“Uma coisa é certa: a pandemia veio para desmascarar a face oculta [positiva ou negativa] de muitas pessoas, mesmo que acobertadas por máscaras!”
A vida em condomínio está sendo muito impactada com a pandemia da Covid-19. Adaptar a rotina às restrições impostas tem sido um desafio para todos e, principalmente para os síndicos, que precisam administrar o bem-estar comum e levar ao conhecimento de todos as condutas e cautelas necessárias. A “nova quarentena” determinada no estado de São Paulo pelo governo, no dia 27/05/2020, não trouxe modificações consideráveis nos procedimentos, recomendações e cautelas nas condutas já adotadas nos condomínios. As posturas adotadas serão mantidas por um longo período. Se tudo ocorrer como o planejado pelo governo estadual e as prefeituras, as modificações nos condomínios passarão a ocorrer somente na fase “4” (verde), em que boa parte das atividades serão liberadas com restrições. Mesmo assim, não serão permitidos eventos com aglomerações. Até lá, os síndicos terão que driblar a ansiedade de alguns moradores que aguardam pela reabertura das áreas de lazer.
Reflexos da pandemia
O coletivo tomou corpo e os moradores passaram a sentir na pele o que é vivenciar a máxima de que “os interesses coletivos se sobrepõem aos interesses meramente individuais”. Os condôminos, ao cuidarem de si, estarão cuidando do outro. Estamos tendo a oportunidade de um novo olhar, de experimentar o novo, mudar padrões arraigados, revisitar os “próprios cômodos internos” e criar ou recriar uma nova consciência de que não estamos sozinhos. Que tudo pode ser mudado ou modificado do dia para a noite, que nossa liberdade física não é tão liberta assim, mas que a liberdade criativa e quântica está e sempre esteve conosco.
Feito esse preâmbulo, costumo dizer que o síndico é um enorme ‘polvo” que emergirá do mar para o céu, onde padecerá eternamente sentado no trono dos justos e de boa vontade.
O síndico por ser um grande generalista, isto é, por entender de todos os assuntos atinentes à gestão condominial, como a parte jurídica, financeiro-contábil, operacional, administrativa entre outras atribuições, agora precisa, mais do que nunca, reunir competências para saber gerir pessoas. E vale de tudo: Psicologia Positiva, o olhar do Direito Sistêmico e das Constelações Familiares, ferramentas de coaching, sem deixar de ter Fé no ser humano e, acima de tudo, muito jogo de cintura.
Ser síndico não é para qualquer um. Não basta querer ser síndico, tem que existir, além de reunir inúmeras competências supracitadas, paixão e muito amor pelo servir genuíno.
Desafios dos síndicos
– “Máscaras”
O primeiro e maior desafio para qualquer síndico, sem sombra de dúvida, é saber lidar com as pessoas, sejam moradores, conselheiros, funcionários, prestadores de serviços, os visitantes ou os vizinhos. A tarefa não é fácil, e cada ser humano só fornece ao outro aquilo que ele pensa, sente ou entende ser o correto. Logo, saber se posicionar já é meio caminho percorrido e a gestão tenderá a caminhar de forma menos espinhosa.
O novo Coronavírus, que causa a Covid19, está revolvendo tudo o que há de encoberto e oculto, seja bom ou seja ruim, no interior das próprias pessoas que moram em condomínio. O vírus está mexendo em todas as estruturas existentes: física, emocional, mental, social, familiar e condominial. No relacionamento interpessoal no interior do condomínio, contatam-se verdadeiros atos de bondade, solidariedade, compaixão, humanidade, empatia, tolerância e sobriedade, como também há casos de verdadeiras patologias, crueldade, egoísmo, desrespeito, falta de compostura, desumanidade e violência verbal. Uma coisa é certa: a pandemia veio para desmascarar a face oculta de muitas pessoas, mesmo que acobertadas por máscaras!
– Alguns exemplos de faces positivas: a confecção de máscaras caseiras por moradores, para presentear funcionários e prestadores de serviços; predisposição de moradores em oferecer aos vizinhos infectados ajuda nas compras de supermercado e de farmácia; doação de álcool em gel e cestas básicas, por parte de condôminos, a moradores e funcionários necessitados; doação de numerário aos funcionários, como forma de agradecimento pelo aumento significativo de entregas e deliveries na unidade privativa; o próprio cumprimento das recomendações sanitárias, legislação e normas internas.
– Alguns exemplos de faces negativas: solicitar ao síndico que tranque o morador infectado pelo lado de fora de sua unidade privativa; solicitar a demissão de funcionário infectado; noticiar falsamente a contaminação pelo vírus para a obtenção de algumas “regalias”, como não ter que retirar encomendas, descer para liberação de veículo de visitantes etc.; ofender o síndico com palavras de baixo calão, gritar com ele, ameaçar e amaldiçoar quando uma solicitação ou algum capricho não pode ser atendido; xingar e perseguir funcionários, mesmo na presença do síndico; gritar aos quatro cantos que quer desconto na taxa condominial por não utilizar as áreas comuns ou que, por pagar o condomínio, não pode ter obstaculizado/restringido o seu direito de ir e vir etc. Solicitações desprovidas de amparo legal ou moral.
