Neste mês de março, a Polícia Federal prendeu quadrilha que invadia apartamentos de luxo em todo País. Sete pessoas foram detidas em São Paulo e outras estavam foragidas no início das operações. Em apenas uma ação, grupo furtou mais de R$ 1 milhão
Grupo agia em residenciais de alto padrão, dentro e fora do Brasil. Além de carros importados, suspeitos tinham joias, relógios e bolsas furtadas; sete foram detidos, e três seguem foragidos.
Uma megaoperação da Polícia Civil do Distrito Federal prendeu sete suspeitos de integrar uma organização criminosa especializada em furtar condomínios de luxo, em diversas regiões do Brasil e até no exterior. Ao todo, mais de R$ 5 milhões em joias, bolsas de marca, relógios e bebidas das vítimas foram recuperados. A operação foi detalhada pelo Fantástico, em reportagem exibida neste domingo (5).
Os produtos foram encontrados em malas em um guarda-volumes alugado pelo grupo em São Paulo. Até a manhã deste domingo, três supostos membros ainda estavam foragidos. De acordo com as investigações, a quadrilha atuava há duas décadas, e parte dos integrantes já tinha sido presa por crimes de furto, em diversos estados e no DF.
Ao longo desses 20 anos, o grupo usou o dinheiro dos furtos para comprar imóveis e carros de luxo, de acordo com a polícia. A investigação também demonstrou que a organização chegou a adquirir um restaurante em um bairro nobre da zona oeste de São Paulo. Com o lucro obtido nos crimes, os membros levavam uma vida confortável e ostentavam os objetos de marca – tanto os furtados, quanto os comprados pelos próprios criminosos.
Sete suspeitos foram presos em São Paulo e trazidos a Brasília. Com eles, foram apreendidos itens furtados avaliados em R$ 5 milhões. Entre os objetos, estavam joias, relógios e bolsas de grife, além de R$ 300 mil em dinheiro. Outros três acusados continuam foragidos.
Um dos furtos mais recentes ocorreu em 15 de janeiro deste ano, em Brasília. Desde então, a quadrilha era monitorada pela Polícia Civil. Nos últimos 15 anos, os suspeitos foram presos pelo menos cinco vezes.
Segundo a Polícia Civil, os acusados visavam principalmente os apartamentos localizados nos andares mais altos, que geralmente são mais caros e têm maior probabilidade de abrigarem objetos de valor. Em apenas uma ação, eles levaram mais de R$ 1 milhão.
Chefiada por duas mulheres, a quadrilha atuava há pelo menos 15 anos, segundo as investigações da polícia. Uma das líderes, Raquel Veríssimo, está entre os presos. Já a outra, Priscila Galiego, continua foragida. O grupo atuou em Brasília, além de outros estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, e até na Argentina e no Chile.
Operação
A operação de caça aos suspeitos foi coordenada pela Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) do DF e começou em janeiro deste ano, quando um empreiteiro do DF foi vítima do grupo. Quando a mulher dele chegou em casa, o apartamento estava revirado, com armários abertos e peças de roupa espalhadas pelo chão.
As câmeras de segurança do condomínio flagraram três suspeitos entrando no prédio por volta das 12h30. Segundo a polícia, os ladrões são Alcyr Albino Dias Junior, de 49 anos, Raquel Veríssimo de Souza, de 45 anos, e Priscila Galhego Luiz, de 36 anos. Alcyr e Raquel foram presos na última sexta (3), e Priscila estava foragida até o fechamento da reportagem.
A advogada Gisele Melo Mendes da Silva disse que apenas Dias Junior, Raquel e Priscila são culpados e que os demais são inocentes. “Os três envolvidos: a Priscila que ainda não foi presa e encontra-se foragida, a Raquel e o Alcyr [Albino Dias Junior] vão confessar os crimes para ter uma pena atenuada quando da sentença de condenação”.
De acordo com a investigação, os três são os líderes da organização criminosa, e os principais articuladores das ações. Os demais atuavam na lavagem de dinheiro e ajudavam na fuga.
Para conseguir acesso aos prédios, os assaltantes usavam roupas de academia, bonés e óculos escuros – uma estratégia para se “camuflarem” entre os moradores e enganarem os porteiros. De longe, eles fingiam estar falando ao telefone e acenavam para os funcionários, que acabavam liberando o acesso sem conferir documentos.
Imagens do circuito de vigilância mostram os ladrões chegando ao elevador sem nada nas mãos. Minutos depois eles saem – já com malas e mochilas, chamam um táxi e vão embora tranquilamente. As portas dos apartamentos não eram arrombadas, mas abertas com uma “chave micha” (universal).
Segundo o delegado da DRF, Fernando César Costa, os ladrões escolhiam os apartamentos aleatoriamente. “Eles preferiam os andares mais altos, onde normalmente estão os apartamentos mais caros, e faziam audições nas portas para saber se tinha alguém, antes de entrarem”, explicou.
