A tendência é mundial: condomínios nascem certificados como prédios verdes. Para as construções antigas, há saídas possíveis para economizar recursos naturais.
Não dá mais para ficar de fora. A preocupação com a preservação do meio ambiente também deve fazer parte da rotina dos condomínios. Edifícios novos já nascem com o conceito de green buildings, ou edifícios verdes. São entregues com medidores individuais de consumo de água e gás (ou ao menos previsão para instalação) e sensores de presença em todas as áreas comuns. Alguns contam até com espaço destinado para separação do lixo por categoria (orgânico, papel, vidro, alumínio e plástico), sistemas de captação e reuso de água de chuva e placas coletoras de energia solar para as áreas comuns.
Mas, no caso de edifícios antigos a adaptação à tendência da sustentabilidade nem sempre é simples. Muitas vezes, é preciso investir num autêntico “retrofit verde”, ou seja, atualizar as instalações com base no conceito da economia de recursos naturais. Para Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, o Brasil já está atrasado em relação à economia de água. “Se cada célula que compõe a humanidade, seja um condomínio, um bairro ou uma cidade, não começar a se preocupar com essa questão, em 50 anos poderemos ter guerra entre países por causa da água. E o que podemos fazer num condomínio? Em primeiro lugar, tentar implantar, onde for possível, hidrômetros individualizados. Não sendo possível, instalar redutores de vazão em torneiras e chuveiros dos apartamentos”, orienta Gebara.
Segundo o vice-presidente do Secovi-SP, apesar dos redutores serem acessórios de baixo custo, é recomendável que sua instalação nos apartamentos tenha aprovação em assembléia. Já a individualização é um processo mais complexo, que exige obras civis, pois é preciso unificar as prumadas de água nos apartamentos. Porém, as tecnologias evoluíram e hoje já é possível medir remotamente o consumo de cada apartamento. Ou seja, não é necessário que o leiturista entre na unidade. Os sistemas de medição remota mais utilizados são o por telemetria ou por radiofreqüência. Além de promover a economia de água e uma relação mais justa no pagamento da conta pelo consumo de cada unidade, a individualização permite localizar mais rapidamente vazamentos e picos de consumo. “Qualquer edifício pode ser adaptado, mesmo os mais antigos”, garante Adalberto Cavalcanti, autor do livro Medição de Água Individualizada, engenheiro civil com mestrado em Recursos Hídricos e responsável pelo desenvolvimento no Brasil do sistema de medição individualizada de água. De acordo com Cavalcanti, o mais avançado estado no sistema é Pernambuco, onde 25% dos edifícios já possuem a medição individualizada do consumo de água. Em Recife e Olinda, foi sancionada no início de 2002 uma lei que obriga todo novo prédio construído a oferecer a medição individual. Também há leis para medição individualizada em novos prédios no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia e Brasília. Para o vereador Aurélio Nomura, autor da Lei 14.018/2005, que prevê em São Paulo a instalação de hidrômetros individuais nas unidades das edificações novas e dá um prazo de 10 anos para as construções antigas se adequarem, a medição individualizada em condomínios é um dos caminhos para solucionar a crise no abastecimento de água. “Um levantamento da Agência Nacional de Águas estipula o retorno do investimento entre 10 a 24 meses”, afirma.
Individualizar outros consumos também pode significar economia de água. Foi o que ocorreu no condomínio do síndico Paulo Romani, que optou pela individualização do gás natural. “Decidimos pela individualização do gás, mais simples do que a de água”, diz. O serviço foi realizado em novembro de 2007. O gasto médio mensal com água caiu de R$ 10 mil em 2007 para cerca de R$ 8 mil este ano. A economia de água foi gerada pelos apartamentos serem dotados de aquecimento a gás para os chuveiros. “Com a cobrança do gás coletiva, certamente os banhos eram mais demorados”, aponta.
Fontes alternativas também podem ajudar os condomínios na economia de água. É o caso do uso da água de chuva e do aproveitamento da água de lençóis freáticos. Segundo o Manual do Uso Racional da Água, editado pelo Secovi-SP, a água da chuva contém partículas e substâncias tóxicas. Por isso, deve-se sempre buscar o tratamento correto, em função do uso que se pretende dar à água obtida. Reter água de chuva trata-se, em princípio, de desviar a tubulação das calhas do telhado para um gradeamento que retenha galhas e folhas e, em seguida, para um reservatório que alimente exclusivamente pontos de água não potável. O Manual adverte que esta prática depende de um projeto hidráulico que permita a coleta, o tratamento, o armazenamento e a distribuição adequados.
Se a água representa o segundo maior custo no cálculo das taxas condominiais, o gasto com a energia elétrica também não deve ser negligenciado – e até mesmo por uma questão de cidadania, já que economizando e evitando desperdícios estaremos contribuindo para o abastecimento do mercado brasileiro de energia elétrica. A medida mais sensata é a instalação, nas áreas comuns, de equipamentos de controle colaborando para o uso racional do sistema de iluminação. Os equipamentos mais conhecidos são as minuterias (permitem que lâmpadas permaneçam acesas temporariamente, a um toque nos botões de comando) e os sensores de presença (acionam a iluminação ao detectar a presença de alguém ou algo em movimento). O Manual do Uso Racional de Energia Elétrica editado pelo Secovi-SP dá um exemplo de economia gerada com instalação de sensor de presença em garagem: uma garagem subterrânea com 20 vagas e iluminada por 15 lâmpadas incandescentes de 60 watts, funcionando das 18 às 6 horas, consome mensalmente 324kWh. Com instalação de sensor de presença, o consumo cai para 108kWh, ou seja, redução de 67%.
