Moema: Entre pássaros e índios, um bairro atraente

De bairro de chácaras Moema se transformou em um reduto charmoso e completo para se viver.

No largo de Moema, que circunda a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, o clima é de interior, com direito a banco na praça e feirinha de artesanato. Nas ruas, há de tudo: pontos agitados, como as proximidades da Rua Bem-te-vi, pólo de lojas de pontas de estoque de sapatos e moda, e regiões tranqüilas e arborizadas. Tem até rua com direito a neve artificial no Natal, a Rua Normandia. Moema é assim: o bairro que tem de tudo tem também locais onde é possível conviver com o sossego. 

Talvez a isso se deva o sucesso de Moema: conjunção de modernidade e um quê de tradição, ainda que seja apenas na memória dos moradores mais antigos. Lygia Horta, presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Moema, moradora do bairro desde 1954, lembra das ruas de terra e do ar de fazenda. “Os amigos diziam que havíamos mudado para a fazendinha. Viemos para o mato”, recorda. A paixão pelo bairro a fez escrever o livro Moema – Histórias, Pássaros & Índios. O título faz referência ao fato do bairro ter ruas com nomes de pássaros (entre a Avenida Ibirapuera e a Avenida Santo Amaro) e de índios, entre a Ibirapuera e a Rubem Berta. 

Numa extensa pesquisa sobre a história do bairro, Lígia relata que o primeiro povoado da região, composta por várzeas e terrenos alagadiços, era constituído por imigrantes ingleses e alemães em 1882. Em 1906, chegam os bondes, que alteram a história do bairro. Eles vinham do Centro, desciam a Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, atual Avenida Ibirapuera, e seguiam em direção a Santo Amaro. Começam a surgir os primeiros loteamentos onde só existiam chácaras. Nos anos 1930, fábricas passam a se instalar na emergente região. Trabalhadores de países como Hungria, Lituânia, Alemanha, Itália, Áustria, Polônia e Rússia chegam como mão-de-obra especializada para as fábricas e dão um toque europeu ao bairro. 

A Moema dos Pássaros era ocupada pelas famílias de maior poder aquisitivo, e as famílias dos operários moravam na Moema dos Índios. Hoje, não há diferença de perfil socioeconômico entre um e outro lado da Avenida Ibirapuera. Mudou, no entanto, o estilo de vida. “É claro que hoje, com muitos edifícios, a relação entre os vizinhos não é tão calorosa. Mas ainda há muitos moradores antigos por aqui”, conta Lígia. Morador não tão antigo quanto Lígia, Ian Searby acompanha o desenvolvimento do bairro há tempos. “Nos anos 70 eu morava na Vila Clementino e do meu apartamento via Moema inteira e pouquíssimas estruturas de prédios. Um era o prédio onde hoje funciona a doceira Ofner na Avenida Ibirapuera e outro, o prédio onde moro até hoje, e para onde me mudei em 1980”, conta Ian, que é síndico do condomínio. Ele conta que quando chegou ao bairro as últimas fábricas ainda sobreviviam à invasão imobiliária. O Shopping Ibirapuera já havia mudado parte do cenário de Moema: foi inaugurado em 1976. Apesar do desenvolvimento, Moema ainda não era Moema. Oficialmente, era o bairro de Indianópolis. Só foi oficializado como Moema em outubro de 1987 pelo prefeito Jânio Quadros.

Moema ainda convive com uma explosão de lançamentos de condomínios. Há prédios com apartamentos de um dormitório, voltado para o público de recém-casados, descasados ou gente que vem de outras cidades para trabalhar (há quem diga que Moema é o bairro preferido pelos cariocas que vêm trabalhar em São Paulo). Mas a grande maioria dos lançamentos é de alto padrão, com acabamentos sofisticados. Para Ian, Moema está lotada demais e os lançamentos deveriam parar. “O bairro está muito barulhento, especialmente por causa dos ônibus. A Avenida Ibirapuera é uma via de ligação e deveria ter um trânsito fluente, mas é cheia de faróis”, aponta. Lygia Horta e a AMAM já reclamaram do barulho do Aeroporto de Congonhas e conseguiram o respeito ao repouso noturno para os moradores, com o fechamento do tráfego aéreo às 23h e abertura às 6h. O movimento de moradores também já obteve o fim de muitos bares barulhentos. Moema está bem distante dos tempos de fazendinha, mas ainda merece sossego.


Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios

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