Incêndio e desabamento de prédio em SP: O que deveríamos aprender com as tragédias

Entre os muitos ensinamentos que deveriam ser extraídos do desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, em SP, um deles mostra que com a engenharia não se brinca!

O Brasil acordou no dia 01/05/2018 com mais uma tragédia acontecendo, desta vez em São Paulo, em um prédio invadido que acabou pegando fogo devido a uma sobrecarga na precária instalação elétrica. As cenas foram tristes e fortes, e após horas ardendo em chamas, o edifício veio abaixo. Vinte e quatro andares, inaugurados em 1968, foram abandonados pelo Estado, em meio a um litígio entre os poderes públicos. E se tornaram a casa de várias pessoas que, sem ter onde morar, encontraram neste prédio a sua salvação. Isto tudo, não antes de “oportunistas” tomarem conta das instalações e dividirem os 24 andares em “cotas” pagas, de acordo com o conforto e privacidade que cada um podia ou queria pagar.

Deixemos as políticas à parte, já que o País vive um desmando assustador. O que devemos tirar desta tragédia e tantas outras que temos visto neste País desde os anos de 1973, com o incêndio no Edifício Andraus e, em seguida, do Joelma? Que a engenharia é a única forma de você garantir a segurança. A afirmação de um secretário do Estado de que o incêndio começou em uma tomada onde estava ligada uma geladeira, um micro-ondas e uma televisão nos leva a pensar no resultado da pesquisa que a ABRACOPEL, em parceria com o Procobre, realizou em 1.100 residências no Brasil: O levantamento mostra o uso de TE´s, benjamins e extensões em praticamente todas as residências. Ou seja, o cenário da sobrecarga está montado.

É fato que a instalação elétrica desta ocupação era altamente precária. Gambiarras puxadas de um semáforo, com fios expostos, eram tragédias anunciadas. Da mesma forma que a tão triste tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), cujos proprietários e responsáveis economizaram em um projeto adequado, o qual deveria ter sido realizado por um Engenheiro para definir os materiais corretos e seguros para o isolamento acústico; ou mesmo as saídas de emergências de forma que pudessem realmente ser usadas para o caso da emergência.

A engenharia é a base para todas as atividades, em tudo há engenharia, desde no desenvolvimento e produção da cadeira que você ocupa, neste momento, até a geração da energia elétrica nas diversas modalidades e os caminhos que ela percorre até garantir que seu computador, tablet ou celular possa permitir a você ler este artigo.

Assim, voltemos à pergunta que fiz no título: “O que devemos aprender com estas tragédias?”. Se avaliarmos os acidentes que ocorreram, vamos verificar que na maioria delas houve negligência em relação à engenharia, na maioria dos casos se deixou de lado a engenharia, por economia, que, diga-se de passagem, é burra. E então se optou por “soluções paliativas”… O caso da Boate Kiss, o desabamento de trechos da ciclovia do Rio de Janeiro, do viaduto de Belo Horizonte, e tantos outros acidentes, sobretudo aqueles com eletricidade, que já relatei várias vezes em artigos anteriores, são sempre pela omissão da engenharia.

Para finalizar, quero deixar claro que quando eu digo Engenharia, não estou dizendo que em todos os casos você precisa contratar um Engenheiro, se bem que deveria. Mas sim, que sempre devem ser levados em conta os cálculos baseados na engenharia para que se tenha SEGURANÇA, economia, qualidade e conforto. Qualquer atividade, na ausência de um projeto, pode levar a uma tragédia. Você não vai ao cardiologista e aceita que ele diga que você precisa operar do coração só de olhar na sua cara…Ele deve fazer exames e, então, com base no resultado decidir o melhor…Por que então para construir uma casa, ou fazer a instalação elétrica, você recorre a um atendente de farmácia? Pense nisto e contrate um profissional habilitado e atualizado para fazer a revisão elétrica da sua casa, antes que seja tarde. Em 2017, tivemos 451 incêndios gerados por sobrecarga ou curto-circuito. Não deixe que sua instalação seja a próxima na estatística.


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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).

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