Porteiro, o treinamento necessário

A pandemia do novo Coronavírus realçou a importância dos funcionários do condomínio. Entre eles o porteiro, que está na linha de frente da triagem dos acessos ao prédio e que tem o seu dia comemorado neste mês (em 9 de junho). Peça-chave da segurança, o profissional precisa de treinamento constante.

Porteiro Alan Moreira Duarte

Porteiro Alan Moreira Duarte: Reconhecimento e premiação depois de abortar duas tentativas de invasão

Com apenas 28 anos de idade, casado e dois filhos, o porteiro Alan Moreira Duarte recebeu uma premiação no começo do ano do Condomínio Top Village, localizado em Alphaville, Região Metropolitana de São Paulo. O reconhecimento veio depois que Alan, no último dia de 2019, impediu que dois adolescentes invadissem o residencial de três torres e 156 unidades. “Eram dois adolescentes, que chegaram num Corolla cinza; primeiro eles falaram que visitariam a tia num determinado apartamento. Quando eu disse que não tinha ninguém lá, passaram outro número, aí já percebi que algo estava errado. Eles estavam inquietos, com a voz trêmula, voltaram para o carro. Era uma tarde de um dia da semana, por volta de 15h. Dei o alerta para a parceira de trabalho e o gerente predial, Fernando Justino. Depois o Fernando confirmou pelas imagens que os adolescentes faziam parte de uma gangue que atuou na Baixada Santista e que começava a atacar a nossa região.”

O fato foi comunicado para outros condomínios da vizinhança. Alan Moreira havia enfrentado uma tentativa anterior de invasão por dois homens que se passavam por prestadores de serviços, mas conseguiu perceber e bloquear o acesso. Na época, o Condomínio Top Village ainda não havia feito a modernização dos seus acessos e a guarita ficava próxima do primeiro portão da eclusa. Com as obras, foi instalado um terceiro portão, rente ao alinhamento da calçada, já bem distante da guarita.

Alan Moreira é funcionário terceirizado, começou cedo na função, aos 21 anos, e está há quatro no Top Village. Cumpre no local uma jornada das 7h às 19h, em escala 12X36. O condomínio possui oito funcionários para o controle de acesso, à noite um deles faz ronda pelas áreas comuns do residencial. Com 2º grau completo, Alan recebeu treinamento do curso “Porteiro Amigo do Idoso” (do Bradesco Seguros) e faria uma capacitação em segurança pela Associação de Segurança de Alphaville, evento suspenso por causa da pandemia do novo Coronavírus. Ele diz que ficou assustado com o episódio de dezembro passado, pois a decisão do porteiro tem que ser rápida e certeira, ela é decisiva para proteger os funcionários e condôminos. Segundo Alan, o porteiro precisa estar sempre muito atento a cada visitante e morador, conhecer bem a rotina de todos eles para poder detectar quando algo estranho acontece na rotina dos condôminos.

De acordo com Kelly Remonti, síndica e moradora do residencial, Alan recebeu um vale presente, por se destacar com sua postura proativa e demonstrar “espírito crítico na hora de olhar uma situação e perceber anormalidades, além de saber agir diante disso”. Em ambos os casos evitados pelo porteiro, “Alan acompanhou exatamente os processos que tínhamos tratado em relação ao controle de acesso e segurança, seguiu o protocolo estrito”, observa Kelly.

“Protocolo não é chatice, é necessário”, pontua a síndica. “Essas regras precisam ser atendidas, o porteiro deve assimilar cada passo, enxergar uma eventual malícia que esteja por detrás do comportamento de quem pede liberação para entrar no condomínio. Ou seja, ele deve ficar o tempo todo ‘ligado na tomada’. Se encontrar algo diferente, se a informação não estiver encaixando, o porteiro precisa ter capacidade analítica para agir.” Essas são as qualidades que Kelly Remonti identificou no porteiro Alan e que devem espelhar a postura da equipe, afirma.

