O ‘nó’’ da coleta seletiva do lixo nos condomínios em São Paulo

Alguns condomínios da cidade de São Paulo estão com dificuldade para manter a coleta seletiva. A ideia pegou, a quantidade de material reciclável separado do lixo orgânico aumentou, mas a estrutura montada pela Prefeitura para sua retirada domiciliar e triagem nas centrais ficou do mesmo tamanho. Conforme dados oficiais do Município, publicados em fevereiro pelo Jornal da Tarde, o volume médio dos resíduos coletados diariamente na cidade aumentou 12,5% entre 2009 e 2011. Mas a quantidade do material encaminhado para reciclagem permanece perto de 1% em relação ao total coletado (214 toneladas/dia sobre 18 mil, perfazendo um índice de 1,13%. Era 0,71% em 2009).

Consulta realizada pela Direcional Condomínios junto a síndicos e zeladores revela situações bem díspares vivenciadas pelos domicílios em diferentes regiões da cidade. Enquanto alguns usufruem de um serviço público regular de coleta do lixo reciclado, outros se veem obrigados a buscar alternativas para a destinação do material, caso queiram manter a separação de papéis, papelão, embalagens diversas, plásticos, vidros etc. Com alguma sorte, eles encontram catadores independentes que até os remuneram pelo material separado.

Um quadro geral é dado pela síndica Wandinei Corrêa Aguiar Migliácio, do Edifício Carlos Eduardo (localizado no Bosque da Saúde, zona Sul de São Paulo). “Pertenço ao Conselho de Síndicos do Secovi e no ano passado o grupo se dedicou à questão do lixo reciclável. Constatamos que as cooperativas não dispõem de infraestrutura como caminhões e espaço necessário. E que a retirada de material fica com as concessionárias, só que elas também têm problemas quanto ao fornecimento de caçambas adequadas, caminhões e local de destino, porque muitas vezes as cooperativas não conseguem dar vazão a tanto material”, relata a síndica.

Segundo ela, a concessionária que deveria passar em sua região para coletar o material separado sempre falha nos meses compreendidos entre o final e o começo do ano. São duas concessionárias, a Ecourbis e a Loga, contratadas pela Prefeitura exclusivamente para a retirada deste lixo. “O material que separamos acaba cedido aos catadores que passam pela minha rua”, diz Wandinei.

Situações díspares

A estrutura de coleta e reciclagem do lixo em São Paulo envolve uma parceria da Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura) com 21 cooperativas de catadores, cuja função é receber, separar e dar destinação (encaminhar à indústria) ao lixo que chega dos condomínios e postos de coletas. Essas cooperativas também dispõem de caminhões terceirizados e pagos pelo Município para reforçar a coleta domiciliar realizada pelas duas concessionárias. Segundo a Prefeitura, a estrutura deveria atender a 75 dos 96 distritos da cidade.

No bairro de Moema, por exemplo, a coleta segue em grande parte de forma regular. O zelador José Zilmar Miranda, que articula um grupo de dezenas de profissionais de condomínios na região, afirma que o serviço teve uma quebra de rotina somente no começo de novembro do ano passado, “porque a concessionária não tinha onde descartar o lixo”. Já a síndica Ana Josefa Severino, do Condomínio Piazza Di Toscana, localizado na Vila Alpina, zona Leste da Capital, teve que recorrer a uma solução alternativa. “Houve uma época difícil, pois não encontrávamos quem viesse retirar o material”, relata Ana Josefa, que acabou, no entanto, encontrando uma empresa desvinculada da estrutura oficial, a qual, além fazer a retirada regular às terças-feiras, ainda paga R$ 0,15 por quilo do material bruto (papéis, plásticos e vidros misturados).

Também a síndica Fernanda Parnes Teixeira, do Edifício Residencial Indiana Garden, no Butantã, conseguiu firmar parceria com um catador independente que recolhe o material quinzenalmente, pagando entre R$ 80,00 e R$ 120,00 pelo total acumulado.

Mas alguns condomínios não encontram catadores dispostos a enfrentar corredores de tráfego e vias de intenso movimento, porque se têm veículos pesados, estes sofrem com as restrições da lei municipal que impede o trânsito de caminhões no centro expandido de São Paulo durante dois períodos diários. Na prática, o horário em que os caminhões conseguem circular vai das 10hs às 15h30, aponta Neilton César Polido, diretor-secretário da cooperativa Cooperação, localizada na Vila Leopoldina, bairro da zona Oeste de São Paulo. Segundo Neilton, algumas vias da Vila Leopoldina ou de parte da zona Oeste, como a Avenida Pompéia, impõem dificuldades para o trabalho dos caminhões, seja pelo horário restrito ou falta de lugar para estacionar. Com seis caminhões terceirizados pagos pela Prefeitura para atender a toda zona Oeste, a Cooperação registra casos de motoristas que são multados por estacionamento irregular e acabam deixando de trabalhar algumas vias. Neilton afirma, no entanto, que a Limpurb prometeu contratar veículos menores, que possam circular em horário expandido e superar os problemas com estacionamento.

A Prefeitura, em nota via assessoria de imprensa, informou que está implantando mais quatro centrais de triagem na cidade, entre outras medidas adotadas para combater o gargalo do sistema. Mas para Neilton Cesar, o problema será resolvido somente quando a cidade tiver uma cooperativa por distrito.

Alternativas aos síndicos

A síndica Wandinei Migliácio apresenta, abaixo, três dicas aos seus colegas, como forma de enfrentar eventuais falhas na coleta e evitar que o condomínio abandone a coleta seletiva:

1) Buscar maior aproximação com as cooperativas no sentido de ajudá-las a resolver seus problemas;

2) Entrar em contato com os fornecedores, como fabricantes  de refrigerantes, papelão, produtos eletrônicos e outros e verificar como os materiais poderiam retornar à sua cadeia produtiva. Podemos achar que são ações difíceis, mas não impossíveis.

3) Buscar junto ao mercado empresas privadas que retirariam este lixo e dariam um destino adequado, é claro que neste caso, os condomínios teriam um custo de retirada do material , mas com certeza estaríamos ganhando em qualidade de vida  e protegendo o que é de mais importante para a vida, que é o nosso planeta.”

São Paulo, 13 de abril de 2012

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