Para causar boa impressão, a edificação não precisa ser novinha, mas bem cuidada e, de preferência, alinhada às demandas contemporâneas – como a questão da sustentabilidade, que pode marcar presença desde a criação de ponto para abastecer carros elétricos à composteira, passando pela recuperação de peças antigas do jardim.
O paisagismo do condomínio ganhou vida nova com o chorume de ‘produção local’
Quem chega ao Greenland, na Saúde, zona sul de São Paulo, é recebido pela natureza em flor, fruto e hortaliça. O verde faz jus ao nome do condomínio de uma torre com 52 apartamentos, marcando presença no jardim central, de inverno e nos canteiros. “Na venda de um apartamento, o paisagismo do condomínio é um dos pontos que conta a favor”, atesta o síndico orgânico Gerson Angelo da Silva, ex-corretor de imóveis. Apaixonado pelas plantas por influência materna, ele iniciou um processo de resgate da vegetação local ao assumir a sindicância há sete anos. Mas a colheita dos resultados veio para valer a partir de 2021, após a instalação de duas composteiras.
Ele relata que o chorume gerado pelos minhocários deu nova vida às plantas, cuidadas por uma empresa do ramo e pelo zelador. “Sem falar na economia absurda em fertilizantes”, acrescenta. Com fartura do produto orgânico, os moradores podem usá-lo em suas plantas ou distribuir aos amigos e familiares. “Esse líquido é forte, não pode ser usado puro, tem de ser diluído em água”, avisa o síndico. Um processo interessante é a prática de escambo com o condomínio vizinho. Este, rico em plantas, troca mudinhas por litros de chorume. Para que as composteiras não exalem odor desagradável, Gerson explica que o lixo orgânico não pode conter resíduos de alho nem de frutas cítricas. Já contra os mosquitinhos, a dica é instalar lâmpadas do tipo repelente nas proximidades dos minhocários. “Temos duas; funciona”, atesta.
Zelo que se destaca
No Conjunto Residencial Jardim da Cantareira, o tom clarinho de bancos vintage de granilite contrasta com o verde dos arbustos e o tom vivo da florada de azaleias, numa bonita composição que salta aos olhos de visitantes do condomínio da zona norte, transmitindo a sensação de zelo e asseio. São dez bancos no grande jardim central, este com acesso às quatro torres de 120 apartamentos ao todo. A síndica Neusa da Silva Combertino Ieffa, em seu primeiro mandato, conta que preferiu reformar os bancos a trocá-los por versões modernas porque é adepta de ações sustentáveis, além de querer preservar traços originais da edificação construída nos anos 1980. “Os bancos nunca haviam sido reformados, estavam com aspecto encardido, e havia aspereza; alguns moradores sentavam-se sobre uma toalha”.
Feita por uma empresa especializada, a restauração levou quase um mês e levantou muita poeira. “Teve quem reclamou, teve quem me questionou sobre não ter comprado bancos novos, mas depois da reforma, percebi moradores contentes, impactados com a renovação”, comenta a síndica, acrescentando que esses assentos se tornaram mais procurados por idosos em busca de sol, e pelos jovenzinhos que recebem amigos nos finais de semana. Neusa também reaproveitou recentemente grandes vasos de cimento, peças que há 25 anos ornamentam o condomínio. “Pintamos os vasos, mudamos a espécie das plantas, e replantamos as antigas em outro lugar. Desperdício zero”, brinca a gestora.
Mobilidade elétrica
Outra vertente sustentável que faz um condomínio se destacar na atualidade é a disponibilidade de abastecimento de carros elétricos, que não emitem CO2. José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) conta que se constata um aumento de demanda dos próprios condôminos em ter o ponto de carregamento elétrico, isto porque estão cada vez mais adquirindo carros com esse perfil, o que instiga os condomínios na busca de soluções.
Vale dizer que 100 mil eletrificados circulam no Brasil, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e até 2030 a frota nacional deve alcançar 2 milhões, como prevê a consultoria BCG (Boston Consulting Group). Nos condomínios que se movimentam frente a esse cenário da mobilidade urbana, há que se criar uma opção igualitária de abastecimento que contemple a todos em edificações antigas ou naquelas mais novas, porém sem tomadas em todas as vagas. “Tem de levar o assunto em assembleia e elaborar regras pensando no futuro, não no presente com um ou dois carros na garagem, senão logo ficarão obsoletas. É importante lembrar que não pode haver privilégio para os proprietários que aderiram aos eletrificados primeiro. O direito de abastecer é comum a todos”, orienta Graiche.
Na cidade de São Paulo, a Lei 01-00346/ 2017, em vigor desde março de 2021, regulamenta condomínios novos ou em construção sobre a necessidade de ter vagas ou pontos de carregamento para as baterias de carros elétricos, mas a normatização é opcional para os prédios anteriores ao decreto. No entanto, para a arquiteta Geórgia Ellen Zorzella Gadea, o condomínio que implantar as ‘vagas verdes’, como ela bem as define, além de contribuir com práticas mais sustentáveis, também vai atrair um público que busca soluções inovadoras, que se refletem na qualidade de vida e na valorização dos imóveis.
Georgia ressalva que implantar esse novo serviço não se trata de colocar uma simples tomada de energia em vagas já existentes. “Será preciso fazer um estudo de dimensionamento e planejamento, contratando um engenheiro especializado em retrofit elétrico para realizar estudos de carga e dar o suporte necessário ao síndico”. O tipo de carregador veicular mais viável atualmente aos condomínios são os modelos Wallbox, que requerem uma instalação simplificada, “como um ponto de energia monofásico de 220 V com um consumo médio próximo a 1.500 watts, similar ao de um ferro elétrico ligado”, diz a arquiteta. “Só que um ferro elétrico ligado por 12 horas. Generalizando, esse equipamento demora em média de oito a 12 horas para carregar 100% a bateria de um carro”, esclarece.
Ela explica que todo o aparato deverá ser derivado do quadro geral de distribuição elétrica do condomínio, aumentando-se a demanda de energia destinada às áreas comuns e nunca à unidade para não gerar exclusividade de usuário e também para não sobrecarregar a demanda do apartamento, evitando acidentes e incêndios causados pela sobrecarga. “O engenheiro elétrico é peça-chave nesse processo, pois irá fornecer todas as diretrizes para a adequação do quadro geral e a infraestrutura necessária para levar a energia até os postos de recarga”, enfatiza Geórgia.
Matéria publicada na edição – 282 – set/2022 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.