O uso das máscaras, sejam elas cirúrgicas ou caseiras, não impedem, lamentavelmente, que as pessoas contaminem as outras com o vírus do ódio, da raiva, da crítica destrutiva, da prepotência, da ameaça.
Estas últimas são geradoras de muito dissabor e chateação a qualquer pessoa de bem. Não é à toa que as prescrições médicas para controle de ansiedade e depressão aumentaram significativamente, além das internações que sobrecarregam ainda mais o sistema saturado. Aumentaram também as brigas conjugais e as agressões físicas, principalmente contra a mulher, idosos e crianças. Situação essa que os síndicos precisam se preparar para atender com a maior empatia, responsabilidade e discrição possível.
É imprescindível ter empatia e tolerância, dentro do bom senso e razoabilidade nas relações condominiais, a exemplo das questões atinentes ao barulho, em respeito aos moradores trabalhando em home office.
– Comunicação
O segundo desafio dos síndicos é a comunicação: Todos os dias são publicados novos decretos governamentais, novas orientações e recomendações da OMS e do Ministério da Saúde, o que acaba criando confusão a esses gestores, principalmente àqueles que não possuem uma boa equipe multidisciplinar, bom assessoramento jurídico, fisco/contábil. Além das inúmeras comunicações supracitadas, o síndico ainda enfrenta o desafio de driblar as “fakes news” ou notícias falsas, além das normas políticas estaduais e federais que se contradizem. A comunicação dos síndicos aos condôminos, especialmente nesse momento de crise na saúde, é uma importante ferramenta, para a divulgação das normas governamentais, recomendações e cautelas dos agentes sanitários e boas práticas a serem adotadas nos condomínios para a efetividade do isolamento e distanciamento social, que visa a mitigar a disseminação do vírus.
– Medidas de prevenção
O terceiro desafio é conscientizar os moradores de que as medidas adotadas no período da quarentena, a partir de 20 de março em São Paulo (Capital), visam a mitigar a disseminação de contágio com o vírus, atendendo aos interesses coletivos. É o caso da restrição das áreas comuns, principalmente piscinas, academia, playground, salão de festas, quadras, brinquedoteca, sauna etc., além da suspensão de obras que não sejam essenciais ou emergenciais; a recomendação de se evitar as aglomerações e o uso de máscaras; e o respeito às regras do Regulamento Interno.
– Inadimplência
O quarto desafio é driblar a questão da inadimplência. Mesmo quando os condomínios possuem boa saúde financeira, não dá para descuidar. Para condomínios de maior porte, como os tipo clube, as receitas e despesas, por serem maiores, podem acarretar uma inadimplência também maior. Assim, algumas medidas são imprescindíveis, como contratar e autorizar despesas que sejam apenas de caráter emergencial e essenciais; revisar os contratos de manutenção e despesas mensais regulares para avaliar eventual suspensão ou possibilidade de redução de valores; avaliar as medidas do governo no tocante à folha de pagamento pela MP 936; analisar a viabilidade dos decretos referente à prorrogação do FGTS e do INSS, que foram liberadas pelo governo, entre outras medidas como a suspensão do Fundo de Reservas e rateios de obras futuras.
– Higienização
Aqui está o quinto desafio, o de manter as áreas comuns higienizadas e limpas. As ações com a higiene, limpeza dos elevadores, corrimão e maçanetas das portas devem ser reforçadas, com o uso de álcool a 70%, por exemplo. Mesmo com a equipe reduzida, pois a dica é trabalhar com o número mínimo de funcionários necessário.
– Segurança patrimonial
Por fim, o sexto desafio está em definir novas medidas para driblar os marginais, oportunistas e invasores de condomínio, mantendo inviolável a segurança da edificação. Nem mesmo com a pandemia a bandidagem dá trégua em seus planos diabólicos para a invasão dos prédios. Com a crise financeira, o fechamento do comércio, o aumento da criminalidade é bastante significativo, utilizando de artifícios como: dissimulação com o uso das máscaras; uso de ambulâncias e profissionais de saúde falsos para invadir o condomínio; se passam por agentes de saúde e representantes de concessionários de água, gás, energia elétrica e telefonia; a criatividade vai longe.
Em um momento delicado e atípico como esse, o mais importante é que haja bom senso por parte tanto dos moradores, quanto dos síndicos, para evitar a disseminação do novo Coronavírus, que é o grande vilão na história.
O síndico, grande maestro da orquestra que é o condomínio, acaba absorvendo todo impacto gerado pela crise pandêmica que assola a todos. Como saída, respirar, respirar e continuar respirando, pois em época de pandemia, a vida dos moradores se mistura à vida do síndico, que fica 24 horas conectado ao condomínio, de forma presencial, por telefone, pelo aplicativo WhatsApp etc.
Estamos no mesmo mar, cada um em seu próprio barco. Que continuemos a navegar rumo ao mesmo porto seguro.
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