Cresci num lar confortável da capital paulista, com meus pais e minha irmã. Sou filho de pai grego e mãe brasileira. Por quase 40 anos a nossa família teve confecção no Bom Retiro, bairro em que morei na infância. Depois, já na adolescência, moramos no Sumaré. Comecei a trabalhar na empresa aos 18 anos. Ser filho do dono não aliviou a jornada. Na confecção, tive de compreender como eram as etapas do negócio, o trabalho dos tecelões, das costureiras e aprender no dia a dia a me relacionar com fornecedores e clientes. O meu pai dizia que nunca temos uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão e até me mandou fazer um curso de neurolinguística para que eu me apresentasse com maior desenvoltura. Outra frase dele: ‘A vida trata melhor quem se veste bem’. Ele estava certo. Infelizmente, com a abertura do mercado brasileiro no início da década de 1990, o setor foi impactado pelas importações da China, e fechamos a confecção.
Nessa época, meu sogro, advogado, assim como minha esposa, comentou que uma cliente estava se desfazendo de um estacionamento na Santa Ifigênia, região central, e me sugeriu fechar negócio com ela. Assim adquiri o meu primeiro estacionamento. Na sequência, conheci construtores que estavam entregando um edifício comercial e me convidaram para montar um estacionamento no prédio. Sucessivamente vieram outros, dando origem a uma rede, que passou também a fornecer serviço de manobrista para empresas e condomínios residenciais com ‘vagas presas’.
Paralelamente à gestão da rede, exerço a função de síndico em dois condomínios, um residencial e outro comercial, o que exige muita dedicação. Ser síndico hoje não é como no passado, existem várias normas, adequações, legislações, sendo preciso estar bem informado o tempo todo. Para conciliar minhas atribuições, procuro ser prático e não acumular coisas para fazer depois. Tento resolver os problemas, como um desplacamento de fachada, assim que eles surgem. Problemas criam pernas, quanto antes forem solucionados, melhor!
Há cerca de 15 anos, quando meus dois filhos eram pequenos, nos mudamos para o Mediterranée, um condomínio de alto padrão em Higienópolis, erguido na década de 1980. Eu aprendi na vida que as aparências importam, mesmo nos mínimos detalhes, que agregam valor e bem-estar, por isso, ver que o condomínio nunca havia explorado seu potencial mexeu comigo. Eu me tornei síndico movido pelo desejo de que os condôminos tivessem mais segurança, conforto e comodidade, e desfrutassem de um ambiente bonito e moderno. No começo, eu era prepotente, queria as coisas do meu jeito, depois passei a compreender que para tratar de mudanças, precisamos seduzir o condômino com a ideia, acendendo um brilho em seu olhar. Sinto orgulho em dizer que nunca levei ‘bola’ para contratar empresas. Primeiro, porque eu não suportaria ficar preso a ninguém; segundo, porque eu seria uma péssima referência para meus filhos.
O meu primeiro mandato foi breve, interrompido em razão de doença na família. Porém, após meu sucessor se mudar do prédio, fui eleito síndico outra vez, o que tem se repetido a cada biênio. Eu me considero uma pessoa feliz por várias razões, mas enquanto síndico tenho me realizado bastante ao promover melhorias. Entendo que meus feitos não são apenas méritos meus, mas também do zelador, no prédio residencial, do gerente predial, no prédio comercial, dos conselheiros e das administradoras. Aliás, no condomínio comercial, o Edifício Ufficio Olympia, na Vila Olímpia, pude realizar uma série de coisas boas, como modernização da recepção e adequação à acessibilidade, reforma do auditório e de piso da garagem, e reforço na segurança, inclusive com postes de câmeras colaborativas.
Já no Mediterranée, de imediato eu atuei no fortalecimento da segurança. Hoje a frente do condomínio é bem iluminada e há câmeras colaborativas na parte externa, instaladas em parceria com edifícios vizinhos. Na parte interna, adicionamos algumas medidas anti-invasão. Como síndico, me guio pelo trio segurança, conforto e comodidade. Por exemplo, tenho um esquema bem organizado e seguro para que o morador receba a pizza na porta da unidade, entregue por um funcionário do condomínio. Em comodidade, temos uma academia bastante aparelhada, que funciona na antiga casa do zelador. Inauguramos o espaço um pouco antes da pandemia e foi um elixir no período de isolamento social. Mas a comodidade não precisa estar necessariamente ligada às obras. No mês passado, instalei uma lustradora de sapatos no subsolo.
Em um dos subsolos, instalei uma oficina para que o manutencista tenha condições adequadas de trabalho e ferramentas à mão. Mesmo os dois subsolos, ainda que mais ocultos, são lugares limpos e bem iluminados. Tenho um bom staff para cuidar do prédio, e olhe que enxuguei a equipe, e sem sobrecarregar quem permaneceu, isto porque existem funções que podem ser otimizadas com máquinas do tipo soprador de folhas, que acelera o tempo que seria gasto com a varrição das áreas comuns.
Entre as melhorias que promovi no condomínio em que moro, a área gourmet tem significado especial. Participei da idealização, escolha do mobiliário e da aquisição de eletrodomésticos e utensílios, como pratos e taças, de primeira linha. Percebo que o resultado agradou. Confesso que me inspiro muito no bom gosto da minha sogra, de observar as obras e composições de ambientes que ela fez nos imóveis da família. Sobre a área gourmet, revesti a laje de concreto com grama sintética para que os moradores de andares mais altos tivessem uma visão mais agradável ao olhar para baixo.
Outra benfeitoria que muito me alegra é ter criado um espaço digno e muito bonito para refeição e descanso dos colaboradores, além de reformar banheiros e vestiário. No edifício comercial, também providenciei uma área bem bacana para a equipe, e criei condições para que fossem instaladas duchas nos banheiros deles. Isso tem a ver com respeito e valorização. Aprendi sobre humanidade e generosidade com meu pai, cristão ortodoxo. Quando ele faleceu, passei a atender em uma ONG, de onde sai dez vezes mais ajudado do que ajudei. Lá, eu atendia ligações de pessoas aflitas e o foco do atendimento era conversar com a pessoa sobre os sentimentos dela em relação ao problema e não exatamente sobre o ocorrido. Antes eu não sabia ouvir as pessoas. Aprendi a escutar e a respeitar mais a necessidade do próximo.
Michail Pezopoulos, em depoimento a Isabel Ribeiro
Matéria publicada na edição 300 mai/24 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.