“A escada pressurizada cria assim uma rota segura e livre de fumaça para que os ocupantes do edifício possam evacuar o prédio em uma situação de emergência”
Parece óbvio quando falamos da importância dos sistemas de segurança e combate a incêndio, não é mesmo? Mas, infelizmente, algumas tragédias acabam acontecendo e nos alertando para a real necessidade de olharmos com cuidado e responsabilidade para este tema.
Um exemplo marcante e traumático foi o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia deixou 242 mortos e 680 feridos, a segunda maior em termos de mortes em um incêndio no Brasil. Mais de 90% das vítimas morreram por conta da inalação de fumaça e não por queimaduras. Produtos de combustão, no caso, monóxido de carbono e cianeto impedem que o corpo consiga absorver o oxigênio, asfixiando a vítima – esses componentes foram os grandes responsáveis pela intoxicação no local e tiveram origem na combustão do revestimento acústico da boate, uma espuma de poliuretano.
Este acidente na boate Kiss retrata uma realidade: A inalação de fumaça é a grande responsável pela maioria das mortes em um incêndio, quase 80% do total. A fumaça inalada causa lesões térmicas no trato respiratório (queimaduras pela alta temperatura da fumaça), asfixia por inchaço nas vias aéreas e por inalação de substâncias como o monóxido de carbono e o cianeto, citados anteriormente, que impedem a absorção de oxigênio, além de irritações, edemas e falência dos pulmões, causados pela inalação de outras substâncias tóxicas presentes na fumaça.
Dentro deste contexto, entre outros mecanismos de proteção contra incêndio, abordamos neste texto a pressurização de escadas de incêndio. A Instrução Técnica Nº 13/2019, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, fala sobre o assunto e tem os seguintes objetivos:
1.1 “Estabelecer os requisitos mínimos necessários para o dimensionamento da pressurização de escadas de segurança em edificações”;
1.2 “Manter as escadas de emergência livres da fumaça, de modo a permitir a fuga dos ocupantes de uma edificação no caso de incêndio. Esse sistema também pode ser acionado em qualquer caso de necessidade de abandono da edificação”.
Esquema geral do sistema de pressurização
Fonte: Instrução Técnica Nº 13/2011 do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo. (Nota.: IT atualizada em 2019)
Os elementos básicos de um sistema de pressurização são:
• Sistema de acionamento e alarme;
• Ar externo suprido mecanicamente;
• Trajetória de escape de ar;
• Fonte de energia garantida.
O sistema de alarme, através de detectores de fumaça e acionadores manuais, irá sinalizar a presença de uma emergência para a central de alarmes, a qual estará instalada na sala de controle central de serviços do edifício, na portaria ou guarita de entrada do prédio. A central de alarmes deverá sinalizar o setor atingido e acionar o sistema de pressurização. Um ventilador utilizará ar externo, captado de maneira a evitar a aspiração de fumaça proveniente do incêndio, para insuflar e pressurizar toda a escada de incêndio, através de dutos e grelhas de ‘insuflamento’ distribuídas ao longo da escada. Este ar deverá ter escape para fora da área pressurizada e para fora edificação.
Estágios
O sistema de pressurização pode ser de um ou dois estágios. No caso de um estágio, a escada será pressurizada somente durante uma emergência, com um diferencial de pressão de 50 Pa. Já o sistema de dois estágios possui uma pressurização contínua com um nível baixo de pressurização em 15 Pa, propiciando uma segurança mínima, além de renovação de ar na escada em situações normais de operação. Quando o sistema de alarme é acionado por uma emergência, o segundo estágio de pressurização é também acionado, levando o diferencial de pressão para os 50 Pa. Haverá ainda um registro de ‘sobrepressão’, o qual irá aliviar a pressão na escada caso seja necessário, impedindo que ela ultrapasse 60 Pa.
A escada será acessada através de portas corta-fogo (PCF,) que permitem vazamento de ar pressurizado através de suas frestas, as quais possuem áreas típicas de escape de acordo com o modelo. Com todas as portas fechadas, o sistema de pressurização deverá manter os diferenciais de pressão já mencionados. Quando uma PCF é aberta durante uma emergência, o sistema de pressurização deverá manter uma velocidade mínima de 1 m/s de ar escapando através desta porta.
Com relação à fonte de energia, é também necessária a garantia de suprimento de energia elétrica para todos os equipamentos deste sistema. Isto será realizado por um grupo motogerador acionado automaticamente quando houver interrupção do fornecimento normal de energia. Nos casos em que não for obrigatório o uso de motogerador, o sistema de pressurização deverá ter uma alimentação independente da geral, garantindo seu funcionamento caso a alimentação geral seja desligada.
A escada pressurizada cria assim uma rota segura e livre de fumaça para que os ocupantes do edifício possam evacuar o prédio em uma situação de emergência.
Quando o edifício estiver concluído e o sistema for entregue, são realizados testes em todos os componentes e depois um teste de aprovação, onde será verificado se tudo está instalado e funcionando de acordo com o previsto no projeto.
Entretanto, para que tudo siga funcionando perfeitamente, uma série de cuidados devem ser tomados, de maneira que, na eventualidade de uma emergência, o sistema cumpra o seu papel e salve vidas. Isto inclui testes periódicos no sistema, pelo menos a cada seis meses. Uma ampla vistoria deve ser realizada por profissionais treinados, que utilizam checklists para verificar cada item do sistema. Deverá haver um manual de operação e manutenção do sistema, apontando todos os itens a serem verificados e a periodicidade para tal. Além disso, são verificados os diferencias de pressão do sistema.
Todos os componentes do sistema de pressurização devem ser submetidos à manutenção preventiva e corretiva. Podemos citar:
• Detectores de fumaça;
• Acionadores manuais;
• Central de alarme;
• Painel de comando;
• Ventiladores e todos seus componentes, como motores, correias e mancais;
• Dutos, sua integridade física, de seus suportes e proteções térmicas;
• Vazamentos;
• Portas corta-fogo;
• Sistemas de fornecimento de energia, como o grupo motogerador;
• Sistema de escape de ar, como o damper de sobrepressão.
A própria IT Nº13/2019 recomenda que os sistemas de emergência devam ser colocados em operação uma vez por semana, verificando se os ventiladores estão em funcionamento.
Para finalizarmos, é importantíssimo lembrar que todos estes cuidados são de responsabilidade do proprietário da edificação e/ou de seu representante legal, como o síndico.
Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.