Será que o paisagismo do seu condomínio está recebendo a atenção que merece? Pense nisso, pois áreas ajardinadas valorizam o empreendimento e trazem sensação de bem-estar
Síndica Isabelle Lavin promoveu reforma no térreo de condomínio, que ganhou banco e nova jardineira com espaço para descanso de moradores
Em um condomínio com 52 apartamentos e duas torres na Vila Olimpia, zona sul da cidade, a síndica profissional
Isabelle Lavin atendeu a um pedido dos moradores e reformou um espaço até então pouquíssimo aproveitado.
“Estávamos trocando o piso do térreo e aproveitamos para reformar a fonte que já existia. Também construímos um grande banco de madeira com almofadas, complementando com uma nova jardineira, numa área onde não havia nada”, conta Isabelle. Agora, especialmente crianças, pais e babás aproveitam o local, que fica próximo ao playground, para conversar numa área coberta e confortável, aponta a síndica.
Criar áreas aproveitáveis no térreo é uma tendência. Para o arquiteto paisagista Gil Fialho, os térreos se tornaram, principalmente após a pandemia, além de áreas de passagem, também áreas de estar. Conforto e sombra são aspectos necessários para que os moradores queiram desfrutar dos jardins. “Muitos condomínios não oferecem bancos no térreo, e os condôminos não usufruem do local. Esse é um dos pontos que mais privilegio nos meus projetos. Para prédios novos, faço muitas praças de estar. Costumo dividir as áreas de convivência: uma para crianças, incluindo playground, outra para jovens, mais uma para os adultos, que pode ter um espaço para leitura, e uma área para os pets. Na área infantil uso muitas árvores frutíferas para os pequenos terem contato com pitangas, goiabeiras (ou goiabas?) e outras frutas”, pontua o paisagista.
Gil também lembra de outra perspectiva dos jardins dos condomínios: a vista de cima. “As áreas verdes devem ser bonitas quando o condômino as admira pelas janelas do seu apartamento. Devem ser áreas com desenhos interessantes, que convidam o morador a descer. O desenho é criado por pisos e plantas. Por exemplo, pisos com desenhos mais orgânicos tendem a abraçar o visitante, mais do que caminhos retos.”
Para Gil, ilhas de vegetação aumentam o uso do térreo. Mas o desenvolvimento das plantas depende muito da incidência de luz, explica. Barros mais adensados têm menos luz e tornam os jardins mais vulneráveis. “A construção de prédios vizinhos muda totalmente a configuração da luz nos jardins. Esse é um dos maiores problemas que vemos em prédios antigos. O jardim foi projetado para uma incidência solar, que se transforma com o passar do tempo”, conclui.
Plantas tropicais, como helicônias e alpínias, têm flores exóticas, se desenvolvem muito bem em situação de pouca luz e ainda atraem beija-flores. Gil também costuma optar por espécies que atraem borboletas, caso da primavera e da lantana. “Conforme as borboletas que ocorrem (seria ocorrem mesmo?) no jardim, conhecemos o grau de degradação ou de qualidade daquela área ou quadra. Se o condomínio quiser acompanhar a existência de borboletas, há a possibilidade de fazermos um inventário, de como era e como ficou o jardim depois da reforma, analisando o quanto a transformação colaborou com a biodiversidade presente naquele espaço”, ensina. Para atrair passarinhos, por exemplo, Gil Fialho opta por espécies com folhas que as aves pegam para fazer ninhos, ou frutíferas que os alimentam, e ainda árvores que eles usam como abrigo. E para “chamar” as borboletas, nada melhor do que plantas que produzem bastante néctar que as alimentam.
