Inflação deve pressionar cotas condominiais

Até o final de 2020 as cotas condominiais vinham sendo reajustadas minimamente ou com índices abaixo da inflação. Além disso, muitos condomínios não consideravam aumentar as cotas em 2021. Isso se devia aos reajuste bem baixos dos seus contratos, principalmente da mão de obra (seja própria, seja terceirizada), e das tarifas públicas, controladas, com uma inflação desacelerando. No entanto, o cenário mudou.

A até então controlada situação dos principais custos de um condomínio saiu de cena rapidamente em 2021, com o IGP-M acelerando e passando dos 30%, exigindo renegociação de muitos contratos (principalmente de manutenção), que representam importante item na composição dos custos dos prédios. E, nas últimas semanas, temos sido surpreendidos pelas más notícias sobre as tarifas públicas, especialmente gás, energia elétrica e água. Em São Paulo, a Comgás anunciou para este mês de junho um aumento de 9,8% para o gás canalizado residencial, uma taxa bem acima da inflação.

Mais preocupante ainda é a pressão sobre as tarifas da energia elétrica, pois os grandes reservatórios de água do Brasil estão abaixo dos níveis esperados para essa época do ano. Isso gera duas preocupações:

– Aumento da tarifa (já estamos com “bandeira” vermelha) com viés de alta em quase todo o País, pois usinas termoelétricas (mais caras na geração de energia) precisam ser acionadas para suprir a insuficiência das hidroelétricas;

– Possibilidade de escassez ou risco de falta de abastecimento contínuo (blecaute).

Mais preocupante que os riscos no abastecimento de energia elétrica é a perspectiva de desabastecimento de água. Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp (empresa que abastece quase que a totalidade do Estado) já iniciou campanhas junto aos consumidores para a economia de água. Os reservatórios que abastecem a Região Metropolitana da Capital Paulista estão abaixo dos níveis considerados confortáveis para essa época do ano. Isso pode gerar aumento de tarifas e problemas de abastecimento (rodízio no fornecimento de água).
Esses cenários indicam aumento expressivo das tarifas públicas, comprometendo as previsões orçamentárias para 2021. Além disso, a inflação está em alta, mesmo que temporariamente, conforme alguns especialistas.

O que podemos fazer?

A curtíssimo prazo, economizar gás, energia elétrica e água, tanto nas áreas comuns, quanto em cada unidade do condomínio. Muitas ferramentas usadas durante a crise hídrica de 2014/2015 devem ser desengavetadas e usadas novamente, até porque os ensinamentos da época não foram mantidos. A economia de água gerada na época do racionamento, em trono de 30% nos condomínios, foi rapidamente anulada nos 12 meses após o racionamento. A economia não foi perene nem duradoura – nada aprendemos com a crise. Proponho reduzir o consumo desses 3 recursos na mesma proporção inversa dos aumentos das tarifas, para zerar o impacto inflacionário. Exemplo: Se, como em São Paulo, o gás aumentou 9,8%, a economia em m³ consumido de gás deve ser a mesma, 9,8%. É desafiador, e o que não for possível, deve ser contabilizado e considerado já na próxima previsão orçamentária.

Previsão orçamentária realista

As próximas previsões orçamentárias, para 2021/2022, devem ser muito realistas, prevendo aumentos bem acima da inflação, especialmente para esses três recursos.

Vale lembrar que a inflação de 2021 está com tendência de alta, mesmo em patamares ainda controláveis, e deverá ser maior que a de 2020. Isso se refletirá nos dissídios da mão de obra própria já em outubro/novembro e na terceirizada, em janeiro próximo.

Com um orçamento realista reduz-se o risco de a conta ordinária se tornar rapidamente insuficiente para bancar todas as despesas. Minimiza-se também um eventual rateio extra para suplementar a conta ordinária por falta de cuidado com as despesas, notoriamente as tarifas públicas. E se evidencia que uma boa administração financeira não significa necessariamente manter os ajustes condominiais abaixo da inflação, mas, principalmente, equilibrados, independentemente da pressão inflacionária.


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Autor

  • Wolfram Werther

    Síndico e consultor condominial, Wolfram Werther é administrador de empresas. Com formação em sindicatura profissional, atua há mais de 10 anos na cidade de São Paulo, em condomínios residenciais, tanto verticais quanto horizontais, e nos edifícios comerciais.

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