Nestes anos trabalhando com gestão de resíduos em condomínios, percebo alguns gargalos para implantação da coleta seletiva e gostaria de dividir com síndicos, gestores e condôminos.
A maioria dos síndicos que me contratou até hoje não acredita na viabilidade do projeto, com discursos como “No meu prédio eu tenho certeza que não irá funcionar”. Por que será que não irá funcionar? Tenho certeza absoluta que com planejamento, comunicação e treinamento o projeto irá ser efetivo.
Senão, vejamos:
Falta de planejamento
Para que um projeto de coleta seletiva seja um sucesso, o primeiro passo é fazer um bom planejamento como qualquer outro projeto. O material reciclável, em sua maioria, tem seu volume dez vezes maior que o peso, portanto, é necessário um espaço para armazenar.
Em média, um apartamento com duas pessoas produz um saco de 100 litros por semana de recicláveis, e uma família de 4 pessoas, 200 litros. Com esses dados, você precisa ter certeza de quem irá coletar, e quantas vezes por semana.
Exemplo: Um prédio com 50 apartamentos com perfil de 2 pessoas por apartamento terá o volume médio semanal de recicláveis de 5 mil litros. No condomínio há um depósito para armazenamento de 3 mil litros!
Neste caso, o condomínio terá 2.500 litros que não conseguirá armazenar. Como solução é necessário comprar dois contêineres de mil litros cada e, se mesmo assim, não tiver espaço onde colocá-los, o prédio precisará de pelo menos duas coletas por semana para não criar acúmulo de recicláveis.
A coleta ainda representa o grande impasse para que a reciclagem possa deslanchar no Brasil. Na cidade de São Paulo são coletados diariamente pela prefeitura 17 mil toneladas de lixo, sendo que somente 2% são destinados para a reciclagem. Portanto, é melhor não depender da prefeitura. Contrate uma empresa qualificada ou uma cooperativa para retirada.
Esqueça a ideia do passado, que os recicláveis irão gerar renda ao seu condomínio. Continuar batendo nessa tecla poderá ser um fator que impedirá a realização do projeto em seu condomínio.
Falta de comunicação
Outro aspecto muito importante para o sucesso do projeto da coleta seletiva é uma comunicação vasta e objetiva, que irá completar e reforçar o planejamento e o treinamento.
Entenda que um prédio é idêntico a uma empresa ou qualquer outra organização. Sem comunicação, nada funciona. As pessoas não entendem os motivos, e os esforços empregados no processo vão por água abaixo, ainda mais se tratando de um tema relativamente novo para as pessoas.
É importante divulgar as ações a todos envolvidos no processo (moradores, funcionárias domésticas e funcionários do condomínio) e em todos os meio possíveis (cartas, website do condomínio, Facebook, e-mail, quadro de aviso elevadores etc.).
Um detalhe importante é para a objetividade da comunicação. Coloque comunicados com pouco texto (dois parágrafos no máximo com fonte número 12) e pelo menos uma imagem.
– Três comunicações são fundamentais para o processo:
• Início da coleta seletiva: Avisando a todos que o processo irá se iniciar no condomínio, mostrando datas de treinamento, coleta e investimentos necessários para o processo;
• Procedimentos: Comunicar todos os procedimentos definidos para o processo. Se o condomínio for retirar as lixeiras dos andares por ordem da vistoria dos bombeiros, comunicar onde os moradores terão que levar os recicláveis;
• Resultados: Uma comunicação que parece que não é importante, mas faz toda a diferença, é a que mostra os resultados do processo, informando a todos para onde os recicláveis estão sendo destinados, a quem estão beneficiando etc. Isso tudo para motivar e mostrar que o trabalho e esforço de todos não foi em vão. Com essa comunicação, muitos que não havia aderido ao projeto começarão a participar!
Treinamentos
Nossa experiência com Gestão de Resíduos predial indica que a maioria das pessoas quer fazer a reciclagem, porém, por ser um tema muito novo, elas não sabem como fazer a separação dos recicláveis. E apenas um informativo de papel no elevador não poderá explicar tudo.
O lixo é responsabilidade de todos. Portanto, é necessário um treinamento presencial com todos os envolvidos no processo, funcionários do condomínio, funcionárias domésticas e moradores.
Com os moradores é melhor aplicar no período noturno, visto que a maioria chega do trabalho ou dos estudos a partir das 19h. Com as funcionárias domésticas e funcionários do condomínio, o treinamento é mais efetivo no período matutino.
– O que informar no treinamento?
Seja objetivo, a maioria das pessoas já sabe que o lixo é um dos maiores problemas ambientais e precisa ser destinado corretamente. Ensine como fazer, e não o porquê.
– Não é necessário fazer a separação em lixeiras coloridas, já que 99,9 % das empresas, cooperativas ou até mesmo a prefeitura que forem coletar no condomínio retirarão todos recicláveis juntos. Somente depois a cooperativa irá fazer a triagem mais detalhada por tipo de material. O modelo mais correto para a separação em condomínios é o uso de somente dois coletores, um para Recicláveis e outro para Não recicláveis.
– É necessário limpar os recicláveis: Os recicláveis são como qualquer outra matéria-prima que irá ser vendida. Se sujar, ela desvaloriza. Outro motivo para fazer a limpeza é a higiene do processo. Lembre-se que esse reciclável será armazenado em seu prédio, e se contiver alimentos e outros rejeitos, irá atrair insetos e animais.
– Tudo é reciclável, nem tudo é reciclado. A reciclagem é uma indústria, e varia muito de lugar para lugar. A embalagem longa vida (Tetrapak) é reciclável na cidade de São Paulo porque existe a tecnologia, porém em Londres não. Separe o que a empresa ou cooperativa irá coletar, não adianta levar em consideração o que a mídia diz, se adapte com sua realidade.
O isopor é um caso que a mídia às vezes coloca que é um material reciclável, o que de fato é verdade. Porém, há pouquíssimos lugares que recebem esse material, então a probabilidade de ele ser reciclado é pequena.
– Recicláveis
Papel, Vidro, Metal, Plástico, Embalagem longa vida (Tetrapak).
– Não recicláveis e orgânicos
Resíduos infectantes, guardanapo, entulho, restos de comida, madeira, papel higiênico sujo e isopor.
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