Elevadores: prevenção de acidentes requer plano de manutenção e uso consciente

Nos últimos meses, acidentes com elevadores em grandes capitais têm ganhado os noticiários: em junho, ocorreu a queda de um elevador em prédio público de Belo Horizonte, com 22 passageiros; em julho, houve três acidentes em menos de 24 horas no Rio de Janeiro, um deles, em condomínio residencial de Copacabana, vitimando um técnico de manutenção; e, por último, no começo de agosto, um elevador despencou em condomínio residencial de Higienópolis, bairro nobre paulistano, provocando fraturas nas três pessoas que estavam a bordo.  São notícias que impactam, contundo, o elevador ainda é considerado o meio de transporte mais seguro e utilizado do mundo – haja vista que na cidade de São Paulo existem mais de 99 mil equipamentos registrados em atividade, e felizmente intercorrências como a do mês passado são raras.  O que, vale destacar, não diminui o sinal de alerta emitido com as notícias recentes sobre os acidentes. Ao contrário, o intensifica. “O elevador é um meio de transporte seguro, desde que os critérios de manutenção do PMA (Plano de Manutenção Anual) sejam seguidos e atualizados, garantindo a conformidade com as normas de segurança mais modernas”, ressalva Marcelo Braga, presidente da ABEEL (Associação Brasileira das Empresas de Elevadores), em comunicado no site da entidade, a despeito do caso de Higienópolis.

“É essencial investir num acolchoado de elevador para que o interior da cabina não sofra danos no transporte de mudanças ou material de obras. A capa sintética é mais simples, enquanto a de nylon, com gramatura 600, é mais durável, difícil de rasgar.”

(Sergio Rodrigues, gestor de marketing, Prédio New)

Fato é que elevadores requerem cuidados irrestritos, e uso e manuseio consciente do equipamento para não pôr em risco a vida dos passageiros.  Especialista em elevadores, o engenheiro mecânico Edson Parmejano de Carvalho, consultor independente (e docente em cursos de formação de síndicos), e a engenheira mecânica Jaqueline Alves Gomes, especialista em freio de segurança, limitador de velocidade e circuito para elevadores, trazem a seguir informações para tornar seguros esses equipamentos que são indispensáveis à imensa maioria dos condomínios verticais.

 

Direcional Condomínios – Como os síndicos podem contribuir para evitar acidentes com elevadores?

Edson Parmejano de Carvalho – Os síndicos têm um papel fundamental na segurança dos elevadores. Para prevenir acidentes, é crucial garantir a realização de manutenções preventivas regulares, seguindo as normas técnicas estabelecidas. Além disso, é essencial contratar empresas de manutenção certificadas, que estejam

em conformidade com as regulamentações da ABNT e possuam o CNAE adequado para a atividade. É igualmente importante que a empresa tenha um engenheiro responsável, que assuma juridicamente a responsabilidade técnica pelos serviços. Os síndicos também devem assegurar que as empresas contratadas atendam às leis pertinentes à sua região.  Em São Paulo, a lei 10348 exige procedimentos claros de limpeza e segurança nos elevadores. Cumprir essa lei é essencial para garantir a segurança e o bom funcionamento dos equipamentos.  

” O RIA é um importante documento, que atesta as condições de operação dos elevadores e deve ser emitido pela empresa de conservação contratada do condomínio.”

(Leandro Ferreira, diretor comercial, Grupo OrionLift Elevadores)

DC – O que observar na contratação de uma consultoria independente?

Parmejano – Os síndicos podem contar com o apoio de consultores especializados para avaliação técnica do estado dos elevadores, que prestam assessoria, não trabalham com venda de peças. No entanto, assim como as empresas de manutenção, as de consultoria devem seguir critérios e normas vigentes, sendo obrigatório ter um engenheiro mecânico responsável para garantir a conformidade com as exigências técnicas e legais.

DC – Qual a importância do Relatório de Inspeção Anual (RIA) na segurança dos elevadores?

Jaqueline Alves Gomes – O RIA é um documento fundamental que atesta que o elevador passou por uma inspeção técnica completa, estando em conformidade com todas as normas de segurança. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, é obrigatório por lei, mas por si só, esse documento não garante que o elevador esteja 100% seguro. Isso porque existe um conflito de interesses:

a mesma empresa responsável pela manutenção é quem emite o RIA.  No mercado, há conservadoras que trabalham seriamente, mas se o síndico suspeitar que possa não ser esse o caso, que existam dados inverídicos no relatório ou, até mesmo, se sentir pressionado a investir em peças e serviços, é válido contratar um auditor ou inspetor para garantir que as decisões tomadas sejam as melhores para a segurança e o orçamento do condomínio.

DC – O comportamento dos habitantes de um condomínio pode causar falhas no elevador a ponto de colocá-los em perigo?

