NOS ÚLTIMOS cinco anos, mais de 3 mil pessoas perderam a vida devido a choques elétricos, segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2023 – 2024, da Abracopel, lançado este mês. Só dentro de ambientes residenciais, foram mais de mil óbitos. A maioria esmagadora dessas pessoas poderia estar viva, caso houvesse nestes locais a instalação de um simples dispositivo de proteção, o tal do IDR – Interruptor Diferencial Residual, um verdadeiro guardião da segurança.
O choque é a passagem da corrente elétrica pelo corpo e, para acontecer, basta tocar a parte energizada de um fio desencapado, tomada sem tampa ou mesmo de um equipamento que, por alguma falha, energizou a carcaça, como geladeiras, micro-ondas, fornos e máquinas de lavar ou celular, entre outros. Se a corrente fluir pelo coração em uma intensidade maior do que cerca de 30 miliampères há uma grande chance de causar uma fibrilação cardíaca e dessa forma levar à morte.
Para ocorrer essa corrente elétrica tem que haver uma diferença de potencial, que conhecemos como tensão ou voltagem, e quanto maior ela for, maior será a chance de causar danos. Acima de 50 volts estando em área seca, já é possível termos problemas; se a pessoa estiver em área úmida (como chão molhado), esse valor limite se torna 25 volts; e se estiver imerso (piscina ou banheira) o valor cai para 12 volts, portanto é extremamente importante identificar fios e cabos que passam perto de piscina, averiguar se estão seguros, e cuidar que aquela “extensão” ligada para carregar o celular, a caixinha de som, passe longe da água.
“Os riscos de choques elétricos são reais, porém, o manuseio nas instalações feito por profissionais habilitados e com equipamentos de segurança adequados, minimiza acidentes”
(Ademir Ramos Moura, engenheiro eletricista, Triunfo Elétrica)
Voltemos ao tal IDR. Esse dispositivo tem uma função técnica de identificar fuga de corrente. Lembra que falei que o choque é a passagem de corrente elétrica pelo corpo? Pois bem, se ele passa pelo corpo, não passa pelo fio e, portanto, o IDR identifica como uma fuga de corrente e ‘desliga o circuito elétrico’ em alguns milissegundos e garante que esse choque seja eliminado a tempo de não ser danoso. Entretanto, o IDR não desliga somente o choque elétrico, mas também desliga qualquer ‘fuga de corrente’ que aconteça na instalação e, portanto, se a sua instalação tiver problemas, ele irá deixa-la desligada por muito tempo. Por esse motivo é importante que sua instalação esteja adequada e dentro das normas.
O IDR é um dispositivo que parece um disjuntor, normalmente com dois ou quatro polos, mas que tem um botão de acionamento para teste. Esse botão deve ser acionado a cada três meses para verificar seu funcionamento. Se ele desligar tudo, volte a ligar e fique tranquilo. Em mais de 90% dos casos o IDR irá garantir sua segurança, porém, é melhor você garantir que sua instalação elétrica esteja de acordo com as normas para estar seguro. Além disso, compreenda que com ‘eletricidade não se brinca’. Apenas profissionais capacitados e atualizados devem realizar serviços com a eletricidade.
A instalação do IDR em uma residência é obrigatória por norma técnica desde 1997, quando foi publicado a versão da ABNT NBR 5410 – Norma de instalação elétrica em baixa tensão. Porém, estudos mostram que a instalação acontece somente em 21% dos ambientes residenciais, o que demonstra a razão de tantas pessoas morrerem dentro de casa. Mas o IDR não é para ser instalado apenas dentro de casa. Importante reforçar algo mencionado na edição anterior: é crucial ter esse dispositivo em áreas comuns do condomínio, como salões de festa, áreas de piscina, quadras e jardins iluminados, entre outros, para trazer mais segurança aos condôminos e colaboradores.
“Em inspeções periódicas e preventivas, orienta-se que o sistema elétrico a ser inspecionado seja desenergizado e que os funcionários utilizem equipamentos para proteção individual e coletiva, preservando semrpres a vida”
(Elvis Lima, eletrotécnico, Merlini Engenharia)
Matéria publicada na edição 299 abr/24 da Revista Direcional Condomínios
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Autor
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Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).