Telefonia, Internet & TV a Cabo, como planejar a disponibilidade dos serviços nos condomínios

NA “CASA CONECTADA”, É PRECISO COMPATIBILIZAR REDE EXTERNA AO PERFIL DOS USUÁRIOS

Com novos produtos de telecomunicações no mercado, oferecendo a interligação entre diferentes mídias e sistemas, torna-se indispensável planejar a disponibilidade dos serviços nos condomínios, bem como a infraestrutura de cabos e equipamentos necessários. Projetos e soluções de engenharia ganham o espaço antes ocupado pelas soluções mais caseiras, restritas a remendos e/ou adaptações.

Alguns bairros da cidade de São Paulo e cidades próximas já contam com infraestrutura de fibra óptica para transmissão de sinais de telefonia, tevê e internet, deixando aos moradores a opção de receberem um serviço com maior capacidade e velocidade de transferência, além de melhor definição de som e imagem. Outras regiões, porém, mesmo que ocupadas por condomínios de classe média, mal conseguem acesso a um sinal minimamente eficiente de internet. É o caso de um residencial situado próximo à Rodovia Anhanguera, cliente de uma multinacional especializada em gerenciamento de fios e cabos. Segundo o engenheiro e gerente de produto da empresa, Ricardo Chiesa, ao local não chegam cabos de cobre nem de fibra óptica e a recepção de sinal de rádio é ruim. A recepção via satélite surge como uma alternativa cara. Sua empresa foi contratada para desenvolver uma solução técnica para o condomínio, em função das necessidades dos moradores.

É uma decisão conceitual, pondera Ricardo, a qual deve compatibilizar as características da infraestutura de rede externa ao perfil dos usuários. “Hoje, qualquer condomínio exige um planejamento de recepção desses serviços e distribuição dos cabos”, aponta o engenheiro. “O projeto deve observar a qualidade do sinal, a capacidade da banda larga mais os usos dos múltiplos condôminos.” Em outras palavras, “dependendo do meio físico disponível na região é que faremos o planejamento do condomínio.” Com a fibra óptica, abrem-se mais opções aos moradores, já que esta permite acesso aos diferentes serviços por meio de um único cabo e não são condutoras de interferências que podem queimar os equipamentos, como acontece hoje com os cabos metálicos.

UMA REDE LÓGICA DE CABOS

A Telefônica, por exemplo, lançou em 2010 dois pacotes de telecomunicações – o Fibra Banda Larga e o Fibra TV – em bairros e cidades em que a concessionária já conseguiu instalar sua rede própria de fibras ópticas. “A residência do cliente é interligada diretamente à rede da empresa”, informa a assessoria de imprensa da concessionária, lembrando que as instalações e adaptações necessárias são providenciadas pelos seus técnicos, conforme as características do condomínio. A tecnologia permite oferecer serviços como o Vídeo sob Demanda (VOD), em que o usuário dispõe de mais de dois mil títulos de filmes, musicais, séries, shows e programas infantis, que pode escolher de casa.

Para o engenheiro José Roberto Muratori, conselheiro da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside), este é apenas o começo das inovações que ainda estão por vir e exigirão dos condomínios a organização de toda a parafernália de cabos e aparelhos que isso envolve. “Teremos em breve a televisão interativa em tempo real e o telefone via plataforma TCP IP (muito usada na banda larga de internet), o que demandará a integração dos sistemas, configurando uma verdadeira rede lógica”, diz. José Roberto ressalva, entretanto, que as soluções físicas e de instalações requerem englobar todo o material de automação das edificações, incluindo segurança, iluminação, entretenimento e comunicações.

O ideal, segundo ele, é que os síndicos comecem a pensar na montagem de uma espécie de “sala técnica”, que agruparia em um único espaço os serviços oferecidos pelas diferentes operadoras, além dos equipamentos do sistema de segurança. É importante, acrescenta, que o condomínio esteja aberto a receber todos os produtos disponíveis no mercado, e que a contratação de um ou outro leve em conta o interesse do usuário, mas que, de qualquer forma, cada condômino tenha condições de fazer um contrato individual. A sala técnica teria um “armário onde estariam todos os conectores das operadoras, roteadores, switches, para dali o serviço ser distribuído aos andares”, observa.