Parmejano – Sim, pode impactar diretamente a segurança e o funcionamento dos elevadores. Ações como entrar no elevador com roupas molhadas, crianças pulando dentro da cabine, ou exceder o limite de peso recomendado podem causar falhas graves no equipamento. Essas práticas podem sobrecarregar o sistema, danificar componentes importantes e até mesmo resultar em paradas súbitas do elevador, colocando todos os ocupantes em risco. Além disso, comportamentos inadequados, como forçar as portas do elevador ou prender objetos para mantê-las abertas podem contribuir para avarias e até acidentes graves.

Síndicos e gerentes prediais devem sempre direcionar atenções para o sistema de segurança dos elevadores para garantir a integridade dos seus usuários.”

(Leandro Ferreira, diretor comercial, Grupo OrionLift Elevadores)

DC – Quais são as dicas para que o equipamento seja utilizado de forma consciente?

Jaqueline – Algumas dicas são:

1) respeitar o limite de peso indicado na placa do elevador, considerando-se também que, se a pessoa estiver carregando objetos pesados, será preciso fazer várias viagens;

2) esperar que o elevador pare completamente antes de entrar ou sair, pois agir assim com ele em movimento pode ser perigoso;

3) evitar movimentos bruscos, isto porque, pular ou se movimentar bruscamente dentro da cabine, pode desestabilizar o elevador e danificar seus componentes;

4) não forçar as portas do elevador, que foram projetadas para abrir e fechar automaticamente;

5) procurar não entrar no elevador com roupas ou objetos molhados, especialmente após a piscina ou em dias de chuva, pois a água pode escorrer para os componentes elétricos, aumentando o risco de curto-circuito;

6) ensinar as crianças a usarem o equipamento de forma adequada, lembrando que as menores de dez anos devem estar acompanhadas por um responsável durante todo o trajeto.

 

DC – Como o morador deve agir em caso de emergência?

Parmejano – Antes de mais nada, é preciso manter a calma. Se o elevador parar entre andares, o passageiro deve utilizar o interfone ou o botão de alarme para pedir ajuda, e jamais tentar sair por conta própria devido ao alto risco de acidente. Por isso, é fundamental que os moradores sejam orientados a utilizar o elevador de forma responsável e segura. O síndico pode desempenhar um papel importante nesse processo, promovendo campanhas de conscientização e deixando claras as regras de uso seguro do elevador. A educação e o respeito às normas de uso são essenciais para garantir a segurança de todos no condomínio e evitar problemas que poderiam ser facilmente prevenidos.

“Manutenções periódicas e preventivas no elevador são fundamentais. A verificação e substituição de peças desgastadas, aferições no sistema de freios, identificação de falhas no sistema eletrônico por exemplo, devem ser realizadas por empresas especializadas e certificadas.”

(Rogerio Meneguello, diretor, Primac Elevadores)

 

Manutenção não pode ser negligenciada

O síndico profissional Luiz Leitão da Cunha, há mais de dez anos na sindicatura, conta que sempre deu plena atenção à manutenção dos elevadores em condomínios de sua carteira. “Se um dia, algum condomínio não dispuser de verba para substituição de peças, por exemplo, eu prefiro interditar o elevador a deixar que opere sem estar 100%.

Manutenção não pode ser negligenciada. Se acontecer um acidente, a responsabilidade é do síndico, sem falar que estamos lidando com vidas”, diz Luiz, que administra principalmente condomínios 50+ nos Jardins, em Pinheiros e Vila Mariana.

Outra frente de atuação a favor da segurança dos moradores de edifícios é não permitir que o zelador abra a porta do elevador para resgatar passageiros presos.  “O resgate só pode ser feito pela empresa de manutenção ou pelo Corpo de Bombeiros. Deixo isso muito claro às equipes dos prédios”. Ele também é enfático quanto ao uso do elevador por crianças com menos de dez anos, sem supervisão de adultos. “Além de ser proibido por lei, criança não tem como se virar sozinha em uma situação de parada”, argumenta. Até para adultos não é nada agradável ficar preso em elevador, constata o síndico, ele próprio, claustrofóbico. Vistoria semanal em câmeras e interfones de cabines é, para ele, prática sagrada. “Se você fica preso no elevador, precisa falar com alguém, e ser visto pela câmera. Essa comunicação não pode falhar, serve tanto para que seja providenciado o resgate quanto para acalmar o passageiro”.

“Manter a segurança do elevador em dia envolve uma combinação de manutenção preventiva, inspeções regulares e boas práticas de uso. Além das atualizações tecnológicas e modernização de sistemas.”

(Rogerio Meneguello, diretor, Primac Elevadores)

Matéria publicada na edição-304-set-24 da Revista Direcional Condomínios

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