População da 3ª idade cresce e requer atenção dos síndicos

No dia 1º de outubro o Brasil comemorou o Dia do Idoso, população que vem crescendo e começa a despertar os condomínios para suas necessidades. É preciso garantir a inserção e apoio aos moradores da 3ª idade, auxiliando-os na autonomia e no exercício da cidadania.

O número de idosos no Brasil está aumentando, o que aponta para o envelhecimento da população em médio prazo, situação que começa a ser observada nos condomínios, especialmente dos bairros mais centrais de São Paulo. “O País tem 13% da sua população idosa, acima de 60 anos, isto é padrão europeu de envelhecimento”, afirma Marília Berzins, presidente da ONG Olhe Observatório, que desenvolve o Projeto Condomínio Amigo. A iniciativa é voltada à capacitação de zeladores, porteiros e moradores, entre outros, com vistas a “identificar e fortalecer as redes de apoio, atendimento e serviços para idosos”. Proposta do gênero é desenvolvida também pelo Grupo Bradesco Seguros em parceria com o Senac do Rio de Janeiro, dentro do Programa Porteiro Amigo do Idoso.

A tendência de envelhecimento está expressa na proporção de pessoas com 60 anos ou mais sobre o conjunto da população (13% ou 26,1 milhões de pessoas em 2013 contra 10% em 2010, segundo o IBGE), em contrapartida à queda da participação de crianças e jovens. A faixa etária de zero a 9 anos encolheu de 18,7% em 2001 para 13,9% (28,3 milhões) em 2013. Projeções da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do Governo de São Paulo, apontam que a Capital terá mais idosos que jovens em 2027.

Marília Berzins, assistente social mestre em Gerontologia Social e doutora em Saúde Pública, diz que o fenômeno abrange, principalmente, as áreas mais centrais da cidade. O Boletim CEInfo, da Coordenadoria Regional de Saúde da Prefeitura, revela que os bairros de maior concentração de idosos são Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Jardim Paulista e Vila Mariana. Em termos de zonas, a Sudeste lidera o ranking, seguida da Norte e Sul. “Muitos deles vivem sozinhos e um dia podem cair, se acidentar dentro de casa e sequer conseguir pedir ajuda”, destaca. Por isso a ideia de capacitar os funcionários dos prédios “para que tenham um olhar diferenciado para o idoso e percebam quebras de rotina, podendo auxiliá-los”. Edifícios como o Copan, no centro da cidade, e um conjunto residencial na Mooca já realizaram o treinamento, diz.

MUDANÇA DE FOCO

Pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revela, a propósito, um dado significativo: “Os porteiros foram apontados pelos idosos como seus melhores amigos”, afirma Wallace Hetmanek, psicólogo pós-graduado em gerontologia e instrutor dos cursos promovidos na parceria entre o Grupo Bradesco Seguros e o Senac-RJ. Lançada em 2010 no Rio de Janeiro, a iniciativa foi ampliada para outros estados brasileiros, como São Paulo. “O curso fornece protocolos sociais para que os porteiros façam contatos periódicos com esses moradores e também lhes deem suportes de segurança.”

Segundo Wallace, o programa desenvolve um “olhar humano”, a partir do qual se estabelece a cumplicidade entre idosos e funcionários e ambos passam a ter “uma relação quase familiar”. “Os funcionários não acreditam que tenham esse papel, esse é o grande impacto que percebo entre aqueles que frequentam o curso.” A experiência foi vivenciada pelo zelador Fernando Justino, do Condomínio Top Village, de Alphaville, na Grande São Paulo, que fez o curso. “O programa abre os olhos para situações que a gente não costuma perceber, por exemplo, o idoso sempre tem urgência das coisas, quer um tratamento diferenciado, necessita de atenção, ao mesmo tempo em que apresenta dificuldade de locomoção, audição e visual. Percebemos o que isso significa ao nos colocarmos no lugar dele”.

Na prática, isso representa mudar o tratamento com os idosos, diz Fernando Justino, passando a observar sua rotina, a levar-lhes as encomendas e a substituir o interfone pela visita sempre que houver necessidade de uma conversa. A síndica Kelly Remonti conta que a ideia é treinar os oito porteiros do condomínio, “para que tenham a dimensão do que é ser idoso”. No Top Village, o número de moradores nessa faixa etária passou de 24 para 35 em quatro anos. Entre as solicitações mais comuns, está o auxílio para o deslocamento físico (o condomínio está fazendo obras de acessibilidade) e o suporte diante de acidentes domésticos, “pois a portaria é a primeira área acionada”.

Entretanto, outras ações são possíveis e bem-vindas. O Edifício Parque do Olimpo, do Jardim da Saúde, zona Sudeste de São Paulo, implantou há oito anos o “Grupo de Amor à Melhor Idade”, iniciativa da síndica Railda Damaceno Silva. Ela promove encontros periódicos entre os idosos para comemorar aniversários ou ocasiões como a festa junina. “Desde que começamos, o grupo mudou bastante, alguns mudaram, outros faleceram. Mas é importante continuar, porque a maioria fica sozinha, as pessoas envelhecem e se isolam muito. Porém, elas ficam felizes quando passam a ter esse espaço e liberdade para conversar umas com as outras.” Os encontros propiciam novas amizades, que acabam frutificando no dia a dia, com passeios conjuntos, conversas diárias e apoio mútuo.

AÇÕES NA MEDIDA CERTA

Duas posturas principais costumam caracterizar a faixa etária do idoso, definida pelas leis brasileiras a partir dos 60 anos: uma ativa e outra mais passiva, afirma a fisioterapeuta Vera Lúcia Cardoso, com especialização em Yoga e pós-graduada em Neurologia pelo Hospital Albert Einstein. “Disso dependerá a forma como o condomínio definirá as ações para esse público”, afirma. Em geral, quem se mostra mais passivo “não quer atrapalhar” e deve ser estimulado a participar e a se integrar, principalmente através de atividades físicas, que promovam a saúde. Programar caminhadas e alongamentos periódicos em grupo, com orientação profissional, “poderá tirá-los de dentro de casa”. “Eles precisam desse incentivo, de dar movimento ao corpo. O idoso está morrendo silenciosamente dentro de casa, eu vejo isso todos os dias”, alerta.

De outro modo, a psicopedagoga especialista em Gestão de Programas Intergeracionais, Claudia Oliveira, pondera que as iniciativas do condomínio devem ser apropriadas. “O idoso deve fazer atividade física para viver, da forma como gosta, com bem-estar, sem exageros, dentro de seu tempo e sentindo o momento presente. O principal é cuidar das relações humanas no condomínio, tecendo comunidades e fortalecendo vínculos de vizinhança, através de atividades conjuntas, festas etc.”, reforça Claudia, coordenadora da ONG IPROS e da Rede Maturis (que realiza palestras gratuitas para a 3ª idade). Finalmente, para os idosos acometidos por doenças, que apresentam algum tipo de comprometimento físico, ela defende orientação aos funcionários para que saibam lidar com as necessidades desses moradores.

Matéria publicada na edição – 206 de out/2015 da Revista Direcional Condomínios

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