Uma alternativa viável
Abastecer o condomínio com água proveniente de um lençol subterrâneo tem sido uma solução adotada por muitos edifícios. A opção pela perfuração de um poço visa, essencialmente, uma economia na conta de água do condomínio. Segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), na região metropolitana de São Paulo, enquanto a Sabesp fornece 67 m3 de água por segundo à população, os poços já representam 6 m3 por segundo, ou quase 10% do que é fornecido pela concessionária. “Grandes consumidores, como shoppings, hospitais, hotéis e condomínios utilizam uma parte de água da Sabesp e uma parte originada do poço.
É uma solução altamente viável”, informa Joel Felipe Soares, presidente da ABAS – www.abas.org – entidade formada por empresas do setor, ambientalistas e profissionais interessados na difusão do uso racional da água. “Nossa preocupação é impedir que façam com os lençóis subterrâneos o mesmo que fizeram com os mananciais e rios”, explica.
Cavar um poço no condomínio é uma obra rápida. Perfura-se um poço de 200 a 300 metros de profundidade em quatro dias. Justamente por essa rapidez torna-se difícil uma fiscalização da qualidade dos serviços prestados. Soares acredita que síndicos e condôminos devem ser alertados para os cuidados com que a perfuração de um poço deve ser cercada. Ao analisar um orçamento, deve-se verificar em primeiro lugar se a empresa tem registro no CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e se há um geólogo responsável pela obra. Além disso, a empresa precisa apresentar uma autorização de outorga, em nome do condomínio, obtida junto ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) – www.daee.sp.gov.br – órgão estadual que rege a construção de poços e controla sua utilização. Um seguro para cobrir eventuais acidentes de trabalho também é importante. “Se a empresa não for tecnicamente apta, ela faz um buraco no jardim do condomínio, bombeia a água e diz que o poço está pronto. É preciso exigir o projeto do poço e as capacitações técnicas da empresa”, orienta o presidente da ABAS.
Responsabilidades
Segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), a bacia da região metropolitana de São Paulo tem capacidade produtiva de fornecer 25 m3 de água por segundo. Por enquanto, apenas 6 m3 de água por segundo são explorados. “Há uma margem muito grande a ser explorada”, garante Joel Felipe Soares, presidente da entidade.
Porém, essa exploração precisa ser feita de maneira responsável. A perfuração deve seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o setor. Entregando o serviço a uma empresa idônea, que siga as normas construtivas, não há riscos do condomínio obter água contaminada nem de que a obra comprometa os aqüíferos subterrâneos. “Desde que o poço seja feito dentro das normas da ABNT não há a menor chance de contaminação. O poço é uma obra de engenharia. A terra é um organismo vivo e o poço exige um projeto, a utilização de materiais adequados e uma descontaminação no final da obra”, aponta Soares.
A preocupação com a qualidade com que é feita a perfuração do poço é justificável, já que o condomínio será o responsável pela qualidade da água que abastecerá os apartamentos. Depois da obra feita, o condomínio deve fazer um contrato com um laboratório de análises que periodicamente deve analisar a potabilidade da água. Uma manutenção periódica também deve ser providenciada para o equipamento de bombeamento, que garante que a água do poço chegue aos reservatórios do prédio. Uma vez por ano ainda é preciso providenciar uma limpeza química do poço. “Com esses cuidados, fica garantida uma vida útil de 50 anos para o poço”, diz Soares.
O condomínio que conta com um poço artesiano continua ainda pagando à Sabesp a taxa de esgoto. A empresa instala um hidrômetro para medir apenas os resíduos que são jogados para a tubulação, que continuam sendo coletados e tratados pela Sabesp.
Poços: um pouco de história
Os primeiros vestígios da utilização das águas subterrâneas são de 12.000 anos antes de Cristo. Acredita-se que os chineses foram os primeiros a dominar a técnica de perfurar poços, e na Bíblia existem relatos de escavações para obtenção de água potável. O termo “poço artesiano” data do século XII, ano de 1.126, quando foi perfurado na cidade de Artois, França, o primeiro poço desse tipo.
As águas subterrâneas correspondem a 97% de toda a água doce encontrada no planeta (excetuando-se as geleiras e calotas polares). As reservas subterrâneas geralmente são formadas e realimentadas pelas águas de chuvas, neblinas, neves e geadas, que fluem lentamente pelos poros das rochas. Normalmente esses reservatórios possuem água de boa qualidade para o uso humano (água potável), devido ao processo de filtragem pelas rochas e por reações biológicas e químicas naturais. Por não estarem na superfície, ficam mais protegidas de diversos agentes poluentes do que as águas de rios e lagos.
Tipos de poços
Quando a própria pressão natural da água é capaz de levá-la até a superfície, temos um poço artesiano. Quando a água não jorra, sendo necessária a instalação de aparelhos para a sua captação, tem-se um poço semi-artesiano. Os poços artesiano e semi-artesiano são tubulares e profundos. Existe também o poço caipira, que obtém água dos lençóis freáticos – rios subterrâneos originados em profundidades pequenas. Devido ao fato de serem rasos, os poços caipiras estão mais sujeitos a contaminações por água de chuva e até mesmo por infiltrações de esgoto.
Muito a ser explorado
Segundo dados da Sabesp, nos últimos 25 anos foram perfurados por volta de 12 milhões de poços no mundo. No Brasil, observou-se nas últimas décadas um aumento da utilização da água subterrânea para o abastecimento público. Considerando apenas a região metropolitana de São Paulo, por volta de 3 milhões de habitantes recebem água proveniente de poços profundos.
Esse crescimento no uso das reservas subterrâneas não acontece por acaso. O Brasil possui uma reserva subterrânea com mais de 111 trilhões de metros cúbicos de água. De acordo com dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), sob oito estados brasileiros e três países vizinhos – Uruguai, Paraguai e Argentina – encontra-se a maior reserva de água pura do planeta. Chamado de Aquífero Guarani, essa reserva encontra-se a uma distância de até 200 metros da superfície, na região de Araraquara e Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo.
Grande parte das cidades brasileiras com população inferior a 5.000 habitantes, com exceção do semi-árido nordestino e das regiões formadas por rochas cristalinas, tem capacidade de serem atendidas pelas reservas subterrâneas. O Estado de São Paulo é atualmente o maior usuário das reservas subterrâneas do país. Cerca de 65% da zona urbana e aproximadamente 90% das suas indústrias são abastecidas, de forma parcial ou total, pelos poços. A cidade de Ribeirão Preto, por exemplo, é totalmente abastecida por reservas subterrâneas.
São Paulo, 2 de novembro de 2009.