Reformar o estacionamento do edifício promove mais conforto e segurança aos condôminos, além de agregar valor ao patrimônio.
Espaço em que trafegam veículos e moradores todos os dias, a garagem não pode ser negligenciada. Deve ser um ambiente seguro, funcional e harmônico. Se não for assim, é preciso partir para a reforma. A iniciativa pede cuidados, demanda custos, mas elimina riscos futuros – como a queda de morador em um piso danificado, por exemplo. Sem contar que torna o endereço mais atrativo no ranking imobiliário.
Para Silvia Helena Guarnieri, melhorias servem como desempate na comercialização de imóveis. “Se você encontra dois apartamentos ótimos, mas em um deles a vaga do carro fica em uma garagem horrorosa e, no outro, em uma área reformada e bem iluminada, qual deles vai comprar?”, indaga a síndica do Vera Regina, prédio de 19 andares e nove unidades em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Ela se orgulha da garagem plenamente reformada. “Considerando-se que o prédio tem mais de 50 anos, não se imagina que tenha uma garagem tão moderna”.
A revitalização envolveu mudanças no piso, pintura de paredes e das demarcações, instalação de novas cantoneiras e barras protetoras de veículos e a criação de um espaço para bicicletas. “Temos apenas oito, mas antes elas ficavam encostadas nos pilares, podendo danificar os carros. Ao agrupá-las em um espaço próprio, você está cuidando também da segurança dos carros, e passa a noção de organização, que é algo que se busca quando se mora em conjunto”.
Claridade extra
Apesar de antigo, Silvia conta que o edifício em que reside recebe cuidados constantes, tanto assim que o sistema de iluminação do estacionamento já contava com upgrade. “Mas essa melhoria passava despercebida antes da obra porque a garagem era bem escura”. Um dos objetivos da reforma foi justamente clarear o chão de concreto para trazer mais luminosidade ao subsolo de 570 metros quadrados, com quase 40 vagas para carros.
Outro objetivo foi melhorar a aparência do piso em si. Este se encontrava manchado com óleo dos veículos, continha imperfeições e ficava bem distante de transmitir a ideia de asseio, por mais que se limpasse. As grelhas desgastadas pela ação do tempo contribuíam com seu aspecto desagradável. Para recuperar e até aprimorar o local, o condomínio investiu R$ 47.667,00.
Na seleção de fornecedores para a obra, Silvia priorizou quem trazia no portfólio clientes com perfil semelhante ao de seu pequeno prédio. “Não adianta terem reformado grandes prédios, shoppings ou hospitais de ponta. Tem de haver adequação. Quando você tem uma empresa com clientes de porte semelhante ao seu, você tem mais chances de receber um melhor atendimento”.
A obra aconteceu em setembro de 2021 e levou 10 dias, período no qual os carros dos condôminos foram alocados em um estacionamento próximo, pago com dinheiro do próprio condomínio. O fato de não ter chovido impactou positivamente, segundo Silvia, na secagem do serviço e na comodidade dos moradores, que não se molharam no deslocamento entre o prédio e a garagem provisória. “Quem puder esperar, deixe para reformar a garagem em períodos de estiagem”, orienta.
No prédio de Perdizes, o solo do estacionamento recebeu revestimento epóxi, ganhando acabamento com brilho, impermeabilidade contra manchas de óleos e mais facilidade para limpeza, segundo a síndica. Nas vagas de veículos, optou-se por um tom mais claro para conferir luminosidade, e também destacar as demarcações de faixas e números. Por onde circulam os carros, optou-se por um cinza mais fechado. E o azul delimitou a área de pedestres.
Para quem pretende investir em pavimentação similar, lembre-se que o epóxi pode ser trabalhado não apenas em garagens de condomínios que possuem chão de concreto convencional. É indicado também para piso revestido por granilite – acabamento ainda presente em algumas construções mais antigas – e piso cerâmico, mas desde que este esteja bem assentado.