No Rio
Em novembro do ano passado, a organização criminosa também teria cometido um furto milionário em apartamentos de São Conrado, no Rio de Janeiro. As vítimas compareceram à delegacia na última quinta (2) e reconheceram algumas das joias e bolsas recuperadas pela polícia.
Entre as joias, há um anel com diamantes estimado em R$ 35 mil. A reportagem, com autorização da polícia, chamou o ourives Alberto Oliveira para avaliar as joias. “São peças totalmente verdadeiras e de vários formatos. Todas as peças que vi eram reais. Já vi muita joia na minha vida, mas essas eram todas muito caras e bem trabalhadas, com fibra de carbono. Tinha joias raras ou raríssimas”, analisou o especialista, que trabalha no ramo há 50 anos.
Entre os materiais apreendidos, havia bolsas de até R$ 60 mil e relógios de marcas famosas. Os investigadores encontraram também cerca de R$ 80 mil e 30 mil dólares americanos, além de pesos argentinos, uruguaios e colombianos, euros, francos suíços, libras, marcos alemães e diversos outros tipos de moedas, de colecionadores, inclusive.
Somados e convertidos para a moeda local, os valores encontrados em dinheiro vivo alcançariam a cifra de R$ 300 mil. Os detidos também estavam com um Audi, um HRV, um Honda Civic e um Honda Fit, que acabaram apreendidos.
Em São Paulo e no exterior
Para chegar até a quadrilha, os policiais da DRF viajaram para São Paulo, onde moram os suspeitos. Durante um mês, eles foram monitorados e os agentes puderam identificar como eles agiam. A prisão aconteceu no momento em duas delas, Raquel Veríssimo e Alecssandra Navarro Polillo, tentavam embarcar rumo à Argentina para praticar furtos no exterior. Elas embarcaram em Guarulhos, rumo a Foz do Iguaçu, onde acabaram detidas.
Alcyr, um dos líderes, também acabou sendo deportado pela Polícia Federal para o Brasil ao chegar na Argentina. Os policiais estavam em contato com os agentes da DRF, mas não informaram o motivo da deportação e Alcyr acabou preso em Santo André (SP), já em casa.
Com ele, os agentes encontraram ferramentas utilizadas para abrir as portas dos apartamentos. Alcyr, inclusive, tem passagens desde 1995 e acabou preso em 2004, em Pernambuco, após negociar o pagamento de propina no valor de R$ 500 mil a um delegado de Recife para atenuação da situação dele e do resto da quadrilha.
O delegado foi descoberto em interceptações telefônicas e condenado por corrupção passiva. Acabou expulso da corporação. Alcyr ainda é dono de uma fábrica de salgados, em São Paulo, mas que seria para dissimular a atuação criminosa, conforme as investigações.
Segundo a polícia, o filho dela, Ruan Carlos Veríssimo da Silva, 24 anos, é dono do restaurante de alto padrão chamado “El Santíssimo”, que fica na Vila Madalena, em São Paulo. Ruan acabou preso junto com a mãe e foi enquadrado no crime de lavagem de dinheiro.
“Ele fez vários depósitos na Caixa Econômica Federal dessas joias no nome dele. O box para guardar os produtos furtados que a Raquel utilizava estava no nome dele também”, disse o delegado.
Isso acontecia, segundo ele, porque Raquel tinha mandados de prisão em aberto e não podia ter nada em seu nome. Ela, inclusive, passou a usar o nome falso de Rosana. Mãe e filho foram enquadrados nos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Além disso, Raquel vai responder pelos furtos e por falsidade ideológica.
Vítimas
Até este domingo, a polícia já tinha ouvido o testemunho de oito vítimas. “Foram reconhecidos objetos de duas ações do grupo no Rio de Janeiro, em novembro de 2016, e também no crime que ocorreu no Sudoeste, aqui em Brasília, que motivou o início da investigação em janeiro”, diz Fernando César.
Em 2012, Alcyr também teria vindo para o DF, onde invadiu quatro apartamentos. Uma das vítimas reconheceu um dos brincos apreendidos, que teria sido feito sob encomenda. A joia estava no apartamento de Raquel.
“Conseguimos desarticular a ação desse grupo no país inteiro e na América do Sul. A doutrina empregada nessa investigação é a de enquadramento na organização criminosa, que vai permitir apurar os furtos e outros crimes praticados em outras unidades da federação e também a lavagem de dinheiro”, diz o delegado.
“Com isso, vamos conseguir uma elevada apenação e também apreender diversos bens que poderão ser devolvidos a vítima e ao Estado”, explicou Fernando César. A polícia vai pedir o bloqueio dos ativos financeiros dos envolvidos e sequestro dos imóveis no nome deles. “Eles vêm atuando há décadas. Não tem como justificar o patrimônio que aferiram nesse período”, destaca.
A prisão temporária foi convertida em preventiva. Com isso, todos os suspeitos permanecerão presos por tempo indeterminado.
Fonte: Agência Abrassp de Notícias / Com informações do G1