A IA vive outro momento, com modelo de linguagem que permite uma interação natural e com respostas mais assertivas; maior expoente é o ChatGPT, ferramenta útil na comunicação condominial.
A inteligência Artificial (IA) atingiu novo patamar há pouco mais de um ano, quando o ChatGPT, da desenvolvedora OpenAI, surpreendeu o mundo. Com capacidade de criar conteúdo de dados, imagens, vídeos, áudios e textos, a ferramenta é como um valoroso assistente. Esse chatbot é fruto da IA Generativa, tecnologia que possibilita à máquina identificar o que está sendo pedido, coletar informações em banco da internet e responder com precisão e naturalidade, ao passo que assimila informações com usuários e evolui. “A IA Generativa é melhorada à medida que conversamos com ela. Está sempre aprendendo. Nós, seres humanos, também aprendemos quando entramos em contato com fatos novos”, compara Jhonatas Faria, gerente de TI da Superlógica, plataforma tecnológica e financeira do mercado condominial.
O especialista esclarece, no entanto, que o ChatGPT não tem autonomia, mas sim, capacidade de produzir novas coisas através de um conhecimento prévio. Parte do encantamento desse chatbot (e dos que vieram na cola, como BERT e Anthropic, dentre outros) é parecer desconhecer limites, o oposto dos chatbots convencionais de atendimento ao cliente. “Se eu pedir uma foto de um cachorro andando de bicicleta, ele saberá reconhecer um cachorro, uma bicicleta, e me entregará resultado”, ilustra Jhonatas, que faz uso recorrente do ChatGPT, até mesmo em seu MBA. “Eu disponibilizei o conteúdo das apostilas para o chat, que elabora simulados com questões de múltipla escolha. Eu respondo, depois ele corrige e me explica onde errei. Ele me ajuda a estudar, é algo sem precedentes”.
O avanço da IA é mesmo incrível, mas o que tem a ver com os condomínios? Pois uma habilidade do ChatGPT é a escrita gramaticalmente correta, algo muito apropriado para uma comunicação condominial bem-feita e compatível com cada condomínio. E mais: esse recurso está disponível na versão gratuita da ferramenta – a versão premium custa US$ 20 ao mês. “A comunicação é um benefício da ferramenta, que traz imagens e até ilustrações”, pontua Omar Anauate, diretor de condomínio da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).
Além de gerar comunicados, Omar lista que a ferramenta é interessante para enquetes personalizadas. Já nas administradoras é estratégica para redigir atas de assembleia. “As pessoas, muitas vezes, têm dificuldade de redação para escrever de forma sucinta um assunto que demandou uma ou duas horas de discussão na assembleia. Estamos começando a testar essa ferramenta para organizar as informações assembleares de modo resumido, inteligível e dentro da legalidade”, comenta.
Checagem de informações
Não custa nada dizer que apesar de todo apuro tecnológico, a inteligência humana deve guiar a artificial. Uma questão mal formulada pode resultar em uma resposta inconsistente, bem como a falta de conhecimento mínimo do síndico acerca de determinado assunto pode contribuir para que ele não conteste a IA caso receba algum dado incorreto ou desatualizado.
Omar orienta os síndicos a atentarem para a coerência e consistência nos resultados apresentados pela máquina e, também, a lembrar da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) quando cogitarem fornecer dados dos condôminos ao chatbot. “Se for utilizá-los, tem de descobrir primeiro um jeito de agir dentro da legalidade, com autorização dos moradores”, recomenda.
Para o diretor de condomínio da AABIC, a questão da LGPD somada ao fato de que condomínios não geram grande volume de dados faz com que o novo patamar da inteligência artificial, ao menos por enquanto, não seja tão explorado no nicho condominial. “Eu acho que o maior desafio nessa nova fase da inteligência artificial é o síndico vislumbrar como utilizá-la no próprio condomínio. Vai muito da iniciativa e criatividade de cada um, mas com certeza os que acharem o caminho vão evoluir, e quem não for junto ficará em desvantagem considerável”, acredita. Uma hipótese de uso da IA seria, segundo Omar, unificar o aviso de vencimento do seguro predial (ou de outros serviços), o qual é gerado por um software, com a IA, para que esta fizesse o mapa de cotação com três seguradoras e o enviasse diretamente ao síndico, agilizando a rotina operacional.
Há muito o que descobrir na nova seara tecnológica. Jhonatas Faria, da Superlógica, sentencia: “A inteligência artificial generativa é um novo passo nessa jornada. A gente não sabe direito aonde vai chegar, mas é um caminho sem volta”. Ele indica, por exemplo, que o chatbot inteligente é útil na leitura de contratos, pois nem todos compreendem o chamado ‘juridiquês’ ou termos muito técnicos. “Outro dia, perguntei ao chat se havia alguma informação conflitante ou ponto que precisava de maior atenção em um contrato de 20 páginas e ele foi muito assertivo. É claro que você não vai confiar cegamente numa ferramenta, da mesma forma que você usa o cinto de segurança do carro, mas nem por isso vai dirigir de forma imprudente. A ferramenta é um apoio, no caso do contrato, para inicialmente entendê-lo melhor, e depois consultar o jurídico do condomínio”.
Mais uma sugestão de Jhonatas Faria é consultar a ferramenta para organizar festividades nos condomínios. “Você pode pedir ideias de temas de decoração, de atrações e brincadeiras nas festas infantis, e de cardápios alternativos”, indica. “Dizem que a IA vai nos deixar mais preguiçosos, mas é o contrário. Você destrava, começa a ter acesso a mais dados, isso potencializa muito a criatividade”.
A síndica profissional Ana Josefa Severino há poucos meses escreveu um comunicado interno com o auxílio da inteligência artificial, opção disponibilizada por uma das empresas de mídia de elevador que atende a alguns de seus condomínios. “Eu gostei porque é bem prático. Quando você vai inserir uma mensagem, como um comunicado pedindo que os condôminos prestem mais atenção na lavagem das sacadas para não respingar água nas demais unidades, o sistema te pergunta se deseja criar o comunicado com o uso da inteligência artificial ou não. E, depois, se prefere o uso de linguagem formal ou descontraída”, relata. “Eu quis experimentar para ficar alinhada à novidade, só que eu tenho bastante material em arquivo para utilizar na comunicação com os condôminos, então não usei mais a IA. Mas para o síndico iniciante ou sem familiaridade com a escrita de comunicados, é ótimo contar com esse recurso”, finaliza.
Matéria publicada na edição 296 jan/24 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.