Há pelo menos 1500 normas técnicas relacionadas à área eletroeletrônica no País, além de leis e regulamentações sobre a oferta de energia. Veja o que é preciso para garantir a segurança e a eficiência do serviço em seu prédio.
A partir de 2010 os condomínios terão um motivo a mais para revisar instalações e sistemas elétricos. Empresários do segmento estimam que no máximo entre seis e 12 meses esteja em operação o novo serviço de internet de banda larga pela rede elétrica. No final de agosto, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulamentou o sistema, denominado PLC (Power Line Communications). Isto representa uma nova demanda com a qual síndicos e administradores terão que lidar, não tanto em termos de segurança, mas sim de desempenho e eficiência da rede. De qualquer maneira, a novidade serve para ilustrar bem as profundas mudanças que a tecnologia vem proporcionando sobre os hábitos de consumo dos brasileiros. E que acabam gerando impactos sobre a carga elétrica efetivamente utilizada pelas edificações.
Prédios com mais de 20 anos, por exemplo, devem providenciar uma ampla reforma de sua infraestrutura, “como entrada de energia, prumada, quadros de distribuição das unidades autônomas, além das próprias instalações destas, em função dos equipamentos utilizados”, recomenda Paulo Barreto, engenheiro eletricista e vice-presidente de Atividades Técnicas da Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais (Abrasip). Não à toa, a AES Eletropaulo aponta o “acréscimo de carga a revelia, que está associada diretamente à utilização de novos equipamentos ou de maiores potências”, como a principal anomalia encontrada no consumo de energia pelos condomínios comerciais e residenciais em São Paulo. Segundo o gerente de Engenharia da Distribuição e Automação da concessionária, Sérgio Basso, é indispensável que os responsáveis procurem a AES Eletropaulo para atualização de cadastro de carga. No Condomínio Edifício Atlas e Apolo, localizado na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, houve a solicitação pelo aumento da carga, acompanhando uma grande reforma, em que prumadas e centros de medição foram substituídos por barramento, o qual permite a leitura digital. “É um sistema mais seguro e econômico”, afirma o síndico José Máximo Pontes. Segundo ele, as instalações nos edifícios, construídos há 35 anos, estavam defasadas e, ao mesmo tempo, ocorreu neste período um grande aumento do consumo de energia pelos moradores, com o uso de máquinas de lavar roupas, louças, aquecedores, ar condicionado, entre outros.
É claro que nem sempre a estrutura física dos prédios permite a implantação desta tecnologia, observa um empresário do setor. No caso dos edifícios da Vila Mariana, com 12 andares cada, havia espaço compatível para o barramento, constituído por barras de cobre blindadas. O síndico destaca ainda que a reforma eliminou as casas de força nas garagens, o que permitirá um novo uso para o local. Na medição digital, os relógios são instalados nos halls dos apartamentos e requerem pouco espaço. As obras do condomínio estão em fase final, após um ano de trabalho, e segundo José Máximo, trarão um novo padrão de segurança aos condôminos.
O aumento da demanda por meio do uso de novos equipamentos representa “um dos grandes problemas que podem afetar a instalação do ponto de vista da segurança e do consumo”, observa o consultor e engenheiro eletricista Edson Martinho, da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). “Os hábitos mudaram, as tecnologias evoluíram e o acesso a elas se tornou mais fácil, com isso a população aumentou a carga dos equipamentos em suas residências e também condomínios, obrigando a um redimensionamento das instalações.” Caso contrário, prossegue Martinho, “há o risco de sobre aquecimento, o qual gera calor, pode causar um acidente (incêndio) e também um desperdício, que pode chegar a 10% da energia consumida”.
A AES Eletropaulo recomenda que antes de providenciar qualquer aumento de carga, o condomínio faça uma consulta prévia à distribuidora, que dará “orientações sobre as necessidades técnicas e eventuais adequações ao sistema elétrico, objetivando atender este acréscimo”. O gerente Sérgio Basso lembra que a solicitação está assegurada pelo artigo 31 da resolução 456 da Aneel. “Nenhuma adequação deve ser feita sem o acompanhamento de um profissional legalmente habilitado”, complementa.
Nesse aspecto, regulamentações do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea) estabelecem que o dimensionamento das cargas deva ser realizado por profissionais técnicos legalmente habilitados com a devida ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) recolhida. “Um equívoco muito comum na área de condomínios é delegar a tarefa a simples eletricistas ou a ‘curiosos’ que dizem entender do assunto”, destaca o vice-presidente da Abrasip, Paulo Barreto. Segundo ele, há pelo menos 1.500 normas relativas à área eletroeletrônica no Brasil, além dos requisitos das concessionárias de energia, “particularmente no que se refere à entrada e medição”.
Dentro deste marco legal, destacam-se as normas da ABNT NBR-5410 (baixa tensão), NBR-14039 (média tensão) e NBR 13570 (de instalações elétricas em locais de afluência de público), além das normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho (NR 10 e NR 33). Ambas estabelecem, respectivamente, procedimentos de segurança para a realização de serviços em instalações elétricas e em espaços confinados. “Isso é de extrema importância, uma vez que o síndico, como representante do condomínio (contratante), tem responsabilidade solidária ao prestador de serviço, respondendo nas esferas cível e criminal por qualquer acidente que ocorra com o seu contratado”, lembra Barreto.
Outro item importante em termos de segurança é a manutenção. Edson Martinho sugere que todas as áreas que contenham instalações elétricas passem por uma boa revisão pelo menos a cada cinco anos. Uma atenção especial deve ser dada aos locais de circulação de pessoas, como também aos setores de comando de bombas e elevadores.
As próprias normas da ABNT indicam formas e periodicidade adequadas para a manutenção dos equipamentos e instalações, observa, por sua vez, Sérgio Basso, da AES Eletropaulo. Por isso, indica, é importante contratar um profissional habilitado para o diagnóstico e a execução do serviço. Já Paulo Barreto, da Abrasip, enumera os principais pontos a serem inspecionados: quadros de distribuição (incluindo todos os seus componentes), condutores, tomadas e interruptores. “Existem outros aspectos e componentes a serem considerados, mas esses servem como exemplo”, ressalva.
Para as novas edificações, o engenheiro Edson Martinho recomenda três cuidados aos síndicos ou administradores. O primeiro é verificar a presença hoje obrigatória de tomadas “do tipo 2P+T, ou seja, com três furos e com o fio terra instalado”. A NBR 14136, de 2002, promoveu a unificação do padrão de plugues e tomadas utilizadas no País, obrigando a uma adequação dos próprios equipamentos eletrônicos, especialmente os de maior consumo de energia, como geladeiras, lavadoras e secadoras, para os quais passou a ser exigido padrão de três furos. O segundo é conferir se “no quadro de energia há a identificação dos circuitos” e, o terceiro, a existência de pelo menos um DR (Diferencial Residual) em áreas “molhadas”, como cozinha e banheiro. “O DR, parecido fisicamente com um disjuntor, tem a função de desligar o circuito em caso de choque elétrico e deve ser instalado nos quadros de distribuição”, finaliza Martinho.
Matéria publicada na edição 139 set/09 da Revista Direcional Condomínios
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