Incêndio em apartamento mostra o risco com eletricidade

A tragédia recente que culminou na morte de miss pode ter sido iniciada com um curto-circuito na tomada. Esse ponto de conexão também pede revisão periódica. Só em 2022 ocorreram mais de 874 incêndios que se originaram a partir de sobrecarga ou curto-circuito em tomadas elétricas ou aparelhos elétricos que ficam muito tempo ligados.

No dia 25 de março no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, ocorreu mais um incêndio originado por problemas com a eletricidade. Neste triste episódio, uma garota de 26 anos acabou falecendo por não conseguir sair a tempo e tentar se proteger na janela, despencando do 6º andar do prédio. O irmão, que dividia o apartamento com a vítima e sobreviveu ao conseguir deixar o imóvel, informou em reportagens que foi tudo foi muito rápido desde que ele observou o incêndio no sofá da sala e que provavelmente o início se deu devido a um curto-circuito em tomada próxima ao sofá.

Há alguns anos o apartamento da apresentadora Xuxa Meneghel também foi vítima de um incêndio na sala por problemas na instalação elétrica e um pouco mais recente a atriz Paola Oliveira teve sua casa parcialmente incendiada por problemas na instalação elétrica. Apesar destes terem sido acidentes mais comentados, este tipo de incêndio ocorrido por problemas na instalação elétrica é muito maior do que aparenta ser. Os números da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os perigos da Eletricidade) mostram que no ano de 2022 ocorreram mais de 874 incêndios que se originaram a partir de sobrecarga ou curto-circuito em tomadas elétricas, ou mesmo em aparelhos de ar-condicionado ou ventilador que ficam muito tempo ligados.

A sobrecarga se dá de várias formas. Seja pela ligação de equipamentos de alta potência (micro-ondas, fornos elétricos, secadores de cabelo, entre outros) em tomadas que não estejam preparadas para isto. O uso de adaptadores para ligar os plugues com pinos mais grossos em tomadas com furos mais finos, se configura na maior situação de risco, pois é ela que vai aquecer além da instalação e pode iniciar o incêndio. É muito provável que a maioria dos incêndios ocorrem desta forma. Outro problema tem sido com os carregadores e celulares, pois quando não originais existe a possibilidade de aquecerem e explodir, iniciando um incêndio.

Outra preocupação é com os condutores (fios e cabos) e os dispositivos de proteção como disjuntores, DR e DPS. Há uma gama gigante de produtos de má qualidade no mercado, muitos que não conferem a devida proteção, ou seja, os famosos “Piratas”. Os mais perigosos são fios e cabos. Um projeto do SINDICEL (Sindicato da Industria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo), chamado Qualifio (Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos), busca no mercado os condutores suspeitos e realiza ensaios. Publicações na mídia sobre o trabalho desenvolvido pela entidade relatam que mais de 70 % dos fios e cabos vendidos no mercado são de má qualidade.  Felizmente, há como saber se o condutor que você está comprando é de boa qualidade, você pode consultar e confiar nas marcas associadas à Qualifio para que você tenha uma garantia, pois esses associados são ensaiados constantemente.

As instalações elétricas devem ser revisadas a cada cinco ano pelo menos, como um check-up do seu corpo, mas se houver suspeita de algo estranho como cheiro de queimado, sinal de escurecimento de tomadas, ou mesmo fios desencapados, esta manutenção deve ser realizada imediatamente. Essa revisão deve ser efetuada por um (ou mais profissionais) qualificado e capacitado e que esteja atualizado, utilizando as normas técnicas como base para a avaliação. O resultado dessa avaliação deve ser um relatório técnico indicando as situações de risco e quais as providências devem ser tomadas. Imediatamente de posse desse relatório, o responsável pela instalação deve corrigi-la para que esta não ofereça mais risco. A correção também deve ser realizada por profissionais capacitados e de preferência atualizados, pois envolve técnicas que garantem a segurança de todos os usuários.

Para que tragédias como a do Itaim Bibi e tantas outras que acontecem diariamente pelo Brasil não ocorram, você deve seguir as boas práticas com a instalação elétrica citadas neste artigo.

Se tiver dúvidas entre em contato (abracopel@abracopel.org.br) ou leia minhas colunas neste site. Confira também as reportagens sobre eletricidade na revista Direcional Condomínio.

RISCOS REAIS E CRESCENTES

Veja a escala de registros de incêndios em 9 anos no gráfico a seguir:

Tabela de evolução de incêndio por sobrecarga elétrica

Fonte: Anuário Estatístico de Acidente de Origem Elétrica 2023 da Abracopel


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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).

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