O síndico Luiz Leitão da Cunha entre Mônica (a esposa) e Marcos (o filho do casal): empresa familiar abarcou a expansão no segmento condominial
Administrar condomínios com familiares pode fortalecer ainda mais os laços. Porém, para manter a harmonia, é preciso não levar os problemas para casa.
Muito se fala que a função de síndico é solitária. Lidar com demandas dos moradores, com o dia a dia dos funcionários e fornecedores, planejar obras e melhorias, enfim, a lista é extensa. Mas há quem trabalhe e reparta tanto os perrengues quanto os louros da carreira com a própria família. Sim, atualmente não é raro encontrarmos empresas de sindicatura tocadas por membros do mesmo clã — casais e pais e filhos, geralmente.
Na maioria dos casos, um dos membros inicia o negócio. Foi o que fez Luiz Leitão da Cunha, jornalista que começou como síndico morador há oito anos. Até que uma condômina o indicou para o prédio de uma amiga, um conselheiro para outro e, assim, outros surgiram. A partir daí Luiz se viu sobrecarregado e convidou sua esposa, a psicóloga Mônica Hilgendorff Leitão da Cunha, a trabalharem juntos. “Hoje, ela já conduz alguns empreendimentos como síndica, e nosso filho Marcos, que também é psicólogo, entrou na sociedade.” Em família, Luiz conseguiu manter a qualidade do trabalho mesmo com um número maior de condomínios, atendendo “24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, sem precisar de prepostos”. Vê com orgulho o desenvolvimento do filho na área: “Ele é do diálogo e bem respeitoso com todos. Costumo apresentá-lo como meu assistente. Mas está meio na cara que é meu filho, tanto pela semelhança física como pelo sobrenome”, diverte-se.
O que o casamento uniu, os condomínios não separam
Roseane Fernandes está na sindicatura há 23 anos. Iniciou como conselheira onde morava, passou a síndica e se surpreendeu com o resultado: obteve 35% de valorização nos apartamentos pelas melhorias realizadas. “Pensei: gostei desse negócio! Mas me afastei por um tempo para me dedicar à minha filha pequena e à minha carreira como nutricionista.”
Acontece que ela e o marido, Carlos Azevedo Fernandes, compraram um apartamento na planta. Roseane se elegeu síndica, implantou o condomínio em 2012 e percebeu que queria abraçar a sindicatura profissional. “Segui em busca de me qualificar, estudei muito e trabalhei com alguns síndicos. Até que, em 2016, um dia cheguei em casa nervosa e cansada por causa de um problema em um condomínio e ainda tinha uma reunião. Falei para o Carlos, que era executivo na área de TI, mas estava sem colocação, que ele bem que podia ir comigo. Ele foi e se saiu muito bem. O condomínio queria, inclusive, ele como síndico.” A partir daí, para ganhar experiência, Carlos “colou” em Roseane, fez cursos e se preparou. Meses depois, assumiu seu primeiro condomínio e não parou mais.

O casal Roseane e Carlos Fernandes: se algum condomínio causar problemas no relacionamento, melhor riscá-lo da carteira
Carlos acredita que dá muito certo trabalhar em família, mas diz que os membros precisam se complementar. “Roseane tem o lado operacional na veia, e eu o da gestão, implantando processos e indicadores na empresa.” O casal também tem muito claro que o lado profissional não interfira na vida familiar. Eles se recordam de algumas discussões que tiveram por causa de um condomínio. “Refletimos e resolvemos não permitir que isso aconteça mais. Se algum condomínio causar problemas na nossa relação, é melhor não o termos mais em nossa carteira”, contam. E evitam falar de trabalho fora do horário comercial: se um puxa assunto, o outro logo corta e fala que não quer tocar no tema. “A não ser que seja uma emergência, a conversa acaba aí”, dizem.
Quando a mãe é a chefe
A administradora de empresas Lena Mota está há 27 anos no mundo condominial. Começou estagiando em uma grande administradora, onde ficou 15 anos gerenciando uma carteira de edifícios de alto padrão. Saiu da empresa por um período e nem imaginava se tornar síndica. Até que um antigo condomínio pediu a ela que assumisse a gestão. “Eu estava em viagem de férias quando fui eleita à distância”, lembra. É até hoje síndica de lá. A partir desse, outros condomínios surgiram, e ela se viu sem braços para dar conta de tudo. “Achava que era a mulher-maravilha”, diz.
