A Polícia Civil concluiu o laudo criminalístico que aponta as causas do desabamento da área de lazer do condomínio Grand Parc Residencial Resort, na Enseada do Suá, em Vitória.
O desabamento ocorreu há nove meses. O documento, ao qual a Rádio CBN Vitória teve acesso, afirma que “a estrutura foi entregue completamente fora do padrão técnico mínimo exigível para construções desse porte e que foi entregue um produto (construção) de baixíssima qualidade”. O laudo também fala em erros grosseiros na construção.
A área de lazer do Grand Parc, que fica na Enseada do Suá, em Vitória, desabou na madrugada do dia 19 de julho do ano passado e matou o porteiro do condomínio Dejair das Neves. A perícia da Polícia Civil que a construção não obedeceu aos padrões de engenharia necessários para uma estrutura daquele porte.
As afirmações contidas no laudo são contundentes. Em um trecho, está dito que “ficou evidenciado que a laje não estava seguindo a engenharia básica de um sistema de laje protendida”. Em outro trecho, aponta-se que “como pode ser observado, as características da estrutura construída apontam para erros grosseiros de montagem de cabos de protensão e armaduras passivas negativas”.
O laudo pericial também fala sobre a dinâmica do desabamento da área de lazer. Baseado em imagens de uma câmera de monitoramento da garagem, o documento afirma que o colapso total da estrutura levou cerca de uma hora e vinte minutos para acontecer e começou próximo a três pilares, onde apareceu uma poça de água que foi aumentando com o tempo.
Grand Parc em julho de 2016
Foto: Carlos Alberto Silva / A Gazeta
Por fim, o laudo leva a crer que a tragédia poderia ter sido ainda maior. Na conclusão do documento, afirma-se que “os usuários da área de lazer do condomínio Grand Parc se encontravam em permanente exposição ao perigo”.
O arquiteto Rodrigo Mattos, de 51 anos, era morador do Grand Parc. Ele diz que agora acredita que, com as falhas apontadas, será possível fazer as adequações necessárias para que o condomínio seja muito mais seguro. Rodrigo contou como se sente diante das constatações da perícia de que erros na construção. “É uma coisa que perturba qualquer um. Sem dúvida, ter certeza disso é uma coisa ruim. Mas isso reflete o que acontece no Brasil de uma forma geral, um descaso generalizado”, disse à CBN.
Incorporadora e construtora
A Cyrela, incorporadora do empreendimento, e a Incortel, construtora da obra, foram procuradas para se manifestar sobre o laudo pericial da Polícia Civil. Por meio de nota, a Cyrela informou que está colaborando integralmente para apuração dos fatos referente ao laudo do Grand Parc e aguarda a divulgação oficial das perícias referente ao empreendimento.
A Incortel afirma que uma análise investigativa realizada por especialistas dos escritórios Costa Negraes Engenharia e Consultoria e Projest Consultoria e Projetos aponta que erros no cálculo estrutural são a causa do desabamento da área de lazer do Grand Parc.
As lajes da área de lazer do Grand Parc ficaram instáveis, segundo perícia preliminar
Foto: Divulgação Ouvinte
A nota da construtora acrescenta que o laudo pericial apresentado na averiguação em andamento coordenada pela Polícia Civil não analisou os cálculos estruturais, e também não obedeceu ao rigor das normas brasileiras NBR 6118 nas suas análises, o que seria condição essencial para qualquer perícia técnica. Segundo a construtora, todas as inconsistências detectadas no referido laudo, até o momento, já foram apresentadas à Policia Civil.
A Polícia Civil informou que o caso segue sob acompanhamento da Delegacia de Crimes Contra à Vida de Vitória e que demais detalhes serão passados com a conclusão do inquérito.