O efeito “carona” nas portarias dos condomínios e suas consequências para a segurança dos moradores

O dia a dia dos síndicos, zeladores e controladores de acesso está recheado de atividades, mas uma delas tem demandado maior atenção nos últimos anos. Isso ocorre porque os condomínios, por todo o Brasil, estão sofrendo ataques de quadrilhas especializadas em invasão de condomínios. 

No último dia 17/02/2022 dei uma entrevista para o Balanço Geral da Record TV, pois um condomínio onde sou síndico passou por uma tentativa de invasão onde os criminosos se passaram por moradores, mas, graças ao treinamento da equipe que estava atenta e entrosada, a tentativa foi frustrada, mas, infelizmente, os bandidos, se dirigiram para um outro condomínio próximo e conseguiram praticar a ação. O vídeo com a matéria completa pode ser acessado aqui.

Diante deste cenário, muitos moradores, indignados com essa sensação de insegurança, perguntam como essas invasões ocorrem. Portanto, usarei um pouco da minha experiência para explicar, de uma forma bem resumida, e de fácil entendimento no decorrer desta matéria.

Segurança de acesso

As quadrilhas de furto a condomínios, geralmente, agem passando-se por moradores. Costumam ser jovens, a maioria dos integrantes possui menos de 18 anos e, quando são pegos, nem passam a noite na cadeia, mas alguns deles são maiores de idade e, geralmente, são eles que comandam as ações.

É do conhecimento da polícia que os apartamentos alvo, geralmente, são escolhidos previamente em cadastros comprados ilegalmente, como o cadastro de usuários das empresas de telefonia e Internet, por exemplo, pois, os apartamentos atingidos, sempre estão vazios no momento da ação. Em alguns casos, os bandidos circulam pelos andares e verificam quais unidades estão vazias, escutando pela porta ou tocando a campainha e, desta forma escolhem o alvo.

Geralmente, essas quadrilhas agem em duplas ou trios, conforme o tamanho do condomínio escolhido. Os outros meliantes circulam próximo à portaria, atento à toda movimentação para ver se conseguirão adentrar também. Neste momento eles acabam induzindo os controladores de acesso ao erro liberando os  integrantes da quadrilha,  que se passam por um visitante.

O foco principal desta matéria, é alertar os síndicos sobre as falhas do fator humano, pois geralmente os bandidos entram com o chamado efeito carona, onde entram junto com moradores reais dos condomínios que, por mera gentileza, permitem a entrada, sem se dar conta do problema que essa atitude pode causar. Essa atitude pode induzir o controlador de acesso ao erro, pois pode acreditar que o bandido se trata de um morador ou que está acompanhando o mesmo. 

Por isso é preciso ficar claro na mente de todos os moradores de condomínios que eles fazem parte do sistema de segurança e que, como tal, precisam estar atentos para alguns detalhes, que parecem tolos, mas não são. Ao se aproximar do portão do condomínio, percebendo uma pessoa próxima ao portão que tente entrar junto, se não reconhecer a mesma como um morador(a), evitar segurar o portão para que a mesma entre. Este não é o momento de ser gentil! A atitude correta é fechar o portão, pedir a compreensão e informar a outra pessoa que, por uma questão de segurança, esta deve entrar com sua digital, chaveiro ou cartão RFID (TAG), reconhecimento facial ou qualquer outra tecnologia que o condomínio disponha no momento.

Sim, eu sei, essa atitude, em um primeiro momento, parece desconfortável para o morador que prefere deixar essa ação para um dos colaboradores do condomínio, mas garanto para você que não é mais desconfortável do que saber depois que um dos apartamentos do condomínio onde você mora foi invadido e furtado. A sensação de insegurança é absurda e perturbadora.

Portanto, o ideal é deixar o ego de lado e pensar no coletivo, conhecer as regras de segurança do condomínio onde você mora, aplicar as mesmas e confiar que a equipe da portaria cumprirá com sua função. O mais importante não é o que a outra pessoa irá pensar e sim a segurança de todos os moradores.

Uma solução bem eficaz que elimina definitivamente o efeito carona é a implantação de catracas do tipo torniquete, mesmo em condomínios residenciais, onde somente passa um morador por vez, podendo o acesso ser liberado por biometria ou reconhecimento facial. Confesso que, particularmente, não gosto muito da ideia de uma catraca em um condomínio residencial, mas, por questões de segurança, vejo como melhor opção, sendo totalmente recomendável a sua utilização.

Qual é o destino de um síndico de um condomínio que é alvo dessas invasões? Isso dependerá da gestão da segurança que este aplica! Se o síndico estiver cercado de recursos, treinar a equipe continuamente e estiver integrado com ela, este síndico está de parabéns, mas, se este for omisso, então a sua permanência neste condomínio estará com os dias contatos. Portanto, fique atento para a gestão da segurança porque ela é um dos pilares de uma sindicatura de sucesso. Lembre-se que essa é uma questão de segurança pública e que nossa função é minimizar os riscos ao máximo e, na eventual ocorrência de invasão, auxiliar a polícia com o maior número de informações possíveis e dar suporte aos moradores atingidos.

Para os síndicos, minha recomendação é investir pesado em sistemas de automação para o controle de acesso, regras claras de segurança e treinamento constante dos colaboradores da portaria. A integração com os colaboradores de acesso também é fundamental! Também recomendo participar de grupos de WhatsApp com os síndicos dos condomínios do seu bairro para troca de informação sobre a segurança do bairro e possíveis ações.

No Estado de São Paulo, por exemplo, a Polícia Militar possui o programa Vizinhança Solidária. Esta é uma ótima maneira de complementar a segurança dos condomínios diante de tantos casos de invasão. Procure o CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança) do seu bairro e informe-se sobre o programa.

Na Cidade de São Paulo, existe também o programa City Câmeras, uma parceria com a sociedade civil no monitoramento integrado de diversos pontos da cidade, visando inibir a ação de criminosos. As empresas e condomínios podem instalar câmeras ligadas ao sistema que auxiliam as forças de segurança pública a manter a ordem. Se interessou e quer participar do programa?

Cada um de nós é uma engrenagem desse sistema de segurança dos condomínios, portanto, uma peça é totalmente dependente da outra para que o sistema funcione adequadamente para o bem de toda a massa condominial.  E para finalizar, valorize os profissionais que trabalham na portaria do seu condomínio. 

Pense nisso e fique seguro!


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Autor

  • Demétrios Georges Makedonopoulos

    Graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela UNISUL, Pós-graduado em Segurança da Informação pela UNISUL. Atua como Consultor em Segurança da Informação desde 2003 e como Síndico Profissional desde 2018. Cursando atualmente o 3.º Semestre de Direito pela UNINOVE. Síndico 5 Estrelas. Sócio fundador da Sou Seu Síndico — Síndico Profissional, especializado em Condomínios Clube, com foco na otimização da gestão, controle e aperfeiçoamento das rotinas, liderança democrática, mediação de conflitos e comunicação eficaz.

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