A solução veio de dentro de casa. Seu filho, Gabriel Mota Calomino, estava terminando o curso de Direito e estagiava em um escritório advocatício da área condominial. “Juntamos o útil ao agradável. Eu estava buscando novos rumos e minha mãe precisava de apoio na empresa. Fiz cursos, sigo até hoje me aprimorando e mudei meu foco do Direito para a área condominial”, conta Gabriel.

A síndica Lena Mota com os filhos Gabriel e Giovanna: empresa familiar é bem-vista na captação de novos condomínios
Durante a pandemia, Lena e Gabriel cresceram ainda mais, recebendo seis novos condomínios. “Estávamos presentes de máscaras e luvas no dia a dia dos prédios”, recorda Lena. Com a expansão do negócio, há quatro anos mais uma integrante da família, sua filha Giovanna, se somou à equipe. Também advogada, ela estava relutante em atuar no setor. “Sei como é a dinâmica dos condomínios. Muita gente não tem noção da responsabilidade que é ser síndico, e a profissão ainda não é respeitada”, comenta. Lena explica que nenhum dos filhos atua como advogado nos condomínios: “Configuraria conflito de interesses.” Giovanna esclarece que fica mais nos bastidores, cuidando da análise de contratos e da gestão de pessoas, enquanto Gabriel vive mais o cotidiano dos prédios com a mãe.
Giovanna e Gabriel acreditam que o trio forma um combo perfeito. “Temos ideias novas, mas que só funcionam pela experiência da nossa mãe.” Aliás, quando estão nos clientes, os filhos não chamam Lena de mãe. No início da sociedade, Lena lembra, inclusive, que nem o apresentava como filho. “Mas, um dia, decidimos nos apresentar como uma empresa familiar e notamos que gerávamos muita confiança e um resultado mais positivo na captação de novos condomínios.”
Hoje, Lena e os filhos não moram na mesma casa. E, nos encontros de final de semana, os outros membros da família lembram que não é hora para conversas sobre os condomínios: “Deixem isso pra lá, hoje é reunião de família!”
Quando dividimos a rotina dos condomínios com a família, como separar o estresse diário dos momentos particulares?
Para falar sobre o tema, consultamos a psicóloga Luciana Oliveira, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e pós-graduada em Psicopatologia pelo Grupo PBE.
A profissional acredita que a sobrecarga mental e emocional gerada pelo cargo pode aumentar a irritabilidade, a impaciência e a dificuldade em separar a vida privada da profissional. “Dizer que devemos separar o que é pessoal do que é profissional não basta. Somos um só, tudo está em nós. Precisamos resolver o que é do trabalho no trabalho e o que é da família em casa, evitando misturar os dois contextos e fazendo uma delimitação de território”, explica.
Luciana destaca que, na vida, todos desempenhamos papéis sociais: pai, mãe, marido, esposa, filho, sócio, gerente, gestor. “Tenha clareza de que papel está exercendo naquele momento para que você seja mais assertivo nas suas ações”, acrescenta. Definir claramente entre os membros da família quais funções exercem no trabalho da sindicatura também ajuda no relacionamento. “Se necessário, definam por escrito seus papéis.” E, caso surjam desacordos, crises ou conflitos, isso não significa necessariamente que sejam situações negativas. “Depende de como vamos lidar com elas. Podem ser ótimas oportunidades de crescimento se formos bons ouvintes”, afirma.
Trabalhar em família pode, inclusive, fortalecer os laços afetivos, acredita Luciana: “Mas isso depende principalmente da qualidade da comunicação. Se houver diálogo eficiente, respeito e vínculo familiar pautado no amor, os laços se fortalecerão. O trabalho em família é muito mais prazeroso quando existem pilares bem estabelecidos, pois atuamos com senso de propósito comum, colaboração, orgulho compartilhado e ao lado de quem mais amamos. Enquanto muitas pessoas passam a maior parte do tempo fora de casa, é um privilégio trabalhar em família”, arremata.
Dicas da especialista para lidar melhor com esses momentos:
• Reservem este momento formal para decisões profissionais, documentem acordos, sejam objetivos (não emocionais) e estejam dispostos a ouvir.
• Alimentem um ambiente saudável, em que todos tenham oportunidade de expressar suas opiniões de forma clara e respeitosa.
• Se os desacordos se tornarem pessoais, vale recorrer a uma mediação neutra, desde que todos concordem.
Matéria publicada na edição 317 nov/dez 2025 da Revista Direcional Condomínios
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