Superação nota 10 – Síndicas

Em comemoração a 8 de março – Dia Internacional da Mulher, a Direcional Condomínios promoveu uma homenagem às síndicas, reunindo catorze mulheres batalhadoras e incansáveis para um café da manhã. Em um spa localizado no Jardim Paulistano, elas puderam se confraternizar e trocar muita informação e experiência.

Uma manhã de chuva fina e refrescante em São Paulo, no fechamento do mês de fevereiro, reuniu catorze mulheres dispostas a celebrar um trabalho árduo, continuamente testado por desafios, mas ainda assim cheio de satisfação: ser síndica. Algumas estão na luta há décadas (trinta anos), outras começaram há apenas alguns meses. Era dia 25 quando o Espaço Aono, um recanto aconchegante da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, nos Jardins, acolheu impressões, desabafos e, sobretudo, ensinamentos e trocas de experiências. Partindo do diagnóstico comum de que os condôminos, em geral, confundem a pessoa com a função – gerando alguns desafetos, falta de respeito e cordialidade, elas reafirmaram, no entanto, a convicção de que é preciso agir na conscientização e construção diária de um convívio coletivo saudável, na distribuição de tarefas, na busca da participação, com profissionalismo na solução dos problemas e seriedade com o regulamento.

Segundo a ex-síndica e administradora Rosely Benevides de Oliveira Schwartz, professora do curso de Administração de Condomínio (que neste ano estará vinculado à Escola Paulista de Direito, na Liberdade), “é preciso conscientizar diariamente as pessoas a respeitarem procedimentos e regulamentos, pois a cultura de viver em grupo ainda é muito incipiente”. Autora do livro “Revolucionando o condomínio” (Editora Saraiva), Rosely contou para o grupo que na primeira vez em que atuou como síndica, assumiu um prédio “detonado não só estruturalmente como em seu próprio convívio”. “O ambiente era ruim, mas estabelecemos uma equipe de trabalho, o conselho foi muito atuante. Deixei claro para os moradores que o síndico não administra sozinho, porque o prédio não é dele, e sim de todos. Ajuda muito quando você coloca essa posição de parceria e mostra que veio para cumprir regulamento e convenção”, observou Rosely.

Denise Sahyun Levy, síndica em um edifício localizado no bairro do Paraíso, relatou que vem trabalhando há três anos, desde quando assumiu, pela construção de um ambiente de compreensão e colaboração. “Hoje conseguimos colocar as coisas e todos se tratam bem”, acrescentou. Também a professora de ioga Mariângela Iotti, que promoveu uma sessão de exercícios entre as convidadas, defendeu o “trabalho de formiguinha” junto ao coletivo. Síndica há sete anos no prédio em que mora, na Vila Olímpia, zona Sul da cidade, Mariângela questionou “o que faremos com o mundo se as pessoas não aprenderem a viver em grupo”?

Rosely Schwartz concordou que o trabalho é espinhoso. O grupo todo apresentou, durante o evento, histórias de problemas criados por condôminos que simplesmente não aceitam respeitar as regras de convívio celebradas na convenção e no regulamento, além de caras feias, boicotes, retaliações, cobranças fora de horário e falta de compreensão. Cleide Alcini, síndica em Moema (zona Sul) há 24 anos, relatou que em seu prédio há famílias que insistem em entrar com dois automóveis na garagem, que só disponibiliza uma vaga por apartamento. Outros desrespeitam horários de furar paredes e receber mercadorias, transgressões que geram trabalho e desgaste à síndica.

A situação vivida pela síndica Carmen Mendes Pagan, em seu condomínio na Bela Vista, região central de São Paulo, dá bem a proporção a que isto pode chegar. Quando assumiu há sete anos, o prédio estava prestes a ser interditado pela Prefeitura, pois havia sido reprovado em treze itens de segurança pelo Contru. Apresentava ainda muitos problemas por causa de um elevado consumo de drogas entre seus moradores. Ao enfrentar a situação, sofreu tocaias dos jovens e adultos envolvidos, acionou a polícia, buscou proteção policial, mas paralelamente realizou um trabalho de convencimento, mostrando que estava apenas cumprindo com o regulamento.

Há casos, é claro, que sempre vão gerar algum nível de descontentamento. “Cabe ao síndico bater sempre nesta tecla de que toma atitudes que às vezes desgostam até a ele próprio, mas que é preciso fazer por força do cargo e do regulamento”, sugeriu a síndica profissional Mariza Carvalho Alves de Mello, há treze anos na função, administradora de sete condomínios. É um trabalho de superação, pontuou Mariza, com a qual concordaram as demais síndicas. Mas ser mulher agrega mais um ingrediente de dificuldade: o preconceito. “Alguns homens ainda veem as síndicas com preconceito – acham que só pensamos em jardins e decoração e que não temos capacidade para cuidar de obras mais técnicas”, lembra a jornalista e síndica Luiza Oliva, que durante dez anos editou a Direcional Condomínios e há seis cuida do prédio em que mora, no bairro de Moema. “Não é preciso ser engenheira ou especialista em construção para cuidar de um condomínio com esmero. Já fiz obras grandes, como instalação de drenos no segundo subsolo para eliminar infiltrações do lençol freático, e reforma da quadra de tênis que rachava constantemente. O fundamental é se cercar de bons fornecedores e buscar orientação profissional, como a inspeção predial, que ajuda a elencar prioridades nas obras”, afirmou.

Pois além da superação, outras características marcam a atuação das síndicas, conforme lembrado no encontro: doação, dinamismo, profissionalismo e um olhar diferenciado para o detalhe, sem perder o foco na sustentabilidade. A síndica Mariza diz que sua primeira medida foi instalar sensores nas luminárias, assegurando uma boa economia de energia. Agora pretende individualizar a água, obra complexa em seu prédio, que possui cinco prumadas. As mulheres não se abalam diante dos desafios. Estão comprometidas com o uso racional dos recursos naturais, não apenas por uma questão de economia, mas também por olhar para o mundo com a perspectiva da coletividade e da construção do futuro, como se estivessem cuidando de uma grande e única família, respeitandose, é claro, as diferenças e a diversidade.


Matéria publicada na edição 144 mar/10 da Revista Direcional Condomínios

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