Porteiro – Superação Nota 10

Porta de entrada dos condomínios, os porteiros precisam gostar da função e se especializar para enfrentar as dificuldades e peculiaridades que a atividade exige, como o contato cotidiano com os moradores.

Funcionários essenciais para o bom funcionamento dos condomínios, os porteiros devem controlar a entrada de visitantes, registrar a chegada de encomendas, fazer cumprir os procedimentos de segurança, entre outras obrigações. Nem sempre respeitados pelos condôminos, os porteiros já se transformaram até em destaque de programa humorístico, através do personagem Porteiro Zé (criado por webdesigners, está presente na TV, em sites e conteúdos de celulares). Mas, brincadeiras à parte, a realidade tem mostrado que esses profissionais vêm se especializando em busca da valorização da categoria. Afinal, é no porteiro que o morador, visitante ou prestador de serviço esbarra assim que chega a um edifício. “Ele é a porta de entrada do condomínio. Um funcionário educado, simpático, asseado, demonstra que aquele é um condomínio bem administrado”, compara Paulo Ferrari, presidente do Sindifícios (Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo).

O Sindifícios calcula em 250 mil o número de funcionários em edifícios na cidade de São Paulo. Pelo menos a metade, ou 125 mil trabalhadores, são porteiros, número bem superior ao de zeladores – já que os prédios que contam com portaria têm ao menos dois funcionários para esse setor. Segundo Ferrari, há uma grande migração de funcionários de outros setores da economia, como a construção civil, para os condomínios. “Muitos vêm de outras carreiras sem a menor noção de funcionamento de um condomínio. Por isso, é fundamental a qualificação do funcionário de portaria. Ele deve conhecer o edifício como um todo. O curso do Sindifícios dá ao porteiro noções de relações interpessoais, de segurança e manutenção predial”, aponta o presidente do sindicato. Um ponto, porém, preocupa a entidade: a confusão entre segurança e porteiro. “A função do porteiro não é fazer segurança, mas identificar quem entra no condomínio”, sustenta.

Para a administradora de condomínios Rachel Mugayar, com 16 condomínios em sua carteira, especialmente de médio e alto padrão, o porteiro precisa fazer, sim, o papel de segurança ao identificar adequadamente quem entra e sai do prédio. “Ele deve abrir o portão somente após confirmar a visita no apartamento. Outra atribuição dele é observar as imagens do CFTV existentes na portaria. Mas não entendo isso como função específica de um segurança”, acredita. Especialmente para o síndico, mais do que uma denominação ou outra, o que importa é ter um funcionário de confiança e que exerça a função com responsabilidade. Um porteiro que chega atrasado ou falta frequentemente, por exemplo, compromete todo o funcionamento do condomínio. “Percebo que, por segurança, os síndicos se preocupam em manter um pessoal antigo e de confiança na portaria”, aponta a administradora Rachel. Enfim, o funcionário pode ser até menos prestativo do que o síndico gostaria, mas em primeiro lugar está a confiança de saber que ele não facilitará a entrada de um ladrão no prédio.

Respeito às normas

O porteiro Aluizo Rodrigues da Silva segurança do condomínio. Trabalha das 6 às 14h20 em um prédio com 44 apartamentos no bairro do Paraíso há quase três anos. Antes, trabalhou à noite na portaria de um condomínio no Morumbi por nove anos. “Só saí de lá porque a portaria foi terceirizada”, recorda. Para Aluizo, é fundamental respeitar as regras do condomínio. “Há moradores que acham que o porteiro pode fazer as coisas do jeito dele. Mas, temos regras. É preciso estar atento, portaria é local de muita responsabilidade”, aponta. Aluizo, que já reúne 15 anos na função, diz que procura exercer seu trabalho sem que ninguém lhe chame a atenção. “Quero fazer tudo 100%.” Apesar da atividade exigir paciência para lidar com o eventual mau humor de algum morador, ele considera a portaria um excelente local para trabalhar: “Lidar com o ser humano é muito complicado. Mesmo assim, acho condomínio um lugar seguro e garantido para o funcionário.” A síndica do condomínio, Denise S. Levy, aprova a conduta de Aluizo na portaria e procura dar um respaldo aos funcionários: o prédio não tem zelador, apenas um faxineiro em horário comercial, e todos da portaria fizeram ou irão fazer curso de zeladoria.

Prédios grandes exigem atenção ainda maior do porteiro. Que o diga Paulo Roberto Acelino, porteiro das 6 às 14 horas em um condomínio com 174 apartamentos e dois blocos, na Bela Vista. Mesmo com tanta gente e um intenso entra e sai de moradores visitantes, ele afirma que não tem problemas de relacionamento. “Para sermos tratados com respeito temos que primeiro nos dar respeito. Trabalho sempre bem humorado, e não é porque sou porteiro que irei tratar alguém de forma bruta. É preciso dialogar. Trato os moradores como se fossem pessoas da minha família. Afinal, fico mais tempo no serviço do que em casa”, explica Acelino, que nem pensa em se tornar zelador, caminho natural para muitos porteiros. Hoje, cursa o Ensino Médio à noite no Sindifícios. “Comecei como auxiliar de serviços gerais, o que sem dúvida me ajudou muito a conhecer os moradores. Já tive até oportunidade para sair da área de edifícios, mas não me interesso. Gosto muito de ser porteiro.”

Outra história de dedicação à portaria é a de Jurandir Ferreira de Andrade, há 18 anos trabalhando em condomínios, sempre à noite. Ele exerce a função há cerca de oito anos em um condomínio no Butantã, com 44 apartamentos. “Quando o corpo está acostumado, o sono não vence. Hoje, gosto muito mais de trabalhar à noite do que de dia”, aponta. A síndica do edifício, Thais Helena Palmiero Muzaranha, confirma a dedicação de Jurandir: “Vejo muitos síndicos reclamando de porteiros noturnos que dormem em serviço. Nunca percebi nele fadiga pelo horário e sinto que a responsabilidade dele vai além do tradicional, é na verdade um carinho com o próprio condomínio.”

A síndica comenta que Jurandir nunca falta, e que sempre resolve seus problemas nos dias de descanso. Outra qualidade do funcionário é a facilidade para lidar com situações problemáticas envolvendo condôminos. “Tínhamos um morador que costumava ouvir som muito alto até tarde. Jurandir sempre teve muita diplomacia para lidar com o caso. Ele contorna a situação de uma forma que até mesmo eu não conseguiria.” A síndica relata que na conta detalhada de telefone nunca percebeu telefonemas no horário noturno, e que o porteiro jamais a incomoda de madrugada. “Ele tem uma postura educada, é centrado e calmo. Tomara todos os síndicos tivessem um porteiro como ele”, arremata a síndica.


Matéria publicada na edição 147 jun/10 da Revista Direcional Condomínios

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