Surge um novo cenário para síndicos e gestores administrarem. É necessário planejar espaços apropriados para os diversos serviços, saber ouvir os desejos da comunidade e escolher com atenção os contratados.
No Baronesa de Arary, lockers de recebimento de entregas de refeições facilitam a vida da portaria (nesta foto e acima).
Há algum tempo, a opção por morar em apartamento era motivada principalmente pela busca de segurança. Hoje, mais do que isso, condôminos procuram conforto e comodidades. A pandemia da Covid-19 deu impulso ainda maior por novos serviços nos condomínios. Basta tomar o elevador para ter acesso a produtos fresquinhos de uma feira livre, comprar o que falta para o jantar no minimercado ou lavar as roupas na lavanderia coletiva. E quem é fã das compras on line sabe que suas mercadorias serão recebidas e guardadas com zelo pelo condomínio, mesmo que não esteja em casa no momento da entrega.
Lavanderia coletiva do Baronesa de Arary: exercício de cidadania.
José Roberto Graiche Junior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo, frisa que o síndico deve sempre se pautar na cautela e na análise de documentação prévia à contratação de qualquer prestador de serviços aos moradores. Graiche elenca os principais pontos a serem observados: “Ficar atento à idoneidade da empresa contratada; verificar se há a necessidade e, havendo, se o contratado possui as licenças para atuar naquele segmento; observância de horário de funcionamento e se o segmento de serviço é proibido pela Convenção Coletiva ou pelo Regulamento Interno.” O presidente da AABIC reforça também que cabe ao condomínio pesquisar o passado e passivo trabalhista daquele fornecedor, além de priorizar, na medida do possível, firmar contrato de cessão de uso de espaço, em busca de se evitar vínculo trabalhista dos prestadores de serviços junto ao condomínio.
O síndico José Carlos Menegaço está na segunda experiência com implantação de serviços aos condôminos do Mobile Vida e Lazer, condomínio de 11 anos, com 192 unidades no Tatuapé, zona leste de São Paulo. A primeira delas foi a feira livre, que acontecia às quintas-feiras. “Acompanhava o desempenho das vendas junto ao prestador e em dezembro descontinuamos a feira porque a frequência dos clientes caiu muito”, conta o síndico.
Já em fevereiro, foi inaugurado o minimercado do Mobile. Menegaço fez uma enquete no condomínio para checar a aderência à ideia – 40% dos moradores responderam e destes, 85% foram favoráveis à implantação do mercadinho. O projeto foi então levado à assembleia e aprovado.
O mercado utiliza uma sala que fazia parte da antiga casa do zelador do Mobile. O gerador alimenta o local no caso de falta de energia e o condomínio instalou internet wifi para que os condôminos não tenham qualquer problema para acessar o aplicativo do mercadinho (o cliente escolhe os produtos, lê o código de barras pelo aplicativo e faz o pagamento ou na máquina do cartão disponível no local ou no próprio aplicativo). A partir do segundo mês do contrato, o condomínio fica com 2% do faturamento total do mercado e uma cláusula reza que no mínimo o custo da energia elétrica seja custeado pela prestadora do serviço.
O grande volume de compras on line alterou o sistema de recebimento de entregas no Mobile. As 20 entregas de encomendas diárias aumentaram para 60 a 70. Menegaço identificou um local ocioso próximo à portaria, com cerca de quatro metros quadrados, onde fica agora a central de encomendas. Os moradores são avisados por whatsapp assim que sua encomenda chega e as entregas na portaria são documentadas por câmera.
Inúmeras experiências mostram que a oferta de serviços nos condomínios é um caminho sem volta. Mesmo edifícios antigos estão aderindo à tendência. Um deles é o icônico Baronesa de Arary, inaugurado em 1957 na esquina da Avenida Paulista com Rua Peixoto Gomide, vizinho ao Parque Trianon, uma das localizações mais privilegiadas da cidade. Desde 2019 o Baronesa vive uma nova fase, com a eleição do chef Henrique Fogaça como síndico e do jornalista e fotógrafo Ignacio Aronovich como subsíndico.
Cenário de fatos históricos da cidade – como a encenação de peças teatrais proibidas pela ditadura militar, na cobertura onde moravam os atores Cacilda Becker e Walmor Chagas -, o Baronesa está resgatando sua autoestima e apostando na tecnologia para modernizar os serviços aos condôminos. “Deixamos de ser o patinho feio da Paulista. Estamos restaurando as fachadas e com as contas em dia”, conta Aronovich, atualmente síndico. A atual gestão tem buscado implantar novos serviços para melhorar a qualidade de vida da população estimada em mil pessoas, moradores de mais de 500 unidades. Um deles é a máquina de compartilhamento de água com um avançado sistema de purificação, que fornece água potável para todos. Basta levar galões ou garrafas na garagem e abastece-los, sem custo. “Reduzimos a entrega de galões e o impacto ambiental do uso de garrafas pet”, diz o síndico.
Na garagem, no lugar de um bicicletário pouco utilizado, o condomínio instalou uma lavanderia coletiva. “Os técnicos da lavanderia visitaram nosso espaço e acharam adequado. Expandimos outros dois bicicletários e adequamos o local para a lavanderia, reformando a elétrica e o piso para receber as máquinas, três conjuntos de lavadoras e secadoras profissionais”, conta Ignacio, que considera a lavanderia coletiva um sucesso. Tudo é feito pelo aplicativo: liberação da máquina, reserva de horário e pagamento. “Acredito na lavanderia como uma espécie de teste de cidadania: todos devem limpar o filtro das máquinas como uma cortesia para o próximo usuário. É uma forma de desenvolvermos o senso comunitário de instalações de uso coletivo”, diz o síndico.
Outros serviços do Baronesa de Arary são a máquina de empréstimo de guarda-chuva, gratuito para o usuário e para o condomínio. Se o morador não devolver o guarda-chuva após o uso, o custo é debitado do seu cartão. Mais uma comodidade são os 12 lockers (armários) de aplicativo de entrega de refeições. O morador é avisado pelo aplicativo que sua comida chegou. O Baronesa tem um volume de 2.800 entregas por aplicativo de alimentação por mês. Dessas, cerca de 2.100 utilizam os lockers. “São 2.100 entregas por mês nas quais o porteiro não precisa interfonar para o morador. Economizamos na mão de obra”, diz Ignacio Aronovich. Em breve, o Baronesa receberá ainda uma loja de conveniência. “Hoje, há muitas soluções tecnológicas para os condomínios. Acredito que precisamos ser cuidadosos para o que serve de fato aos moradores. Essas benfeitorias não foram feitas pensando na minha escolha ou no meu perfil de consumo e sim no da maioria”, arremata.
Minimercado e central de encomendas do Mobile Vida e Lazer: benefícios para os moradores.
Matéria publicada na edição – 278 – mai/2022 da Revista Direcional Condomínios
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