (gás natural). “Se compararmos a edificação com o corpo humano, a inspeção predial equivale ao check-up. Somente por meio da inspeção doenças sem sintomas são constatadas”, atesta Rejane Saute Berezovsky, engenheira civil e vice-coordenadora da Câmara de Inspeção Predial do Ibape-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo).
Rejane indica que algumas vistorias podem ser realizadas pelo zelador ou manutencista. As recomendações a seguir fazem parte da cartilha Inspeção Predial – Prevenção e Combate a Incêndio, de 2019, preparada pelo Ibape-SP e atualmente em revisão:
– Verificar se existe obstrução no acesso a tubulações e acessórios, assim como sinalização.
– Verificar se tubulações e conexões estão instaladas fora de locais que possam acumular gás. Ainda, se há vazamentos em tubos, conexões e interligações.
– Verificar se as válvulas e dispositivos de regulagem, e os dispositivos de controle de pressão, estão funcionando normalmente.
– Verificar se os manômetros estão em boas condições e calibrados.
– Checar se há materiais combustíveis depositados na central de GLP e se o local possui extintores de pó químico em condições de operação. É importante também que a central de GLP possua ventilação permanente.
– Verificar se os equipamentos e materiais componentes da central de GLP (cilindros, válvulas, tubulações, manômetros, mangueiras, etc.) encontram-se em bom estado de conservação.
Sinal de Alerta
O engenheiro civil e de segurança do trabalho Renato Nunes Seara recomenda que síndicos e zeladores fiquem atentos ao consumo do edifício. Aumento excessivo pode ser indício de vazamento. Especialmente nas garagens, cheiro de gás é sinal de alerta, mas nem sempre provém da rede; pode provir de veículo alimentado por GNV (Gás Nacional Veicular).
Nas baterias de cilindros de GLP, Renato lembra que o abrigo deve estar protegido da chuva e aterrado para evitar risco de raios. Deve-se verificar ainda se há infiltrações no local. “Aconselho também que o síndico veja o estado dos cilindros de gás, que são de ferro e podem corroer na base. As empresas de abastecimento têm por hábito trocá-los periodicamente, mas vale prestar atenção”.
Para os moradores, Renato orienta fechar o registro de gás da unidade antes de viagens. “Nem sempre há um registro geral de gás na entrada do apartamento. O ideal é tê-lo próximo do fogão e/ou do aquecedor. Se não houver, é indicado instalar para poder fechar quando necessário”, diz. Periodicamente, é importante revisar aquecedores de passagem e substituir a mangueira do fogão.
Shafts Ventilados
Outros problemas podem ser originados por falhas construtivas do edifício. Renato lembra de um caso em que a tubulação de gás havia sido instalada em shafts, em desacordo com a regulamentação da Comgás e instruções do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo. O engenheiro explica que as tubulações de gás podem estar localizadas em dutos sem compartimentação vertical destinados a outras infraestruturas do prédio, mas salienta que os shafts devem ser ventilados, providos de abertura nas suas extremidades inferior e superior.
Ele especifica que a abertura superior deve estar voltada para o exterior da edificação e os shafts não podem possuir aberturas intermediárias para os andares. “A tubulação embutida deve manter afastamentos mínimos de instalações elétricas ou hidráulicas”.
Vazamentos constantes obrigaram a construtora do caso mencionado a inutilizar as tubulações antigas embutidas e construir novas prumadas externas, na fachada da edificação. “Havendo a possibilidade, em prédios que estão passando por reforma de suas instalações, recomendo fazer a rede de forma externa, na fachada. É importante individualizar as medições por unidade, o que facilita também na localização de vazamentos”, arremata.
Matéria publicada na edição – 280 – jul/2022 da Revista Direcional Condomínios
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