Beleza e Tranquilidade
Segundo o paisagista Luciano Zanardo, espécies tropicais oferecem durabilidade e boa adaptação aos jardins. Mobiliário adequado integram os moradores à natureza
Na opinião do paisagista Luciano Zanardo, a escolha das espécies deve considerar o estilo do jardim e a resistência das plantas. “Em um jardim tropical, espécies robustas como guaimbês, alpínias zerumbet, pleomeles, agapantos, palmeiras fênix e russélias são altamente recomendadas pela sua durabilidade e adaptação”, diz. Também é essencial que o paisagismo seja projetado em harmonia com a arquitetura existente: “Isso garante uma integração visual e funcional, valorizando tanto o edifício quanto as áreas externas.” Nos condomínios, Zanardo recomenda manutenção quinzenal: “A vida útil de um jardim está diretamente ligada à sua manutenção. Ela deve incluir limpeza, adubação e substituição de espécies conforme necessário. Manutenções regulares garantem a longevidade e a saúde do jardim.”
O uso de mobiliário adequado e elementos como fontes, jardins verticais, pergolados e lareiras específicas para jardins incentivam a convivência nas áreas externas, integrando os moradores à natureza, acredita o paisagista Zanardo. “Esses itens agregam valor estético e funcional ao jardim, criando ambientes diferenciados e proporcionando uma experiência sensorial enriquecedora”, completa Luciano Zanardo, que na última Casacor São Paulo criou a Praça Tekohá, inspirado pela filosofia guarani que enxerga a terra como um lugar de vida. Na Praça, ele utilizou iluminação que ressaltava o paisagismo, deck em madeira cumaru, móveis de madeiras reaproveitadas e bancos criados pelo artista indígena Stive Mehinaku, que trouxeram autenticidade e significado ao projeto.
Também Gil Fialho apresentou na Casacor deste ano um jardim especial, que resgatou o conceito de quintal. O projeto procurou trazer a biodiversidade para o meio urbano, e sobre uma árida laje criou um microecossistema onde borboletas e pássaros foram atraídos a visitar esse espaço verde no meio de uma área rodeada de prédios.
Inspirações como as de Zanardo e Fialho podem ser levadas para os condomínios. Além de embelezar os empreendimentos, um belo e convidativo jardim agrega valor à vida cotidiana. “Há inúmeras pesquisas que mostram o impacto que os ambientes naturais causam na nossa saúde física e mental. Com os conhecimentos da Neuroarquitetura podemos projetar uma área externa para que os moradores se tranquilizem, por exemplo. Podemos usar elementos de contemplação, como flores e fontes, e outros aspectos sensoriais, como aromas. Ou seja, contribuir para que as pessoas naquele ambiente tenham determinados comportamentos e sensações”, constata a arquiteta Gabi Sartori. Por exemplo, formas pontiagudas impactam o nosso instinto de sobrevivência. “Nos sentimos ameaçados. Assim, plantas com muitos espinhos ou as pontiagudas fazem a pessoa se afastar. Mas tudo depende de como ela é implantada no jardim. Deve haver um espaço de estar não tão próximo daquela planta.”
Foi a partir da certificação que obteve nos Estados Unidos em Neurociência e Arquitetura que Gabi entendeu o seu real papel como arquiteta e o impacto que sua atuação tem na vida dos outros. “Especialmente depois da pandemia sentimos falta de estar perto da natureza. Assim, a biofilia, a necessidade de reconexão com a natureza, ganhou espaço e importância. É benéfico usarmos plantas nas áreas comuns, em espaços coletivos de trabalho e até mesmo em locais de passagem. E não só plantas, mas outros elementos que nos remetem à natureza, como a água, a iluminação natural. Tudo isso contribui positivamente para nossa saúde física e mental”, arremata.
Matéria publicada na edição-304-set-24 da Revista Direcional Condomínios
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.
Autor
-
Jornalista com larga experiência em reportagens e edição de revistas segmentadas. Editora do site e Instagram O melhor lugar do mundo, voltado à decoração, arquitetura e design. Editora da Panamby Magazine, publicação dirigida aos moradores do bairro do Panamby, região do Morumbi, em São Paulo. Desde 2005 também atua na área da educação, com publicações especializadas e cursos para formação de professores.