Compromisso com o lixo
Diferentemente do consumo de água e energia elétrica, a produção de lixo não pesa no bolso dos condôminos. Porém, é preciso conscientização para entender que reduzir o lixo é responsabilidade de todo cidadão. “Precisamos aliviar os lixões das cidades, que provocam poluição do ar e do lençol freático, colocando em risco também a água dos rios”, acredita Hubert Gebara.
O conceito é básico: não jogar fora o que pode ser reaproveitado. Isabel Pires é um exemplo de condômina consciente. Ela faz parte da comissão que instituiu o projeto Recicla Porto, no Condomínio Residencial Porto Seguro, com 11 torres e cerca de 3500 moradores. “Minha responsabilidade é com a reciclagem e o meio ambiente”, diz. Em cada andar dos edifícios ficam dois coletores, um para lixo orgânico, outro para o material reciclável, que é recolhido três vezes por semana por sucateiros. A renda obtida com a venda do material reverte para o próprio projeto, custeando ações periódicas, como oficinas de reciclagem, gincanas e palestras.
Isabel frisa que frequentemente devem ser enviadas circulares aos condôminos, informando sobre os procedimentos da coleta seletiva e reforçando a necessidade de que as embalagens devem ser lavadas antes do descarte (evitando mau cheiro e a proliferação de insetos nas lixeiras). Atualmente, Isabel está reforçando junto aos moradores a importância de compactarem o material reciclado, diminuindo o volume a ser acondicionado nos prédios até a retirada. Em abril, ela organizou uma ação junto às empregadas domésticas: “Distribuímos um brinde e uma cartilha explicando por que o dia 27 de abril é o dia da empregada doméstica e dando dicas de compactação do material. Elas se sentiram lisonjeadas e sentimos inclusive aumento de descarte de material.”
O Recicla Porto também coleta óleo de cozinha usado. Outra ação recente no condomínio foi uma aula de produção de sabão utilizando o óleo. Cada participante ganhou uma barra do sabão fabricado. Os moradores do condomínio têm até onde descartar baterias e pilhas. Em cada portaria, Isabel disponibiliza um coletor específico. O material coletado é entregue na Drogaria São Paulo próxima ao condomínio. Desde 2004 a Drogaria São Paulo implantou um programa de reciclagem no qual as lojas da rede passaram a funcionar como postos de recolhimento de pilhas e baterias usadas, a fim de dar a elas uma destinação adequada. A ação hoje é praticada em todas as mais de 215 lojas da rede. E se no seu condomínio não há mesmo espaço para guardar o material reciclável, que tal entregá-lo no supermercado? 39 lojas do Pão de Açúcar de São Paulo contam com Estações de Reciclagem, onde se pode deixar papel, metal, plástico, vidro e, em algumas lojas, óleo de cozinha. Desde a implantação do projeto há sete anos, a empresa já arrecadou cerca de 30 mil toneladas de material reciclável. Ainda este ano o projeto chegará à rede CompreBem.
Responsabilidade ambiental: mais do que modismo
A expressão gestão ambiental ainda parece estranha para você? Pois saiba que os síndicos devem proceder corretamente também na questão ambiental, evitando que recaia sobre eles uma eventual responsabilização. “É importante ressaltar, que muito além de ser um modismo, a gestão ambiental deve ser encarada com total prioridade pelos condomínios. Pouco se fala a respeito, mas o meio ambiente está protegido constitucionalmente. Dessa forma, é imprescindível que os condomínios exerçam esse papel de conscientização e responsabilidade, para que mais tarde o síndico não seja responsabilizado civil, criminal e administrativamente por eventuais danos ocasionados ao meio ambiente”, adverte a advogada Nathalia de Almeida Perez, especializada na área ambiental e também consultora ambiental em condomínios.
Nathalia cita o exemplo de um condomínio que pretenda comprar um terreno vizinho para construir uma área de lazer, com playground, piscina, churrasqueira. “Essa área a ser adquirida pode ter um passivo ambiental e o síndico não saber disso. Nesse caso, ele responderá solidariamente com o condomínio, mesmo que não tenha sido o causador do dano, respondendo judicialmente de forma objetiva por danos ao meio ambiente. O condomínio e o síndico serão obrigados ao pagamento de indenização em pecúnia além de terem que regenerar aquela área degradada”, informa a advogada.
O síndico deve estar atento ainda a perfurações de poços artesianos. Segundo Nathalia, empresas que realizam a perfuração sem a outorga da Sabesp deixam o prédio em situação delicada. “Ele estará cometendo uma infração administrativa e poderá arcar com penalidades, como prevê o art. 49 da Lei 9.433/1997. Além disso, o síndico poderá responder a processo criminal, já que o lençol freático pode estar contaminado”, define.
Em prédios que realizam a coleta seletiva de lixo, os funcionários não devem separar o lixo. Nathalia orienta que os materiais sejam separados pelos moradores, e que o empregado apenas dê a destinação correta ao material orgânico e ao reciclado. “Não exponha seu funcionário a nenhum risco que possa trazer problemas de saúde e também uma demanda judicial”, finaliza.
Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios
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