“O SÍNDICO É UM FACILITADOR DA VIDA EM CONDOMÍNIO”
“Nasci em 1967, em um lar evangélico, e fui criado na Vila Pompéia, zona oeste da capital. Aos cinco anos, perdi minha mãe para o câncer, o que foi um episódio de tristeza e dor. O vazio da orfandade, porém, foi preenchido com amor, ternura e sabedoria pela segunda esposa do meu pai, que criou a mim e meu irmão mais novo como filhos. Com o tempo, ela deu à luz uma menina, completando nossa família. Não éramos ricos, mas em casa havia união, fé em Deus e valores como respeito e honestidade. Meu pai havia sido Guarda Civil e se aposentou como oficial da Polícia Militar quando eu era pequeno. Não sei ao certo o quanto o trabalho dele influenciou minha escolha pela carreira militar, mas ambos ficamos muito felizes quando entrei, aos 16 anos, na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Em regime de internato, cursei o ensino médio e superior. Formei-me na Academia em 15 de dezembro de 1988 e, quatro dias depois, me casei. Estou casado há quase 36 anos e, pela graça de Deus, tenho cinco filhos e sete netos. Sempre gostei de crianças; uma casa cheia traz mais alegria à vida.
Ingressei na Polícia Militar como Aluno-Oficial e me aposentei como Tenente-Coronel, em 2014. Atuei em companhias e batalhões da zona leste, intercalando com uma passagem de dez anos como chefe de operações no COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar), o ‘centro nervoso da PM’, que concentra todos os chamados de emergência da cidade. Ali, vivenciei casos marcantes durante o serviço, como o resgate do publicitário Washington Olivetto, após recebermos uma denúncia anônima no 190 sobre o possível local do cativeiro. Contudo, apesar de lidar com situações difíceis e críticas cotidianamente, eu nunca tive receio de que coisas ruins acontecessem comigo ou com minha família. A fé na proteção divina me deu estrutura para separar as emoções.
Sempre procurei ser determinado e atento às oportunidades. Além do curso na Barro Branco, fiz mais quatro cursos universitários. Nas folgas do trabalho, ora estudava, ora me dedicava a atividades extras. Em 1993, ajudei a abrir uma das primeiras empresas a profissionalizar e fornecer mão de obra para carga e descarga de caminhões. Na ocasião, tirei licença sem remuneração do trabalho policial por dois anos para estruturar a empresa. Após esse período, continuei participando do negócio no meu tempo livre. Foi uma época difícil, afinal quase não descansava. Ainda assim, consegui publicar meu primeiro livro, o “Manual de Segurança em Condomínios”, escrito em parceria com o editor de uma revista especializada em armas, na qual eu contribuía com uma coluna sobre prevenção de invasões em edifícios.
Em 2002, deixei a empresa de mão de obra e comecei a atuar em outra, de consultoria em segurança, atendendo principalmente condomínios. Nesse mesmo ano, publiquei o livro “Técnicas de Segurança em Condomínios”, pela Editora Senac, o que abriu portas para que eu escrevesse outras edições mais detalhadas. Em seguida, escrevi o “Guia Prático de Segurança Condominial” (UNIP – 2005), fui coautor da “Cartilha de Segurança Condominial da PMESP” (2010) e colaborador do “Manual de Segurança Condominial” do Secovi (2011). A partir disso, até o comando da própria PM me designou como porta-voz do assunto junto à imprensa.
Há muitos anos, quando me casei, fui morar em condomínio; depois, em uma casa. Mais tarde, mudei-me para um apartamento em um dos primeiros condomínios-clube da região da Mooca. No começo, eu pouco frequentava assembleias, mas percebi que minha experiência em segurança e liderança de equipe poderia ser útil em um condomínio grande, com muitos funcionários e duas portarias, e comecei a participar ativamente. Quando surgiu uma necessidade, assumi a gestão em mandato tampão por um ano e meio, depois saí para cuidar do meu pai, que adoecera.
Passado um período, consegui me dedicar outra vez ao condomínio. Fui síndico orgânico, eleito em assembleia, por dois mandatos alternados e, desde 2016, tenho sido reeleito repetidamente para a função. Quem vê de fora, devido ao meu histórico militar, pode pensar que sou um síndico autoritário. Nada disso. Eu não trabalho dessa forma; minha gestão é participativa. Tudo o que faço envolve o conselho, com o qual me reúno uma vez por mês, e decidimos juntos a maioria das questões do prédio. Aceito bem as críticas dos condôminos sobre algo que possa ser melhorado e acho isso saudável, desde que não haja afrontas pessoais, afinal, todos estamos munidos do mesmo objetivo: viver bem, morar bem, ter paz e segurança. Às vezes, sou ‘voto vencido’ naquilo que os condôminos querem, e está tudo bem. Um síndico precisa saber respeitar o que foi decidido em assembleia.
Como consultor de segurança, participo de assembleias em outros condomínios e presencio pessoas tratando os síndicos como empregados. Em geral, o síndico orgânico recebe isenção da cota condominial, mas, em troca, dedica boa parte do seu tempo ao condomínio. Pena que muitos condôminos tendem a confundir isso com uma relação de subserviência. O trabalho do síndico é algo tão importante! Ser síndico, para mim, vai além de ser gestor. O síndico é um facilitador da vida em condomínio. É alguém que está no posto para servir. Eu, particularmente, gosto de estar junto das pessoas para propor soluções às dificuldades.
“Às vezes, sou ‘voto vencido’ naquilo que os condôminos querem, e está tudo bem. Um síndico precisa saber respeitar o que foi decidido em assembleia”
Enquanto síndico, eu me empenho para que todos desfrutem de um lugar agradável. Tanto assim que, no condomínio, temos, entre outros atrativos, uma bela quadra poliesportiva com assoalho de madeira, sempre bem conservada, e uma academia moderna. A área da piscina, por exemplo, era pequena, mas a ampliamos e trocamos o deck por um piso com conforto térmico. Os salões de festas foram modernizados e receberam móveis, utensílios e aparelhos de alta qualidade.
Na segurança, também houve vários ajustes, como a modernização dos equipamentos eletrônicos e automação, além de passar a remunerar acima da média os funcionários de portaria, para atrair mão de obra mais qualificada para o condomínio. No entanto, só isso não basta; é preciso treiná-los constantemente e contar com uma equipe de supervisão e zeladoria eficientes. Vale lembrar que o controle de acesso é o ‘calcanhar de Aquiles’ de quase todo condomínio.
José Elias de Godoy, em depoimento a Isabel Ribeiro
Matéria publicada na edição 304 set/24 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.