Lapa: A “caverna” mudou de dono

A antiga Lapa cresce e atrai moradores de outras regiões. Apesar do fim da fase romântica, o bairro tem atrativos, como a proximidade com o Metrô.

Lapa é uma laje de pedra, gruta ou caverna na encosta. O nome do bairro surgiu em 1740 em tributo a uma imagem de Nossa Senhora da Lapa que se tornou referência do local, segundo o livro São Paulo: 450 Bairros, 450 Anos, de Levino Ponciano (Editora Senac). Muito tempo depois, o bairro cresceu em duas “frentes” distintas: o Alto da Lapa, sua porção mais nobre, e a Lapa de Baixo, que nasceu entre o Rio Tietê e os trilhos da Ferrovia São Paulo Railway. Esta fatia abrigava as casas de operários e imigrantes de classe média, muitas indústrias e um grande número de armazéns. Ali, os moradores antigos ainda lutam para que o bairro preserve o espírito familiar, de cadeiras nas calçadas e uma boa conversa.

“Com certeza, está acabando na Lapa essa história de todos se conhecerem. A Vila Romana e a Pompéia, inclusive, já perderam isso”, lamenta a presidente do Conseg (Conselho de Segurança Comunitário) Lapa, Maria Sanches de Vargas, que decreta assim o fim do “romantismo” que cercou o bairro desde sua formação. “Ninguém conhece mais ninguém. 80% dos moradores sequer dominam a fundo o bairro”, reclama.

“A Lapa é muito bairrista, mas sua localização é sua melhor qualidade. Essa dissociação das gerações mais jovens é natural”, rebate Newton Salva, delegado seccional Oeste do Creci (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis). Segundo ele, é inevitável que a região atraia pessoas que desejem morar mais perto do trabalho ou que busquem um lugar alto, arborizado e de clima mais ameno. Tanto que o fator “bairrismo” não acontece na Vila Romana, que já é procurada por quem migra até de cidades próximas, como Osasco.

Para aproximar os novos moradores, há dois anos o Conseg Lapa e a Polícia Militar chegaram a editar a cartilha Segurança Condominial. O material baseou palestras sobre práticas de segurança patrimonial e de atitudes preventivas dadas pela PM aos moradores dos condomínios da região. “A idéia era fazer com que os vizinhos se conhecessem e cuidassem da segurança uns dos outros”, explica Maria Vargas.

Mas a tarefa parece estar longe de terminar, já que, apenas de janeiro de 2007 a abril de 2008, 430 novas unidades de médio-alto padrão foram lançadas no bairro, segundo o Secovi-SP, com base em dados da consultoria imobiliária Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). Os novos empreendimentos têm uma oferta equilibrada de apartamentos de dois, três e quatro dormitórios, com média de R$ 3.303,55 o metro quadrado útil.

Esse aumento potencial de habitantes pode intensificar outro problema do bairro: o furto de veículos. As estatísticas do crime na Lapa já acumulam altos índices, sobretudo nas proximidades da Faculdade São Camilo, do Palmeiras e do Sesc Pompéia. Muitos moradores não têm vagas suficientes nas garagens e deixam os carros na rua, o que aumenta a exposição do bairro aos ladrões, diz Maria Vargas. Como em toda a cidade, os congestionamentos também cresceram por lá.

Segundo Maria Vargas, o crescimento de lançamentos na Lapa está por detrás ainda de constantes quedas da rede de internet e de energia elétrica, além de problemas nas tubulações de água e esgoto. “A infra-estrutura do bairro é muito antiga e não houve melhorias e ampliações que dêem conta do aumento significativo de demanda”, garante. “Surgem prédios de um dia para o outro”, revela a presidente do Conseg Lapa. “Outro dia mesmo fui surpreendida com a notícia de que um quarteirão inteiro de casas da Rua Vespasiano havia sido vendido. Em apenas dois dias, casas lindas, grandes e antigas de uma outra rua também já estavam no chão”, conta.

A favor de Lapa e Vila Romana está a proximidade das linhas verde e azul do Metrô. “Além disso, temos o Parque Villa-Lobos, a proximidade com a City Lapa, com shoppings e saídas para as rodovias e as marginais”, lembra Newton Salva. 


Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios

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