Reflexos da pandemia sobre a portaria

Os funcionários do Condomínio Top Village, mesmo os terceirizados, recebem treinamento contínuo, mas a síndica observa que a função passará por mudanças em função das novas necessidades criadas pelo período da quarentena. “Os condomínios terão que desenvolver a logística na portaria, pois aumentou muito o volume de encomendas pedidas pelos moradores. “Como receber e gerenciar isso tudo?”, questiona. No Top Village, uma antiga sala de estudos dos moradores foi realocada para armazenar e liberar os pacotes que chegam para os condôminos. “Tivemos que rever os controles que tínhamos antes. Como há dois porteiros trabalhando simultaneamente, no mesmo período, um deles passou a ter essa função de receber e entregar as mercadorias. Formamos uma espécie de sala de entreposto”, descreve a síndica.

A síndica profissional Vanessa Munis também identifica mudanças geradas pela pandemia: “A Covid 19 aumentou a responsabilidade da portaria, pois aumentou também a criminalidade. Tive a visita de vagabundos nos condomínios se passando por agentes de saúde e, mais recentemente, como funcionários disfarçados da concessionária de energia, em função da auto leitura. Passamos aos nossos funcionários uma orientação constante de tudo o que tem que ser realizado. Costumo fazer parte dos grupos de segurança dos condomínios que administro, intensificamos o rigor no atendimento às normas sanitárias e de segurança. A equipe de funcionários surpreendeu, eles se mostraram guerreiros nesta pandemia, não imaginava o carinho que eles tinham pela gestão, pelo condomínio, eles vestem a camisa.”

Posturas, atribuições & desafios do profissional da portaria

O consultor da área de riscos Carlos Alberto dos Santos (foto) desenhou um mapa de atribuições da portaria, uma espécie de guia que o especialista tem utilizado para oferecer treinamentos na área. Segundo Carlos Alberto, este profissional deve cuidar desde sua apresentação e posturas no trabalho, até do engajamento em normas internas do prédio (de triagem, por exemplo) e das demais tarefas que lhe são atribuídas.

Em termos de comportamento, a atenção precisa ser dada ao asseio (com cabelo sempre cortado, penteado e/ou preso, no caso das mulheres), ao uso correto do uniforme e a posturas que indiquem atenção permanente à atividade. Aqui é preciso permanecer no interior da portaria/guarita, com porta trancada e sem conversas com o morador, além de evitar distrações com o celular ou aparelhos de televisão.

O porteiro deve ainda atender às regras de uso do rádio de comunicação interna, saber acionar os canais adequados para socorro em caso de emergência, conservar os equipamentos, conhecer o sistema de alarme de incêndio do prédio, agir de forma pronta e segura no encaminhamento de situações de pessoas presas em elevadores, ter clareza das posturas a serem adotadas mediante o acesso de policiais, corretores de imóveis e oficiais de Justiça, e estar treinado para perceber a presença de pessoas suspeitas.

De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), instituída pela Portaria 397/2002, do então Ministério do Trabalho, na função do porteiro destacam-se as tarefas de triar, recepcionar e orientar visitantes e hóspedes; zelar pela guarda do patrimônio ao observar a movimentação e o comportamento das pessoas, de forma a evitar perdas, acidentes e demais anormalidades; controlar o fluxo de pessoas e veículos, identificando- os e orientando-os em relação ao seu destino; receber mercadorias, correspondências e encomendas; realizar serviços simples de manutenção. É diferente da atribuição do vigilante, cuja atividade é regulamentada pela Lei Federal 7.102/83 e pela Portaria 3.233/2012, que estabelecem a obrigatoriedade de curso de formação reconhecido pela Polícia Federal, pois esse profissional tem a possibilidade de portar arma.

Matéria publicada na edição – 257 – junho/2020 da Revista Direcional Condomínios

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