Equilíbrio e harmonia na “antessala” de cada morador
Quando a ex-secretária bilíngue e atual designer de interiores Valquiria Giroto de França mudou-se para o Condomínio Morada do Horto, no Parque Mandaqui, zona norte de São Paulo, encontrou um prédio “largado e com infiltração”. A situação conflitava com o perfil de seus moradores e do empreendimento, um edifício de 15 andares e apartamentos de quatro dormitórios. Passados três anos e já em seu segundo mandato como síndica do local, Valquiria providenciou obras de impermeabilização, contratou a pintura e agora está desenvolvendo o projeto de decoração do salão de festas. “A área comum é a porta de entrada de cada apartamento”, uma espécie de “ante-sala”, observa a designer, que defende uma concepção neutra para o hall social e demais ambientes de circulação e uso coletivo, de forma a proporcionar harmonia e equilíbrio a todas as faixas etárias.
Valquiria pondera que a decoração parece “uma tarefa muito simples”, mas a “responsabilidade de se planejar o hall social, ambiente que é a porta de entrada da casa de tantas famílias, é imensa, muitos detalhes podem comprometer inclusive a segurança de quem circula por ali”. “Normalmente encontramos halls decorados pelos próprios condôminos ou síndicos, sem orientação da escolha dos móveis e ocupação dos espaços. A iluminação é sempre excessiva ou mínima, os móveis encostados nas paredes e frequentemente antigos ou até mesmo provenientes de descarte.” Segundo a arquiteta Liz Andrea Kawahara Belhot Chen, equilíbrio e harmonia são obrigatórios aos projetos de decoração. “É preciso tornar o espaço agradável, levando em conta aspectos como estilos, dimensões, luminosidade, iluminação dos objetos e posicionamento.”
A Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD) recomenda a contratação de profissional habilitado por curso técnico ou superior na modalidade, ou ainda um arquiteto que tenha frequentado a cadeira específica. A profissão não está regulamentada, mas há um projeto de lei (5712/2001) tramitando no Senado Federal e em discussão junto às entidades representativas. A ABD defende pelo menos a formação técnica do designer, porque “um projeto de interiores deve considerar a estrutura do edifício, sua localização, o contexto social e legal do uso e o respeito ao meio ambiente”. Além “das necessidades do cliente e sua adequação às soluções estruturais e de sistemas e produtos”.
O designer de interiores propõe soluções que conciliam “acessibilidade, iluminação, acústica, conforto térmico, armazenamento de coisas, entre outros”, destaca a ABD. O objetivo é garantir a saúde, conforto, segurança, durabilidade e, segundo Liz Andréa, bom gosto. “Os objetos precisam estar dimensionados com o ambiente para que eles ‘conversem’ com este entorno”, observa. Um dos problemas mais comuns aos condomínios reside justamente na discrepância entre os estilos dos objetos utilizados na decoração, afirma Liz. “Misturar estilos é legal, mas é preciso saber fazer.” Valquiria Giroto ressalva, por sua vez, que “os estilos dos móveis podem variar de acordo com a característica da construção”. “Hoje em dia é comum encontrarmos edifícios neoclássicos onde curvas e detalhes como colunas e reentrâncias estão presentes, mas mesmo assim deve-se tomar muito cuidado com o exagero do clássico”, recomenda.
Matéria publicada na Edição 140 de outubro de 2009 da Revista Direcional Condomínios.