Os “cês” do condomínio

As principais causas de conflitos em condomínios começam com a letra “C”: cachorro, criança, calote, cano e carro. Muitas situações envolvendo um ou mais desses fatores poderiam ser evitadas com a adequada utilização de uma poderosa “ferramenta”, também iniciada com “C”: comunicação.

Aliás, a boa comunicação é primordial em qualquer tipo de relacionamento. A falta dela pode gerar efeitos desastrosos, assim como seu mau uso. Por isso, saber como e quando se comunicar é um grande desafio nas relações interpessoais. Qualquer que seja a circunstância, especialistas recomendam refletir a respeito daquilo que se pretende atingir, antes de se comunicar. O foco e o objetivo são essenciais, assim como saber a maneira de se dirigir ao interlocutor.

No condomínio, considerando os cinco “cês”, cada caso pode necessitar comunicação específica por parte do síndico, para não gerar ou potencializar problemas. Geralmente, seja qual for a situação, as pessoas tendem a achar que têm razão, colocando em destaque uma outra palavra iniciada com essa mesma letra: conflito.

Hostilidade, preconceito e informalidade são péssimos recursos para sanar questões conflituosas. O ideal é saber ouvir, mais do que falar; transmitir a informação ou a orientação de maneira equilibrada e gentil, positiva e segura, com fatos, dados e argumentos consistentes e bem fundamentados.

A escolha do canal de comunicação é importante para que a informação flua e atinja o interlocutor sem ruídos. Para isso, o síndico precisa ter criatividade e bom senso ao se deparar com a necessidade de comunicar algo a todos, a alguns ou a apenas um dos moradores.

O mais importante é que todos tenham a consciência de que, dentro ou fora de suas unidades, devem respeitar as regras da vida em condomínio. Compartilham as áreas comuns, mas o comportamento inadequado, ainda que nos limites de sua unidade, pode afetar ou incomodar os demais, podendo resultar em despesas ao condomínio.

E isso vale para todos os “cês”: calote (a inadimplência contribui para o desequilíbrio das contas), cano (vazamento que pode afetar uma ou mais unidades, além de aumentar o consumo e onerar a conta); carro (o desrespeito às regras pode ocasionar danos e prejuízos ao condomínio), criança e cachorro (falta de orientação sobre regras pode gerar brigas entre condôminos e funcionários, além de diversos problemas de relacionamento). Se cabe ao síndico buscar as soluções para resolver eventuais conflitos no condomínio, também é responsabilidade dele adotar medidas para evitá-los.

Assim como a escolha do canal, é fundamental a utilização de linguagens específicas para cada tipo de informação que se deseja transmitir. A tecnologia ajuda muito e permite, além de informar, promover maior integração entre os condôminos com baixo custo, já que algumas ferramentas estão à mão da maioria das pessoas hoje em dia. De páginas nas redes sociais, site, grupo no WhatsApp, painel no hall e dentro do elevador, até os meios tradicionais, há uma infinidade de opções para orientar a comunidade condominial e compartilhar diversas informações com segurança e comodidade.

Porém, mesmo diante de tantas opções, tecnológicas ou não, o diálogo ainda é o melhor caminho, tanto para evitar quanto para solucionar problemas ou conflitos. Nada substitui uma boa conversa!

Em situações mais críticas, para chegar a um consenso, as partes podem precisar de ajuda, e a mediação é uma alternativa interessante. O mediador atua como facilitador, utilizando técnicas para promover o diálogo e conduzir a um acordo, construído entre os próprios envolvidos, sempre pautado pelo respeito e a ordem.

Há questões que, apesar de consideradas graves, nem sempre precisam chegar ao judiciário, onde levarão anos até a sua resolução, dada a quantidade de processos que hoje tramitam em todas as instâncias. Nesse sentido, é importante ter à disposição instrumentos alternativos como a mediação, que pode e deve ser usado sempre que necessário. Entretanto, o ideal é não deixar a situação chegar a limites extremos. O síndico pode e deve agir preventivamente, utilizando a comunicação a seu favor.

Flavio Amary – vice-presidente do Interior do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP)/ Jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba/SP). Mais informações: famary@uol.com.br

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