Área para bikes
No Residencial Duo, condomínio com duas torres e 223 unidades localizado no Jardim Íris, zona norte da cidade, foi preciso uma espécie de ‘recorte de obra’ para atender demanda da atualidade. Isso porque o empreendimento não previu um bicicletário na garagem descoberta, nem na subterrânea. “Se ainda fosse um condomínio da década de 1980, tudo bem, mas é de 2013, então a construtora falhou ao não pensar em temas como mobilidade urbana e sustentabilidade”, comenta o síndico Sérgio Ortega Giovanoni.
Cobrado pelos moradores, entre os quais pessoas interessadas em comprar uma bike para ir pedalando ao trabalho, Sérgio notou que a garagem não poderia mais ficar como fora originalmente planejada. “Eu era cobrado também por quem já possuía bicicleta, mas precisava guardar dentro do apartamento. Se autorizássemos a deixar nas vagas de carro, abriríamos um precedente. Tem de haver regras, senão um dia o morador põe uma bicicleta, no outro, uma geladeira, e assim por diante”.
Sérgio levou a questão à frente e conseguiu aprovação condominial para transformar espaços sem uso em dois bicicletários no estacionamento do subsolo. “Mesmo se o lugar não estiver sendo usado, um síndico não pode fazer nada por conta própria”.
Construídos em aço para suportar com segurança o peso das bicicletas, os dois modelos são de armazenagem suspensa, forma que comporta mais bicicletas. Juntos, têm capacidade para 54 delas, e dessas vagas 34 já estão ocupadas.
Uma dica de Sérgio é optar por tamanhos de altura diferentes nos ganchos porque evita o encontro de guidões e, ainda, favorece os moradores de menor estatura no momento de retirar e de guardar a sua bicicleta. Mais uma dica: ainda que se tenha espaço para construir um bicicletário com parede, prefira ficar com as divisórias em estilo telado, que permitem visibilidade. “Essa opção nos favoreceu continuar o monitoramento por imagens sem ter de mudar o nosso sistema de câmeras. Em caso de sinistro, consigo localizar o responsável por meio da filmagem”.
Como o caminho de um dos bicicletários do Residencial Duo fica próximo às vagas dos carros, criou-se uma demarcação no piso, com faixas listradas pintadas com tinta amarela específica. Assim os condôminos podem passar com suas bikes sem danificar os automóveis, e, em contrapartida, condutores de carros precisam estacionar de modo que não impeça a entrada e saída das magrelas.
Mudanças seguras
Engenheira civil e síndica profissional há 23 anos, Ana Josefa Severino dá algumas dicas para reformar a garagem dentro da legalidade e sem trazer risco à edificação. Para serviços mais simples, como pintura das paredes ou mudança para o revestimento de piso em epóxi, não se exige laudo ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que é emitido por engenheiros. Já mudanças estruturais – casos que envolvem vigas e pilares – requerem essa documentação. O mesmo vale para modernização da parte elétrica e quebra de pisos. “É preciso saber onde quebrar o piso para não atingir a tubulação do gás”.
Uma vez que o condomínio se propõe a reformar a garagem, Ana sugere antes resolver problemas que possam comprometer o bom resultado de uma reforma, como infiltrações, trincas e rachaduras. Outra ideia é alterar o sistema de iluminação. “Há prédios antigos que ainda possuem lâmpadas tubulares com reatores. Sugiro a troca para as de LED, tubulares ou de bulbo. Um engenheiro poderá orientar se ainda são necessários muitos pontos de luz como na época em que as lâmpadas eram menos potentes”.
Na parte da pintura, a engenheira propõe verificar a condição das tubulações, elementos à mostra na maior parte dos tetos de garagens condominiais. As cores da pintura não são aleatórias. “A tubulação de água limpa é verde, a roxa é de água de reuso, a amarela é de gás e a do esgoto é preta”, diz a engenheira, reforçando que esse parâmetro ajuda a identificar vazamentos com mais precisão.
Matéria publicada na edição – 276 – mar/2022 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.