Identificando Sinais de que a saúde elétrica do condomínio não vai bem

É preciso estar atento às pistas de que a saúde elétrica do condomínio não vai bem; manutenções periódicas ou até um novo projeto devem estar no topo das prioridades para manter a segurança de moradores, visitantes e funcionários da edificação.

Síndica Vanessa Vitullo

A síndica Vanessa Vitullo detectou que problemas simultâneos em aparelhos não eram mera coincidência

A síndica profissional Vanessa Vitullo encontrou um grande desafio ao assumir a gestão de um condomínio de classe média alta na zona oeste de São Paulo, composto de quatro torres de 20 andares cada. Na época em que passou a administrá-lo, o condomínio contabilizava seis anos desde a entrega e apresentava uma série de problemas crônicos, especialmente no sistema elétrico – porém, não de maneira tão evidenciada. “Nós crescemos em um mundo com eletricidade, acendendo e apagando luzes e ligando a televisão, tudo de maneira tão natural que nos esquecemos de parar para entender como esse processo acontece, e isso é um alerta para quem lida com condomínios. Nós, síndicos, precisamos ter uma compreensão do todo porque se faltar luz, para tudo!”, comenta. “A eletricidade está para o condomínio como a artéria aorta para o corpo humano, que bombeia o sangue para todo o organismo. Tem de funcionar bem o tempo inteiro”, completa.

Vanessa relata que os problemas do condomínio eram tantos, não só de ordem elétrica, mas estruturais também, que ela, ex-gerente de marketing do setor financeiro, frequentou diversos cursos para entender melhor o cenário encontrado e conseguir se comunicar de forma clara, segura e objetiva com engenheiros, técnicos e manutencistas – o que acabou por agregar conhecimento para outros prédios sob sua administração. “Eu fui me preparando a ponto de me tornar uma pessoa bastante técnica, o que é uma recomendação que dou aos colegas síndicos; evita que sejamos enrolados em determinadas circunstâncias”.

Pois foi no curso de uma grande fabricante de elevadores que Vanessa teve um ‘insight’ sobre a causa de um transtorno recorrente no condomínio: um dos 12 elevadores, virava e mexia, parava de funcionar, muitas vezes com passageiros dentro da cabine, fato que acontecia desde a entrega da construção. “Era sempre o mesmo elevador que parava e a equipe de manutenção não encontrava uma justificativa para aquilo”, conta a síndica. Durante uma das aulas, veio a súbita clareza de que o problema nunca fora o elevador, mas sim o transformador com oscilação elétrica da rua que falhava, ocasionando picos de energia. “Como esse elevador era o primeiro da régua elétrica, ele sofria maior impacto de sobrecarga que os demais”, explica a síndica. “Depois que solicitamos à Enel uma revisão no transformador e no cabeamento para o condomínio e revisão do aterramento, passou a operar normalmente”, fala a síndica.

Perdas e danos

Paralelamente às frequentes interrupções do elevador, existiam outros sinais de que pudesse ter algo errado no fornecimento de energia e nas instalações elétricas do condomínio – situação que viria a ser comprovada após a contratação de uma inspeção executada por um especialista em NR10. “A construtora fez a parte elétrica de modo linear, o jeito mais fácil, porém não o mais adequado para condomínios grandes, com muitos moradores e tantas demandas”, esclarece Vanessa. Entre as consequências de uma instalação inadequada e as oscilações do transformador da companhia elétrica, o condomínio vivia uma situação de instabilidade no uso de energia.

Segundo Vanessa, os moradores sentiam o problema, mas muitos foram convencidos pela zeladoria que oscilações de energia eram normais naquela região. “Morador nenhum liga para o síndico para contar que a batedeira pifou, mas durante uma conversa informal, ele comenta que estava batendo um bolo e deu um curto-circuito na batedeira. E aí, vem o outro, e conta que acabou de receber o televisor novo porque o antigo pifou após um curto. São sinais do que ocorre dentro das unidades, e a gente precisa estar atenta aos papos casuais”, diz Vanessa e emenda: “Temos de ser próximos dos condôminos, conversarmos com eles porque ‘pescamos’ informações que podem estar relacionadas à saúde do condomínio”, orienta. Além dos relatos dos condôminos acerca da perda de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, Vanessa detectou que havia alguma coisa estranha com o funcionamento dos equipamentos do condomínio, mesmo estando com as manutenções em dia. “O filtro da piscina queimava, depois era a bomba de pressurização, tinha sempre algum problema. Fora as quedas constantes de disjuntores, que eram vistas como algo normal pelas gestões anteriores, o zelador ia lá, rearmava e pronto. Entretanto, isso era um sintoma, igual a quando temos uma febre que não passa e o jeito é ir ao médico descobrir a causa. Na elétrica precisamos encontrar a causa e fazer a correção. Sou bastante incisiva quando há riscos, e na eletricidade, quando algo não vai bem, existe risco de choque e incêndio, ambos muito sérios”, pontua.

