Elétrica: há perigo nas sobrecargas

Demandas atuais que vão do aumento no número de aparelhos de ar-condicionado ao abastecimento de carros elétricos, passando por instalações de minimercados, exigem atenção do síndico em relação às instalações elétricas do condomínio.

Engenheiro eletricista Kleber Nogueira da Cruz

A vida moderna não dá trégua aos condomínios: alteração climática e facilidade de aquisição faz disparar o consumo de aparelhos de ar- condicionado; veículos elétricos chegam às garagens; e minimercados com freezer e refrigeradores são tendência, não podendo ser alocados de qualquer jeito. É preciso uma infraestrutura elétrica para atender demandas sem sobressaltos e acidentes. “Apesar de invisível, a eletricidade não pode ser esquecida nem preterida por obras secundárias, porém com mais visibilidade”, alerta o engenheiro eletricista Kleber Nogueira da Cruz, que transita há mais de 20 anos em condomínios, convocado para laudos, projetos ou reformas completas. A seguir, o especialista discorre sobre as necessidades do segmento.

Direcional Condomínios – Atualmente, para quais serviços um engenheiro eletricista é mais requisitado pelos síndicos?

Kleber Nogueira da Cruz – Para elaboração de laudos de instalações elétricas e de para-raios. O laudo demonstra deficiências do condomínio e itens necessários para regularização a fim de que, posteriormente, se possa executar as adequações necessárias, dentro das normas da ABNT, e emitir atestados que podem ser usados na renovação de seguros e AVCB. Outra demanda é elaboração de projeto e reforma de centro de medição junto à concessionária de energia para aumento da carga para as unidades, e da troca das prumadas elétricas. Hoje, também existe alta demanda de estudos de carga para a instalação de aparelhos de ar-condicionado nas unidades e de tomadas de carregadores de veículos elétricos nas garagens.

A parte elétrica costuma ser negligenciada em condomínios?

A eletricidade é praticamente invisível em um condomínio. Infelizmente, vejo síndicos que só querem saber se tem energia ou não, e praticamente abandonam a parte elétrica para focar em benfeitorias estéticas, de maior visibilidade. O ideal é fazer uma inspeção especializada a cada ano, e também procurar ter condições de atender a carga de equipamentos novos que os moradores anseiem adquirir. O síndico vigente é responsável civil e criminalmente por todas as instalações elétricas das áreas comuns, centro de medição e prumadas elétricas. Abandonar a manutenção destes itens é jogar contra o patrimônio e contra si mesmo.

Moradores cometem erros para elevar a carga elétrica de seu apartamento?

Isto é o que mais percebo em vistorias de condomínios. Quando a carga disponibilizada para a unidade não é mais suficiente os moradores sempre optam por trocar a prumada elétrica de maneira independente e também aumentar a corrente de desarme do disjuntor do centro de medição. Esta situação é a mais perigosa para o condomínio pelo seguinte: o que determina a quantidade de carga disponível para a unidade é o cabeamento que passa pelo medidor, ou seja, trocar apenas os cabos da prumada não trará nenhum ganho à unidade nesse sentido. Pelo fato da quantidade de carga disponível para a unidade ser determinada por esse cabeamento, já existe um limite estalecido para o disjuntor empregado nessa instalação. Elevar a corrente de desarme do disjuntor poderá provocar um incêndio dentro da caixa de medição de energia, pois o aparelho perderá sua função de proteção porque não vai ‘enxergar’ a sobrecarga passando por si, afinal essa capacidade foi adulterada pelo morador.

Adquirir um aparelho de ar-condicionado é mais fácil do que no passado. Qual o impacto da instalação nas unidades?

O problema não está na pura e simples instalação do aparelho. É normal me questionarem se podem substituir a carga destinada a um chuveiro elétrico pela máquina de ar. A resposta é não. Ao fazer a instalação em uma unidade, pode ser que a carga disponível suporte, passando uma falsa sensação de segurança. Como o equipamento tende a ficar ligado por horas, faz com que a somatória de máquinas em vários apartamentos, ligadas ao mesmo tempo, sobrecarregue a entrada de energia do condomínio. Isso acaba gerando aquecimento nos condutores, o que pode levar a incêndios, ou ao acréscimo de corrente elétrica, podendo queimar fusíveis da caixa de entrada de energia elétrica e deixar todo o condomínio sem energia. É importante que o condomínio saiba qual a carga de ar-condicionado que pode ser utilizada pelas unidades. Nos condomínios novos esse item vem descrito no manual do proprietário, mas nos demais será preciso fazer um estudo de cargas. Caso não haja a mínima condição de instalação, deverá ser elaborado um projeto de reforma do centro de medição e troca das prumadas.

Muitos condomínios adotaram minimercados. O que é preciso observar em termos de elétrica antes da destinação de um espaço para esse fim?

Toda modificação em área comum deve vir acompanhada de estudo, projeto e execução com fornecimento de ART junto ao CREA. Deve ser tipificado qual a potência dos equipamentos a serem utilizados e executar uma instalação elétrica totalmente independente para o mercado, pois ele é um novo consumidor. Normalmente tem sido instalado um medidor de energia exclusivo para que a própria loja de conveniência seja responsável pelo pagamento de seu consumo.

O que você tem visto nas soluções para abastecimento de veículos elétricos nos condomínios?

Em geral, o condomínio não comporta que cada morador possua seu ponto específico, necessitando, portanto, de modernização elétrica. Carregadores de veículos possuem potência variável, em média, de 6 a 22 kW. A potência disponível para um apartamento varia hoje, em média, de 11 a 17 kW. Podemos dizer que é quase impossível a instalação individual sem a necessidade de acréscimo de carga. Vejo alguns condomínios disponibilizando carregadores alugados e pagos pelo usuário no momento do carregamento, mas é um paliativo. Tenho visto, ainda, ligações pontuais de tomadas até em quadros de bomba d´água, o que é completamente proibido. Outra situação é ligarem o carregador individual para o morador em qualquer quadro de força e luz de garagem, o que é proibido, sobrecarrega o quadro, e também faz com que a cobrança caia na conta das áreas comuns, paga por todos.


Matéria publicada na edição 286 fevereiro/2023 da Revista Direcional Condomínios

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