O zelador com conhecimentos primários dos principais equipamentos de um edifício ou o porteiro que mal consegue anotar um recado são funcionários praticamente em extinção. O perfil atual dos condomínios residenciais e comerciais exige colaboradores atualizados e qualificados, e cientes da sua importância para o bom funcionamento do edifício. Para Paulo Ferrari, presidente do Sindifícios (Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Paulo), já foi o tempo em que o zelador atuava como o caseiro de um sítio, aquele que mora no local, “quebra galhos”, “arruma uma coisinha ou outra”. “Atuar em um edifício, em especial numa cidade como São Paulo, exige um profissional completo, que alie experiência e teoria, e que, além disso, saiba se relacionar, viver em grupo, se comunicar”, pontua Ferrari.
Entidades como Secovi e Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) oferecem cursos diversos para atualização profissional. Entre os cursos da Universidade Secovi, por exemplo, encontramse “Aperfeiçoamento em técnicas de portaria”, “Aperfeiçoamento de técnicas em zeladoria”, “Manutenção predial para edifícios residenciais”, “Limpeza e conservação predial” e “Segurança predial”, entre outros. Na Aabic, o rol de opções também é grande, e passa por “Aspectos trabalhistas e gestão de pessoas em condomínios”, “Desenvolvimento e qualificação para profissionais de portaria”, “Desenvolvimento e qualificação para zeladores – Zelador Plus”, “Praticando a manutenção preventiva – Oficina do Zelador” e “Segurança em condomínios residenciais e comerciais”.
No Sindifícios os cursos existem há 20 anos. Gilberto Violin, instrutor do sindicato, comenta que ao mesmo tempo em que investe em obras o síndico não pode esquecer da formação do pessoal. “A reciclagem é necessária, ao menos a cada dois anos. Mudanças acontecem em todas as áreas profissionais e os funcionários em condomínios devem acompanhá-las”, sustenta. Os cursos oferecidos pelo Sindifícios são “Aperfeiçoamento Profissional em Zeladoria e Portaria”, “Ascensorista”, “Informática”, “CIPA”, “Supletivo” e “Inglês”. Além da parte técnica (manutenção, elétrica, hidráulica e elevadores), o tema “Relações Interpessoais” faz parte da grade de aulas do sindicato há 15 anos. “Ministrar aulas técnicas é, de fato, fundamental. Porém, o desafio de viver em um grupo se torna superior. Cada vez mais são considerados os aspectos comportamentais do candidato em seleções e entrevistas de emprego”, aponta a jornalista Elisângela Machado Morais, instrutora da área e que fez do tema “Comunicação em Condomínios” justamente o assunto de sua tese de mestrado em Letras na Universidade Mackenzie. Nas aulas do sindicato, Elisângela aborda a importância do funcionário assumir seu papel com orgulho e de ser responsável por um bom desempenho, além da necessidade da comunicação, base de todo relacionamento. “Mostro para o funcionário que, se ele é zelador, que atue na função valorizando a si mesmo, planejando uma ascensão profissional, desenvolvendo bem o seu papel e não apenas esperando o pagamento do salário. E isso pede que saiba lidar com os outros funcionários, pois ele é o líder do grupo.” Na prática, Elisângela percebe o quanto esse tipo de formação é necessária: “No setor de homologação do Sindicato, encontramos casos em que um funcionário muito bom é dispensado, justamente por não ter paciência para lidar com os outros, não saber se expressar e ser irritado.”
POTENCIAL
Essencial também é dominar com competência a leitura e a escrita. O Sindifícios oferece cursos supletivos de alfabetização de adultos, ensino básico e fundamental, com aulas diárias, das 18h às 20h. Eliana Simplício, responsável pela área, comenta que em 13 anos de trabalho já viu muitos zeladores cursarem faculdade ou cursos técnicos. “Nosso objetivo não é apenas transmitir conhecimento, mas fazê-los crescer, perceberem que têm potencial. Felizmente a categoria evoluiu e são poucos os não alfabetizados.”
As histórias de superação atingem até mesmo as famílias dos funcionários. Mara Rúbia Nascimento Lima Andrade é esposa de zelador. Durante uma consulta médica no sindicato, conheceu as aulas do supletivo e decidiu voltar a estudar. “Entrei de cabeça nos estudos e encontrei professores amigos e capacitados”, lembra. Estimulada pela família, prestou vestibular para Filosofia na Universidade São Judas. “Havia 50 vagas e minha classificação foi 117ª, uma vitória. Fiquei ainda mais incentivada a continuar”, diz. Em uma nova tentativa, entrou em primeiro lugar em Pedagogia em outra universidade privada. Depois da faculdade, fez pós-graduação em Psicopedagogia. “Fiz a pós com muito sacrifício. Meu marido voltava a pé do trabalho para economizar o dinheiro da condução para que eu pudesse ir à faculdade.” Mara Rúbia acredita que quebrou um tabu: “A esposa do zelador sempre é vista como a faxineira do prédio. Após 32 anos de casada, agradeço muito a meu marido tudo que alcancei. Hoje, temos dois filhos na faculdade, seguindo o meu exemplo.”
Matéria publicada na edição 153 dez-jan/11 da Revista Direcional Condomínios
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