Após somar os sinais, Vanessa concluiu que os ocorridos no condomínio não eram coincidência, e primeiro contratou uma inspeção por um profissional capacitado e qualificado. Na sequência, veio a execução de novo projeto elétrico. “Foi preciso refazer tudo no condomínio, do redimensionamento do transformador da rua a troca de todas as prumadas elétricas”, diz. “Não é o tipo de projeto fácil de se instalar, mas temos de priorizar o que é mais importante para a segurança dos condôminos”. A reforma elétrica custou cerca de R$ 250 mil para cada torre e consumiu um ano de execução no total, mas resultou em abastecimento de energia pleno e seguro ao condomínio da zona oeste.

Edson Martinho alerta que em condições ruins, a revisão tem de ser imediata

Prevenção de riscos

Eletricidade traz conforto, mas traz perigo quando as instalações elétricas do condomínio são ignoradas. Fios expostos, tomadas chamuscadas ou danificadas, disjuntores que desarmam sem motivo e partes da instalação sem tampa ou isolação são alguns dos indicativos de que é preciso fazer imediatamente a revisão do sistema. Esse procedimento deve ser realizado de acordo com a NBR 5410 e NR 10, e os profissionais qualificados para o trabalho são o engenheiro registrado no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) ou técnico com formação em eletrotécnica e registrado no CRT (Conselho Regional dos Técnicos).

A soma de profissionais capacitados mais investimento na rede elétrica com regularidade resulta na prevenção de acidentes, como observa Edson Martinho, engenheiro eletricista, fundador e diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Em condomínios, zeladores e manutencistas devem ser orientados a comunicar ao síndico situação de choque ou curto-circuito em tomadas, instalações e equipamentos.

Aumento de carga

Se o condomínio necessitar de um redimensionamento elétrico tem de se cercar de uma empresa com experiência comprovada, que cumpra as regras da ABNT e da concessionária de energia. A readequação pode evitar sobrecargas ao condomínio, principalmente em prédios antigos. “Tempos atrás, tínhamos menos eletrodomésticos, hoje as pessoas têm fritadeira elétrica, forninho, micro-ondas, chuveiros mais potentes, e se não houver um dimensionamento correto de energia, o resultado disso é aquecimento, e aquecimento é princípio de incêndio”, declara.

Importante salientar aqui que, pela mesma razão, é real o risco quando moradores instalam ar-condicionado sem avisar ou à revelia do condomínio. “É preciso saber primeiro se a rede do prédio comporta esses aparelhos, e o síndico tem de considerar nesse cálculo a a carga que todas as unidades consumiram; amanhã ou depois começam a instalar ar-condicionado e já imaginou, todos ligando seus aparelhos à noite, ao mesmo tempo? Caso não houver condição, será necessário contratar um estudo de cargas e a respectiva reforma elétrica”, diz Martinho.

O engenheiro assegura que durante o processo de redimensionamento os condôminos ficam pouco tempo sem luz. “Eu fiz uma reforma em um prédio de 96 unidades em Perdizes e montamos um centro de medição provisório. A concessionária efetuou a ligação dos medidores para distribuir a energia por 30 dias, com possibilidade de esticar um mês. Tanto na etapa de ligação provisória quanto na final, a interrupção no fornecimento levou cerca de meia hora”, conta. Sobre o investimento em um serviço similar, Martinho é direto: “É mais barato que uma obra civil. Para garantir a segurança, não tem preço que pague!”


Matéria publicada na edição 288 abr/2023 da Revista Direcional Condomínios

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