Segurança em condomínio: aprimorando o trabalho da portaria

Oconsultor Nilton Migdal, com experiência em análise de risco em condomínios, além do planejamento de programas de prevenção, destaca, em entrevista à Direcional Condomínios, que os porteiros e profissionais dessa área devem receber respaldo dos síndicos para que se façam cumprir as regras de segurança. E ainda: estas precisam ser aprovadas pelos condôminos, ser de seu conhecimento. Somente com procedimentos básicos e uma boa formação de sua equipe o síndico poderá contar com um sistema que assegure maior proteção à vida e ao patrimônio dos condôminos. Confira a entrevista a seguir.

Direcional Condomínios – Quais devem ser o perfil e a postura dos profissionais contratados para trabalharem em ronda e nas portarias?
Nilton Migdal – O ideal é terem o 2º grau completo, que sejam cultos (que leiam notícias no jornal) e bem articulados. Para portaria, não há necessidade de bom preparo físico e para rondas sim. Quanto à postura, é importante que seja educado, mas sempre atento e nunca bonzinho, ingênuo.
Prefiro ainda pessoas casadas, porque têm mais comprometimento com emprego, e que não morem muito longe do trabalho, para que tomem, de preferência, uma só condução. De outro modo, considero inadequada a presença de profissionais armados em condomínios residenciais, porque em geral eles não são treinados de maneira correta, então, a chance de fazerem besteira é maior. Também vejo muitos pontos negativos no segurança que fique na calçada do lado externo e poucos positivos. Em geral, ele é um alvo fácil do bandido, já o ponto positivo pode ser que sua presença seja um ponto de inibição, mas os fatores negativos são maiores.      

Direcional Condomínios – Mesmo com o crescimento da profissionalização no setor de segurança, os condomínios ainda costumam cometer alguns erros ou vícios primários?
Nilton Migdal – Sim, e entre esses vícios, contratar mal, não fazer background check dos funcionários, remunerar mal e principalmente não DEFINIREM normas e procedimentos.

Direcional Condomínios – O que seria básico no procedimento de um condomínio, independente de seu tamanho ou perfil?
Nilton Migdal – Ter cadastro de moradores, de funcionários domésticos com os respectivos dias e horários de trabalho, cadastro de terceiros e entender o que é controle de acesso. Ou seja, a pessoa só pode acessar o condomínio após a checagem ou verificação da veracidade da visita ou do prestador de serviço etc.

Direcional Condomínios – Quais são os principais procedimentos preventivos?
Nilton Migdal – O principal é deixar sempre a pessoa ou o carro fora do edifício até que se tenha certeza que o mesmo está autorizado a entrar. E caso não consiga confirmar, não se importar em deixar a pessoa do lado de fora.

Direcional Condomínios – Como agir em momento de uma ocorrência, por exemplo, caso um morador seja rendido? O porteiro deve ou não liberar a entrada dos demais assaltantes?
Nilton Migdal – Ele deve liberar, mas antes disso ter alguma contingência, como apertar um botão de pânico, por exemplo.  Mas precisa deixar entrar, o bandido quer patrimônio e a vida é mais valiosa. Não podemos recuperá-la como ao patrimônio.

Direcional Condomínios – Há necessidade de treinamento dos funcionários em que periodicidade?
Nilton Migdal – No mínimo uma vez a cada seis meses.

Direcional Condomínios – É importante fazer reuniões periódicas para explicar os procedimentos aos moradores?
Nilton Migdal – Muito! E aproveitá-las para dar poder aos porteiros ou vigilantes quando os mesmos barrarem uma pessoa. Ou quando uma encomenda não for recebida devido a uma falha de comunicação do morador, seja por esquecimento, ou pelo mesmo não ter sido encontrado em casa ou no celular, por exemplo.

Direcional Condomínios – Alguns síndicos costumam ficar preocupados quanto à legalidade do cadastro na portaria e de pedir o documento de identificação ao visitante. Isso procede?
Nilton Migdal – No cadastro não há nada de ilegalidade. O visitante pode não querer entregar seu documento, mas o porteiro pode impedir sua entrada no prédio por falta de cadastro, porque o condomínio é uma instituição particular, tem suas regras, e uma delas deve ser o cadastro. É a assembleia é soberana em definir as regras. Em 90% dos assaltos a condomínios, o bandido entra no prédio identificando-se como um falso “qualquer coisa” ou com carro clonado. A principal coisa que o condomínio tem que fazer é o controle de acesso, definindo quem pode ou não pode entrar. Depois que entrou, o bandido vai usar arma para render. Mas ele entra pela porta de acesso porque o deixaram entrar, essa é a realidade.  O problema é que o morador ajuda a atrapalhar a segurança em muitos casos. Em geral, ele é o primeiro a desrespeitar a norma. O morador precisa aprovar essas normas.

Direcional Condomínios – Quais os  limites ao trabalho do porteiro?
Nilton Migdal – Ele deve atuar no acompanhamento total do morador dentro da edificação e observar se, eventualmente, há alguém rendido, se alguém pulou o muro etc. Nesses casos, ele deve acionar o botão de pânico, de preferência na guarita blindada. O ideal ainda é chamar a polícia e alertar os moradores através de um sistema previamente combinado.

Matéria complementar da edição – 186 de dez/2013 da Revista Direcional Condomínios

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