Higienópolis: Tradição e modernidade

Bairro completo, reduto da colônia judaica, é repleto de amplos edifícios antigos.

Higienópolis é um bairro clássico: não sai de moda. Suas ruas arborizadas, as praças e edifícios sólidos formam um conjunto harmonioso. Tradicional, Higienópolis reúne paulistas quatrocentões, herdeiros dos barões do café, artistas e políticos, além da grande maioria da colônia judaica de São Paulo. São ilustres moradores do bairro Jô Soares, Adriane Galisteu, Marília Pêra, Tom Cavalcanti e Fernando Henrique Cardoso. As ruas, além dos nomes de estados brasileiros, também têm ares aristocráticos, caso de Albuquerque Lins e Veridiana Prado. 

A história está presente nos nomes das ruas e também na arquitetura dos edifícios. O primeiro prédio do bairro surgiu nos anos 1940, na Rua Piauí, esquina com a Avenida Angélica, em frente à Praça Buenos Aires. Após os anos 1960, o bairro passou a contar também com prédios comerciais, voltados principalmente para consultórios médicos. Atualmente, o bairro praticamente não dispõe mais de terrenos e está quase todo verticalizado. Os edifícios antigos oferecem apartamentos espaçosos. Malu Mendonça, síndica de um condomínio com 60 anos, pode dispor do conforto de um apartamento com 3,15 metros de pé direito. “Parte do charme do bairro se deve à qualidade dos apartamentos. As construções são sólidas, minimizando, por exemplo, o problema de barulho entre vizinhos”, comenta. Malu acredita também na qualidade dos materiais utilizados nos prédios antigos: “Não trocamos ainda todas as colunas hidráulicas, e os elevadores são originais.” 

É claro que edificações antigas exigem adaptações à vida moderna, além de cuidados constantes. A síndica planeja a criação de uma sala de ginástica, mas diz que não há espaço para playground. O arquiteto Paulo Antonio Maluf, morador do bairro há mais de 35 anos e síndico do prédio onde mora, comenta que, quando assumiu o cargo, há oito anos, o prédio exigia cuidados. Paulo providenciou reformas nas instalações elétrica e hidráulica, adaptou o condomínio às normas de acessibilidade e restaurou as fachadas. Ele comenta que o perfil dos moradores do condomínio está mudando. “Os antigos moradores envelheceram e muitos descendentes venderam suas unidades. Com as melhorias, o prédio se tornou mais atrativo, e nossa vizinhança é composta principalmente por profissionais liberais, artistas e intelectuais”, diz. A renovação tem acontecido também no edifício da síndica Malu: “Éramos um prédio de idosos. Hoje, vêm para cá jovens casais com filhos. Está começando a nascer uma nova geração neste condomínio.”

O Shopping Pátio Higienópolis é o símbolo maior da renovação pela qual passa o bairro. Construído em 1999, o shopping causou polêmica entre os moradores e motivou inclusive movimentos contrários à sua construção. “No início, fui contrária ao shopping. Hoje, me convenço de que ele facilitou nossa rotina”, constata Malu. Para o arquiteto e síndico Paulo, vale observar que a solução arquitetônica encontrada foi muito feliz: “O shopping não causou nenhum impacto urbanístico ou mesmo ambiental na região.” Na opinião de Jaime Markovits, diretor de uma administradora de condomínios que atua há 20 anos em Higienópolis, o shopping valorizou os imóveis em pelo menos 20%. 

Além do shopping, a região reúne restaurantes de chefs renomados, bistrôs, docerias e padarias de encher os olhos, faculdades (Mackenzie e FAAP) e colégios tradicionais. Sinagogas convivem harmoniosamente com igrejas católicas. Jaime comenta que, em muitos edifícios, as áreas comuns recebem símbolos de datas comemoradas pelos judeus. Na festa de Sucot, alguns prédios constroem no térreo uma sucá (espécie de cabana que lembra as tendas que serviram como habitação para o povo judeu durante os 40 anos que passaram no deserto do Sinai, após o Êxodo do Egito). No final do ano, convivem nos halls a árvore de Natal e a menorá, candelabro da festa das luzes. Segundo Jaime, a colônia coreana está seguindo os passos da judaica e deixando o Bom Retiro rumo a Higienópolis. Mas, o bairro está aberto a todos, admite. “Higienópolis é um bairro completo. Morar aqui é um sonho”, define. Problemas, só um: a falta de vagas para todos, já que os prédios são antigos. 


Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios

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