O engenheiro recomenda a contratação de um projeto especializado que padronize as instalações e aproveite as atuais opções tecnológicas, pois “há diversos equipamentos que podem fazer a conversão de uma mídia para outra, eliminando muitos cabos”. Outro cuidado diz respeito às regulamentações da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). José Roberto lembra que o processo de privatização do setor começou há cerca de 20 anos e desde então uma infinidade de serviços foi regulamentada, definindo padrões mínimos sob os quais as operadoras devem trabalhar, como, por exemplo, a exigência de que a entrada dos cabos de telefonia seja instalada em área de fácil acesso para a manutenção. Finalmente, José Roberto ressalva que alguns pacotes ofertados pelas concessionárias condicionam os custos e execução da instalação a um prazo mínimo de fidelização em torno de dois anos, algo que cabe ao síndico e condôminos ponderarem se isso lhes traz “a melhor solução”.

No Residencial City Park, por exemplo, localizado na Vila Mariana, em São Paulo, a conselheira e ex-síndica Maria Cecilia Fonseca Genevcius relata que foram contratados serviços coletivos com duas operadoras de tevê a cabo, deixando ao condômino a opção de escolher entre uma e outra. Já quem prefere a tevê via parabólica, precisa providenciar por conta própria as adaptações necessárias, pois o equipamento deve ficar no telhado de cada um dos blocos do condomínio. “Neste caso, exigimos uma solicitação simples por escrito, aonde deve constar que quaisquer gastos advindos da instalação ou eventuais danos causados ao condomínio ou aos demais moradores, bem como alteração de fachada, serão de total responsabilidade do solicitante.”

RETROFIT DE “CABEAMENTO”

Dada a essa profusão de cabos e sistemas, os síndicos se veem as voltas com o desafio de providenciar adaptações de grande parte das edificações aos novos produtos da área de telecomunicações. “Vivemos em uma casa conectada”, define José Roberto. Uma das saídas é promover um verdadeiro retrofit nas instalações. O arquiteto Luiz Frederico Rangel, coordenador dos grupos de trabalho da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), comenta que os projetos de retrofit costumam avaliar “todas as condições da infraestrutura existentes nos edifícios e, entre elas, as redes de eletricidade, telefonia e lógica”. “Os edifícios antigos não dispunham, por exemplo, de tubulações separadas para a rede de dados, que é um item relativamente novo nas construções”, complementa Frederico. “Hoje não se concebe um projeto sistemas supervisores e de monitoramentos, comandos remotos via satélite ou celular, entre outros.” O planejamento na planta vem gradativamente se tornando “uma solução econômica, de grandes benefícios para os usuários e para a administração dos condomínios”, analisa o arquiteto.

No Residencial City Park, Maria Cecília, que foi síndica por duas gestões, afirma que os quatro edifícios construídos há cerca de 30 anos são bem estruturados, “não há dificuldade para implantar a rede lógica”. Segundo Luiz Frederico, um bom projeto pode equacionar eventuais falta de espaço. “Se por um lado é exigida uma prumada e derivações com tubulações novas para estas redes, de outro lado a atual tecnologia de fios, sensores (remotos ou não, via rádio ou cabeamento), exigem menos espessuras e quantidade de cabos. Consequentemente, as obras de implantação dos sistemas exigem muito menos espaço e diâmetro das tubulações, facilitando sua instalação e causando muito menos transtorno aos condôminos”, analisa.

O arquiteto destaca que esta previsão de prumadas, shafts e derivações fazem parte dos projetos globais de retrofit. Já as soluções específicas, como quadros, softwares, especificação das tubulações e cabos, são terceirizadas e devem ser elaboradas por especialistas. Um cuidado fundamental é que as instalações elétricas estejam sempre separadas da rede de telefonia, sinal e vídeo, “para garantir segurança e confiabilidade de todos os sistemas”, lembra, por sua vez, o engenheiro eletricista e consultor na área, Edson Martinho. de uma edificação sem uma rede lógica de comunicações por internet, segurança, sistemas supervisores e de monitoramentos, comandos remotos via satélite ou celular, entre outros.” O planejamento na planta vem gradativamente se tornando “uma solução econômica, de grandes benefícios para os usuários e para a administração dos condomínios”, analisa o arquiteto.


Matéria publicada na edição 153 dez-jan/11 da Revista Direcional Condomínios

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