Nilton Savieto, 74 anos, defende manutenção preditiva e preventiva

“BOA MANUTENÇÃODÁ MENOS GASTO E MAIS TRANQUILIDADE”

 

NASCI EM Jundiaí. Sou o primogênito de um casal que teve seis filhos, cinco meninos e uma menina, todos com a inicial ‘N’. 

Nossa casa ficava perto da uma área de mato cercada por duas ferrovias: a Sorocabana e a Companhia Paulista. Entre os trilhos, havia o campinho de futebol, que proporcionou tantos momentos felizes a este corinthiano.  A minha mãe, Odete, era professora formada, mas não trabalhava fora. Tinha uma caligrafia linda e não aceitava garranchos. O meu pai, Isidoro, vinha de família simples, trabalhava no setor administrativo da Companhia Paulista, e completava a renda vendendo doces na mesma ferrovia.

Comecei a trabalhar aos 11 anos, em uma fábrica de chapéus de palha. De lá migrei para a Standard Brands do Brasil (de chá mate e fermento Fleischman). Eu grampeei etiquetas em sachês de chá por mais de dois anos, numa jornada das cinco às 14 horas, e estudava à noite. Troquei o expediente na fábrica por um curso técnico no Senai, onde me formei eletricista. Paralelamente, aprendi sobre eletrônica à distância, com o Instituto Universal Brasileiro. Com 17 anos, ingressei na Companhia Paulista, na manutenção de locomotivas elétricas. Época boa, viajava com passe gratuito e de primeira classe para a festa do peão de Barretos.

Não consegui dispensa do serviço militar, então me ausentei um ano da ferroviária e logo depois de regressar, soube de uma empresa que recrutava mão de obra técnica para consertar máquinas de escrever em São Paulo. Eu e alguns colegas fizemos o teste, fomos aprovados e pedimos demissão da Companhia Paulista. Começamos a trabalhar na capital ganhando três vezes mais. O ano era 1969, o local, a filial paulista da IBM, multinacional de tecnologia. Trabalhei como técnico nos primeiros anos e morei em pensões, uma delas na Boca do Lixo. Eu ganhava bem, mas mandava dinheiro à família.

Não demorou para que eu fosse promovido a gerente e enviado à filial de Porto Alegre. Nesse tempo, me casei com a minha namorada, que morava no interior paulista. Estamos juntos até hoje e temos duas filhas, a mais velha, gaúcha. A mais nova é carioca, nasceu depois que fui transferido para a matriz da IBM Brasil, no Rio de Janeiro. Após cinco anos, novo destino: Curitiba. E, como seria para atuar em outro nível de gerência, a IBM me mandou fazer um curso fora, de quatro meses, que a Universidade de Cambridge moldava para os funcionários a nível mundial. Estudei astronomia, artes, economia, agricultura etc. Descobri o quanto a pontualidade britânica faz as coisas andarem, e trago isso comigo até hoje.  

De volta a Curitiba, vivi uma das melhores fases da minha vida, morando em uma casa com jardim, lareira, bar, casa de boneca no quintal, numa rua fechada. Eu acendia a churrasqueira e os vizinhos apareciam, sem convite, com carne e cerveja. Eu agia da mesma forma. Quase fiquei por lá, mas quatro anos depois a IBM me deu  nova oportunidade na filial de São Paulo. Nos instalamos em um apartamento alugado na Vila Mariana. Dois anos depois, recebemos as chaves do nosso próprio imóvel, no mesmo bairro, em um empreendimento da Encol com mais de 300 vícios construtivos. Eu me tornei síndico, posto que ocupo até hoje. Trazia uma noção mínima da sindicatura, pois no Rio de Janeiro, tivemos um apartamento em prédio novo e, na implantação, dei tantos palpites que me elegeram gestor. No residencial da Vila Mariana, aconteceu a mesma coisa. Fazer o quê? Eu gosto de dar palpites.

E não parei aí, repeti a história em 1995, ano em que me aposentei na IBM, e comprei um conjunto comercial em um prédio de 10 andares na Vila Clementino. Três meses antes da A.G.I, a incorporadora e a construtora reuniram os proprietários pois queriam nos brindar com algo muito atrativo na época: uma central telefônica. Só que eu palpitei tanto que me convidaram a assumir o posto de síndico para acompanhar a instalação da central. Eu não seria isentado da cota condominial, mas receberia a remuneração de R$ 1 mil ao mês. Depois, me convidaram para assumir mais três edifícios comerciais.

Em um desses condomínios, conheci um condômino insatisfeito com a gestão do prédio chiquérrimo em que ele morava, no Alto de Pinheiros, onde faltava dinheiro para pagar a conta de luz. Ele me apresentou aos conselheiros, que me aprovaram, porém como a Convenção não permitia síndicos externos, fui aceito como consultor, e fiquei lá por seis anos. Outros condomínios vieram por indicação e, mais tarde, também em concorrências. Tenho hoje 15 condomínios, a maioria de prédios menores. Gosto de trabalhar sem preposto, mas não posso dizer que atuo sozinho. Tenho auxílio de administradoras, aplicativos modernos, e de zeladores e gerentes condominiais.

A IBM me preparou para ser um síndico bem-sucedido. Décadas atrás, já se falava em manutenção preditiva e preventiva na empresa. Técnico que aparecesse com manutenção corretiva perdia pontos. Havia um padrão muito rígido, por isso sou tão fissurado em manutenção, até ajudei a formular um manual do Secovi sobre isso. Boa manutenção faz o condomínio gastar menos e ter mais tranquilidade. Em um elevador, por exemplo, você tem de trocar o cabo quando começa a apresentar certo número de estrias, então vai e troca, não espera quebrar porque irá desencadear sérias consequências e estragos maiores. Isso é manutenção preditiva.

Na época em que morei em Porto Alegre e me tornei gerente na IBM, passei a ser avaliado pelos funcionários, um protocolo do cargo, pois era determinante que a gerência instruísse com clareza e sem grosserias. Aprendi que não se deve jamais usar frases como: ‘Você ainda não aprendeu? Já falei mil vezes!”. Sou didático e paciente com funcionários dos condomínios, mas não sou bonzinho. Se não estiver performando do jeito necessário, sou obrigado a demitir.

Na IBM aprendi também a escutar o outro porque fazia parte das minhas atribuições ouvir clientes e gerir grandes equipes. Hoje em dia, o mais difícil nos condomínios é lidar com pessoas, cada vez mais impacientes. Mas às vezes, só precisam de alguém que lhes dê ouvidos. Nem sempre o síndico vai resolver problemas dessa maneira, é claro, mas é preciso dar atenção, ouvir primeiro, depois racionalizar. Eu visito meus condomínios em horários diferentes, dessa forma sou acessível a mais pessoas. Converso demais com os condôminos e funcionários, conforme o caso, procuro introduzir alguma vivência que possa agregar. Percebo que muitos ficam mais aliviados, menos ansiosos. Não é que eu seja melhor ou pior por isso, sou apenas alguém que sabe ouvir. Só isso.”

Nilton Savieto, em depoimento a Isabel Ribeiro

Matéria publicada na edição 301 jun/24 da Revista Direcional Condomínios

Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.

Autor