Edificações residenciais e comerciais se adequam para que pessoas com deficiências ou idosas, entre outras, utilizem seus espaços com maior conforto e segurança.
A síndica profissional Andrezza investiu em rampas, corrimãos e piso antiderrapante no residencial da Mooca; a síndica profissional Adriana implantou a plataforma elevatória no prédio comercial de Pinheiros
Obras de acessibilidade revitalizam o condomínio, agregando valor e tornando-o muito mais receptivo a quem nele vive, sejam pessoas com deficiência, mobilidade reduzida ou idade avançada. Andrezza Mandarano, advogada e síndica profissional, desde 2020 dedica-se a tornar inclusivo o Portal de Barcelos, na Mooca, zona leste de São Paulo, e já pode comprovar o quanto as intervenções são válidas. “Vejo senhorinhas com dificuldade de locomoção tomando sol na área da piscina, o que antes não era possível porque o acesso se dava por uma escada”. Na edificação de duas torres e 112 unidades no total, há um usuário de cadeira de rodas e muitos idosos.
Engenheiro especializado em acessibilidade, Márcio Vieira de Souza, é morador do local, assim como Andrezza, e assumiu as obras de adaptações. O maior desafio da dupla será prover uma alternativa à barreira de 15 degraus entre a portaria no nível da rua e o patamar alto da edificação. Como existem limites estruturais para reformas, cogita-se investir em uma obra no recuo da calçada, onde há um jardim, e incluir uma plataforma de acesso. “Hoje, quem precisa, dispõe da rampa da garagem, o que é inadequado e discriminatório. No item 6.2.2 da norma NBR 9050, da ABNT, que regula as questões de acessibilidade, consta que o acesso por entradas secundárias só é aceito se esgotadas todas as possibilidades de adequação da entrada principal e se justificado tecnicamente”, diz Márcio.
As atualizações no Portal de Barcelos começaram pelas áreas comuns, como a da piscina. Ali foram removidas a escada e parte do canteiro para abrigar uma longa rampa com inclinação e altura dos corrimãos em conformidade com a normatização. Houve reformas nos banheiros; atualmente, há um inclusivo na parte de fora, e outro no salão de jogos.
Na entrada do hall de cada bloco, colocou-se corrimãos e rampa móvel construída com chapa de aço. Na churrasqueira, o piso foi refeito para eliminar um degrau contínuo que delimitava o nível mais alto para convidados e o nível mais baixo para fornos e afins. Agora o piso é plano e antiderrapante. Da churrasqueira há uma rampa que conduz ao salão de festas, pois muitos eventos são integrados. “Nem todo mundo concorda com as adaptações, mas é lei garantir acessibilidade”, fala Andrezza.
Subida árdua
No edifício comercial Gan Center, em Pinheiros, 70% de ocupação das 90 salas são na área da saúde, sendo comum a circulação de idosos e pessoas com dificuldades de locomoção por lá. Até poucos meses, esse público tinha de subir sete degraus de escada para chegar à entrada do edifício. “Quem vinha de carro, entrava pela garagem e usava o elevador. Mas quem vinha a pé ou de carro de aplicativo, encontrava muita dificuldade”, relata a síndica profissional Adriana Araújo, que assumiu a gestão há cerca de um ano e priorizou a questão.
Contratou um engenheiro, que fez uma avaliação técnica de uma área subutilizada por dentro, e destinada ao paisagismo por fora, para sediar uma plataforma. O custo da obra, mais o acessório, ficou em R$ 36 mil, e a execução levou dois meses. “Os médicos, que vinham pedindo alguma providência há tempos, e os pacientes ficaram felizes com a solução”, conta. “E o condomínio está mais completo, mais valorizado”, observa.
Um projeto para todos
Arquiteta Silvana Cambiaghi: condomínios esquecem de readequar calçadas
Presidente da CPA (Comissão Permanente de Acessibilidade) da Prefeitura de São Paulo, a arquiteta e docente universitária Silvana Cambiaghi lembra que a readequação dos condomínios passa também pela calçada, cujo Decreto Municipal 59.671/2020 estabelece padrões de acessibilidade e segurança. “Esse calçamento tem de ter, no mínimo, uma faixa livre de 1,20 m, com inclinação transversal de, no máximo, 3%, e sem desníveis, sem inclinações abruptas, e um piso não escorregadio, mas também não trepidante”, enumera.
Silvana é autora de “Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas”, livro que aborda o conceito sobre trabalhar com projeto versátil, que contemple um universo de pessoas: crianças, adultos altos e baixos, anões, idosos, gestantes, obesos, pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência física – como a própria arquiteta, que se locomove por cadeira de rodas após ter contraído poliomielite na infância. “Quando o condomínio faz na entrada uma rampa ou instala plataforma para vencer o desnível, está beneficiando quem chega com carrinho de feira, de bebê e, também, o deficiente físico. Isso é um desenho universal, que por sinal atualiza o imóvel”, esclarece.
Matéria publicada na edição – 281 – ago/2022 da Revista Direcional Condomínios
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