Segurança: Treinamento – arma número 1 contra a violência

Mesmo investindo em equipamentos eletrônicos, o síndico não deve descuidar da formação dos funcionários.

O síndico, preocupado com a segurança do condomínio, contrata um profissional para preparar um projeto, que prevê a instalação de equipamentos eletrônicos, como alarme, sensores infravermelhos e cerca elétrica, cota com várias empresas o custo dessa estrutura e consegue aprovar em assembléia. Vitória contra a violência, imagina o síndico. Falta, porém, detalhe dos mais importantes para garantir a eficiência do projeto: o treinamento dos funcionários. 

Para José Elias de Godoy, consultor de segurança em condomínios e autor dos livros Manual de Segurança em Condomínios e Técnicas de Segurança em Condomínios, na grande maioria das vezes a entrada dos assaltantes em condomínios acontece pela portaria principal do edifício. “Numa parte dos eventos, os porteiros, por desatenção ou mesmo inexperiência, são enganados pelos meliantes. Outro tanto dos assaltos se dá pelo descuido dos moradores”, informa. “Podemos concluir que os assaltantes detectaram um enorme furo no sistema de segurança dos condomínios e, portanto, estão se aproveitando das falhas humanas a fim de realizarem seus atos delituosos. Isso somente é possível devido à desqualificação profissional de seus funcionários, já que são facilmente ludibriados ou simplesmente agem por pura ingenuidade”, completa. 

Os síndicos devem considerar o treinamento dos funcionários um investimento, mais do que um simples gasto. “Onde existem pessoas prestando serviços para outras, a única forma de se modificar comportamentos distorcidos é através de um bom treinamento. É um engano acreditar que, como já se investiu em equipamentos, não há necessidade de qualificar os funcionários. O retorno vem através de uma maior qualidade na mão-de-obra de portaria”, avalia Godoy.

A síndica Mariza Carvalho Alves de Melo coloca periodicamente os porteiros do condomínio onde é síndica, na Vila Clementino, para realizar cursos. “Sempre é possível aprender coisas novas. Eles precisam se reciclar, mesmo porque os bandidos mudam suas táticas”, acredita. Florival Ribeiro, consultor de segurança e instrutor da Universidade Secovi, concorda com a síndica e aconselha que seis meses é um período razoável para oferecer à equipe novos treinamentos. Ele inclusive indica que os treinamentos realizados dentro do próprio condomínio tornam-se mais personalizados. “Fora do condomínio os treinamentos ocorrem de forma padrão. No prédio há possibilidade de ocorrer ajustes do sistema de segurança, seja apertando mais o esquema ou flexibilizando-o. Todos esses ajustes, é claro, devem ser transmitidos para a equipe e para os procedimentos de segurança adotados pela comunidade”, diz. 

Um exemplo de situação que deve fazer parte dos procedimentos do condomínio, e para a qual os funcionários precisam estar treinados, é a presença do morador na clausura de pedestres rendido por um bandido. A ação de reter o morador com o bandido, desde que aprovada em assembléia e inclusa no manual de procedimentos de segurança, frustra uma ação de arrastão no condomínio, explica Ribeiro. Os porteiros devem estar treinados, enfim, para lidar com situações de conflito. Se o morador quer burlar, de alguma maneira, o sistema de segurança, o empregado deve estar orientado a não discutir com o morador. “Os funcionários devem funcionar como marronzinhos dentro do condomínio, registrando sempre por escrito se o condômino descumpriu uma regra dos procedimentos. A obrigatoriedade da comunicação escrita deve constar dos procedimentos. Assim eles fiscalizam o sistema sem medo de serem punidos”, aponta o especialista. 

Outra situação importante é a qualidade do monitoramento das imagens do CFTV, particularmente em edifícios com mais de 30 câmeras instaladas. Conforme Ribeiro, prédios com esse padrão precisam de funcionários preparados para a tarefa, ou mais precisamente controladores de monitoramento. “Se a função das câmeras é prevenir delitos, é preciso haver alguém monitorando as imagens numa central de monitoramento no próprio condomínio. Se o funcionário percebe algo estranho pelas câmeras pode agir, se comunicando com outro funcionário que irá até o local, prevenindo o problema”, orienta. O porteiro funcionaria apenas como um apoio ao monitoramento das imagens. É possível disponibilizar para o porteiro algumas imagens que interessam à portaria, e orientá-lo a ficar atento àquelas câmeras.

Quando se trata de treinamento visando à segurança, é importante que todos os funcionários do condomínio, e não apenas porteiros ou controladores de acesso, recebam orientação. “Todos os funcionários, porteiros, zelador e faxineiros, devem ser treinados, já que eles fazem parte do sistema de proteção do condomínio”, afirma José Elias de Godoy. Florival Ribeiro complementa que o faxineiro é o mais importante agente de segurança dentro dos condomínios: “O faxineiro também deve ser valorizado, porque ele anda pelo prédio todo, vê situações e pode colher informações importantes para o sistema de segurança. Ele pode levar as informações relevantes para o zelador, e este para o síndico. Quem faz a segurança são as pessoas, e não as instalações físicas ou equipamentos eletrônicos.”

Por mais que nossos funcionários estejam treinados, nunca se deve descuidar. Marcos Carvalho, gerente de um condomínio residencial no Sumaré e vice-presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Perdizes e Pacaembu, percebeu entre os síndicos que periodicamente participam das reuniões do órgão a necessidade de se discutir o tema segurança e treinamento de funcionários. “Sentia falta de algo mais consistente para oferecer aos síndicos”, diz. Em maio, o Conseg organizou uma palestra com o consultor José Elias de Godoy, que reuniu cerca de 70 pessoas, a grande maioria síndicos. Carvalho comenta que um grupo de síndicos presente se organizou e multiplicou as informações recebidas no evento entre os funcionários de seus prédios. “Fizeram posteriormente encontros de síndicos com zeladores e porteiros”, diz. Da sua experiência no prédio onde trabalha e também em seu contato com os síndicos no Conseg, Carvalho nota que, em relação à segurança, todo cuidado é pouco, tanto em relação à formação da equipe mas também com a orientação dada aos condôminos. “Acredito que o problema maior nos condomínios ainda são os moradores, que não querem seguir os procedimentos”, acredita. Mais uma vez, a insistência deve ser a palavra-chave. Depois de aprovados os procedimentos de segurança em seu condomínio, promova encontros para discutir o assunto, chame especialistas, cole reportagens e dicas de segurança nos quadros de aviso. Prevenção e educação nunca são demais.


Matéria publicada na edição 126 jul/08 da Revista Direcional Condomínios

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