O inverno que se aproxima representa um dos períodos mais críticos para a saúde física da população, pelo incremento de doenças respiratórias e cardiovasculares, além de neoplasias, irritações nos olhos, nariz e garganta, lembra a professora doutora Simone Georges El Khouri Miraglia, do Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Engenheira, Simone cursou doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e se especializou nos custos gerados pelos impactos ambientais sobre a saúde humana.
No caso da poluição do ar, Simone lembra que “apesar de as médias anuais de MP10 (material particulado de poeira) em São Paulo, de 40 μg/m3 (microgramas por metro cúbico), estarem abaixo da média estipulada pela legislação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), nos períodos de inverno, quando a dispersão de poluentes é pior, temos índices de 54 μg/m3”. E conforme destaca a especialista, a recomendação da Organização Mundial da Saúde é a de que o limite seja de 20 μg/m3. Pior, entretanto, é que o impacto negativo destes poluentes sobre a saúde é maior dentro de casa do que propriamente na rua, ao ar livre. “Em um espaço fechado, as condições para a sua dispersão são ainda mais desfavoráveis”, aponta a pesquisadora, lembrando que o quadro piora com o uso dos produtos químicos no ambiente doméstico.
Portanto, não há o porquê adiar a mudança de hábitos e a adoção de práticas sustentáveis, mesmo que simples, mas que podem trazer efeitos imediatos sobre a qualidade de vida e a saúde. “No período seco, por exemplo, os condomínios podem promover a diminuição das partículas em suspensão se umedecerem com água (por aspersão) a superfície antes da varrição”, recomenda. Outra medida é deixar o carro em casa, recorrendo a caronas ou utilizando o comércio do entorno do condomínio, como forma de evitar a necessidade do transporte público ou individual. “Se as pessoas conseguirem evitar alguns deslocamentos, já será uma prática sustentável fantástica”, observa Simone.
COMBATE AO ESTRESSE EMOCIONAL
Para a psicóloga Maria José do Amaral Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, a sustentabilidade também mobiliza efeitos terapêuticos sobre a saúde emocional dos indivíduos.
“Ela pode ser um ponto de união nos condomínios, proporcionando mais diálogo e um ganho de sociabilidade”, analisa. Além dos benefícios diretos do ponto de vista econômico, ambiental, de saúde e de conforto térmico e acústico, “há outro ganho importante, que não pode ser mensurado, mas que é o aumento da responsabilidade social e a possibilidade de reconexão do indivíduo com o social, com o outro”.
Segundo Maria José, o envolvimento com os demais moradores “reduz o isolamento e gera sensação de pertencimento, de potência para agir junto do coletivo”. “Há um aumento da satisfação pessoal, o que, por sua vez, auxilia no combate ao estresse de fundo emocional, o qual é muito mais nocivo que o físico. A reconexão consigo próprio, com a sociedade, com o outro e com a natureza nos dá a sensação de totalidade, de que temos um papel no mundo, melhora a autoestima, reduz pensamentos negativos e isso exerce uma função terapêutica”, sintetiza Maria José.
DESAFIOS PARA RACIONALIZAR O USO DOS INSUMOS
Há treze anos síndica do Condomínio Edifício Maison Du Rhone, no Campo Belo, zona Sul de São Paulo, Nelza Gava de Huerta procura mobilizar os moradores locais pela mudança de alguns hábitos e conscientizá-los da necessidade de economizarem água nas unidades. “Mas infelizmente as pessoas ainda vivem usando desculpas para justificar seu modo de fazer as coisas”, observa Nelza. Segundo ela, a sustentabilidade requer um processo muito lento de conscientização.
A individualização do consumo da água em seu prédio não foi possível pois a edificação, de 34 anos, comporta apartamentos com duas a três prumadas. “Para individualizar, precisaríamos instalar de dois a três medidores por unidade”, lembra Nelza, destacando que os custos e a “mecânica” da obra seriam “uma loucura”. Assim, todos pagam por igual o rateio da conta, independente de quantas pessoas residam nas unidades. E poucos parecem se esforçar para diminuir o consumo, “achando que se o outro não economiza, não há o porquê fazê-lo”.
De qualquer maneira, Nelza insiste em algumas ações, como a orientação para que os moradores troquem a válvula das descargas pela caixa acoplada. Recentemente, o condomínio aprovou em assembleia a instalação de um sistema de reuso da água e de sensores de presença na iluminação das escadas internas.
Matéria publicada na edição 157 mai/11 da Revista Direcional Condomínios
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