A água é parte essencial no planejamento dos síndicos, já que o consumo pode estourar o orçamento ordinário e a sua escassez provocar inúmeros transtornos à operação dos condomínios. Por isso, os gestores apostam em estratégias de uso racional, como a individualização da leitura e o controle diário do consumo.
Síndico Carlos Azevedo Fernandes: Individualização da água e do gás garantida em 2021
A cidade de São Paulo e os municípios da Região Metropolitana iniciaram 2021 com o nível mais baixo dos reservatórios dos últimos quatro anos. O volume total de água no sistema em janeiro era de 50,1% contra 62% em 2020 e 52,2% em 2017. Ainda que as chuvas de fevereiro tenham elevado os índices, como no Cantareira, que passou de 38,9%, em 13/01/2021, para 47,8% em 22/02/2021, a precipitação pluviométrica nos mananciais ficou abaixo da média histórica. De acordo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), não há risco de desabastecimento, mas a empresa recomenda “uso consciente da água pela população, evitando desperdícios”.
Este seria um comportamento dos sonhos para os condomínios, muitos dos quais ainda extraem da arrecadação mensal ordinária o dinheiro para pagar a conta geral da água, o que, em picos de consumo e/ou de elevação da tarifa, derruba qualquer planejamento. Alguns síndicos já conseguem cobrar dos moradores a conta d’água à parte (o que depende de aprovação da assembleia), repassando as diferenças mensais. Entretanto, este rateio extra atinge igualmente os gastões e a turma da economia (situação que não acontece nos prédios onde existe a leitura individual do consumo).
No Condomínio Mozaik Vila Sônia, o síndico profissional Carlos Azevedo Fernandes obteve o aval de assembleia, realizada em fevereiro passado, para iniciar os serviços de individualização da água e gás, “um pleito antigo dos moradores”. Entregue 2016 na zona Oeste de São Paulo, com 272 unidades, o Mozaik aprovara a individualização em 2018, mas o processo havia sido suspenso por questões relativas à garantia com a construtora. Quando houve a retomada do projeto, as propostas do mercado começaram a chegar bastante diferenciadas do ponto de vista técnico e de gestão, afirma Carlos Fernandes, gestor do condomínio desde 2019. Não havia como compará-las, diz [Há dois modelos de gestão da individualização, confira na página ao lado].
“No caso da água, a individualização será feita pelo ProAcqua, da Sabesp, pois há um único ponto de entrada para os apartamentos, no hall dos andares. Já a do gás será autogestão, porque os medidores são internos às unidades e, para a leitura da Comgás, teríamos que investir em infraestrutura externa.” De acordo com o síndico, antes que pudesse fechar os contratos, “o condomínio resolveu dar um passo para trás”. “Contratamos um engenheiro para fazer um diagnóstico das instalações, explicar aos condôminos os diferentes modelos de gestão e desenvolver um escopo para uma nova concorrência. Pois as propostas costumam trazer diferentes configurações de hidrômetros e algumas informam o tamanho e não a vazão, o que confunde e pode alterar completamente o conforto dos usuários e a qualidade da medição”, exemplifica.
“Todo esse processo levou cinco meses e fechamos um investimento de R$ 544 mil para a água e o gás, bancados por um rateio extra de seis parcelas de R$ 2 mil por unidade”, afirma. Sua expectativa é que até o meio deste ano esteja tudo instalado. Atualmente, a conta d’água mensal do condomínio é de cerca de R$ 30 mil. Mais do que a economia mensal do volume consumido, entretanto, o síndico espera que a individualização promova “justiça no sistema de cobrança, esse o principal pleito”. A conta hoje é dividida de forma igual entre as unidades, incluindo aquelas que se encontram vazias. Já a racionalização do consumo dependerá de uma mudança comportamental, de que haja a sensibilização dos moradores quando começarem “a receber a conta individualizada”, pondera.
Com individualização, moradores fecham a torneira?
Síndico Sérgio Fernandes: “Vou brigar pela individualização. É possível diminuir o consumo desde que a pessoa pague e sinta no bolso”
Esse é um ponto que ainda divide opiniões. O síndico profissional Sérgio Fernandes observou uma queda no consumo do Condomínio Chateau Cheverny, em São Caetano do Sul, cerca de três meses após a individualização. Com 112 apartamentos, o prédio absorvia uma média de 1.748 m3 de água por mês, número que baixou a 1.630 m3 na leitura feita pela concessionária em princípios de fevereiro passado. O síndico observa que ainda é cedo para confirmar a tendência ou não de redução como resultado do novo sistema, mas acredita que sim. Em outro prédio que administra e onde mora, o Residencial Parc Vivre, a expectativa é também instalar medidores individuais (neste caso, para cada uma das três prumadas dos apartamentos).
Localizado na Vila Prudente, zona Leste de São Paulo, com 136 apartamentos, o Parc Vivre gasta cerca de R$ 20 mil por mês com água (valor que há 8 anos, quando ele assumiu, era de R$ 27 mil). Mesmo assim, Sérgio considera a soma atual bastante elevada, pois no auge da crise hídrica, em 2015, conseguiu baixá-la para cerca de R$ 9 mil, “na base de muita campanha de conscientização junto aos moradores”. “Vou brigar pela individualização. É possível diminuir o consumo desde que a pessoa pague e sinta no bolso”, pontua.
Na verdade, a individualização da água foi aprovada antes da pandemia e deveria ter sido implantada depois da do gás (concluída em 2020). Porém, com o aumento dos preços dos insumos, o orçamento apresentando em assembleia não cobre mais o serviço. “Tínhamos uma projeção de investimento de R$ 1.380 por unidade [para 3 medidores], mas hoje este valor chega a R$ 2.100,00.” O síndico pretendia levar a proposta de um novo rateio para completar os custos em Assembleia Geral Ordinária realizada após o fechamento desta edição.
Matéria publicada na edição – 265 – mar/2021 da Revista Direcional Condomínios
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