Assim como muitas donas de casa aproveitam a chegada das férias para “limpar” o guarda-roupa, descartando as peças gastas, separando as de inverno e deixando à mão o vestuário mais leve, a síndica profissional Mariza Carvalho Alves de Mello espera o verão para repassar com cada um de seus 31 funcionários a condição de uso de seus uniformes. É o momento em que ela lista o que não serve mais e o que precisará ser reposto nos seis condomínios que comanda, os quais utilizam dois tipos de composições: uma para a portaria e outra para os trabalhadores da limpeza e manutenção. “A organização de um condomínio começa pelo uniforme. Não gosto que um porteiro use, por exemplo, camisa fora da calça”, observa a síndica, para quem a padronização do vestuário dos funcionários passa aos condôminos uma sensação de disciplina e auxilia na identificação do profissional.
“O uniforme deixou de ser sinônimo de economia e trabalho braçal e tornou-se um veículo de funcionalidade, conforto e segurança”, afirma Roberto Yokomizo, diretor da área de uniformes da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest). Segundo Roberto, a padronização transmite a ideia de “organização”, assim como o conceito da empresa e/ou condomínio, sintetizando “seus valores fundamentais”. “Ele passa uma mensagem subliminar que deve estar bem compatível com seu valor essencial”, comenta o dirigente. No caso da portaria, transmite “discrição e sobriedade”, além de possibilitar a “identificação imediata do funcionário como porteiro”.
Nos condomínios que administra, a síndica Mariza Carvalho determina que os porteiros utilizem um visual mais social, sem gravata, mas com camisa em tecido leve de algodão (mangas curtas ou longas) na cor branca ou azul clara, e calça preta ou azul marinho. O sapato também deve seguir o padrão, mas é o funcionário quem escolhe o par que lhe proporciona mais conforto, sendo posteriormente reembolsado. Para os dias de meia estação, é oferecida uma malha fina, em marinho ou preto. E para o inverno, jaquetas (para o período diurno) e casaco (para o noturno). Já os trabalhadores da limpeza e manutenção utilizam o padrão brim, com botas e equipamentos de proteção individual. A Convenção Coletiva de Trabalho determina que os condomínios forneçam todos os itens obrigatórios do uniforme, incluindo “luvas, botas, aventais, guarda-pós ou outras peças de indumentária”. Mas a síndica Mariza Carvalho impõe algumas condições, entre elas, por medida de segurança, que o funcionário coloque o uniforme somente no condomínio, vestindo seus trajes usuais para chegar ou sair do trabalho.
FEITOS CONFORME O AMBIENTE E A FUNÇÃO
Confeccionista há 20 anos e atuando na área corporativa, escolar e também com moda infantil, Roberto Yokomizo observa que o mercado está preparado hoje para oferecer tecido e modelagens personalizadas, atendendo às necessidades de cada função. “Podemos desenvolver, em parceria com um fabricante, um tecido mais ou menos permeável ou com proteção para não propagar chama”, exemplifica Roberto. Por outro lado, o dirigente da Abravest comenta que tem havido uma preocupação maior em atualizar o corte, mesmo nas peças masculinas. “O jovem dá muita importância para uma modelagem mais correta e moderna.”
Como regra geral, Roberto observa que “o vestuário tem que estar adequado ao ambiente e à função”. Na recepção de um condomínio comercial ou mesmo de um residencial que valorize o aspecto da apresentação visual, o critério a ser considerado é o da “manutenção”, optando-se por um tecido “que não amasse com facilidade”. Descarta-se assim o 100% algodão e recomenda-se o misto, o que vai melhorar o desempenho e dar mais satisfação ao usuário. De outro modo, o tecido misto é inadequado nos uniformes dos serviços gerais. Aí, o que vale é a “durabilidade” e o bem-estar do trabalhador. “Neste caso, é preciso um tecido de fácil secagem, que absorva umidade”, orienta Roberto, lembrando que a fibra natural (como a sarja) é a matéria-prima mais indicada e, o poliéster, contra-indicado. “Este não absorve umidade, facilita a proliferação de bactérias e gera odor, trazendo desconforto ao usuário.”
SEGURANÇA
Conforto e funcionalidade são aspectos a serem levados em conta também na definição dos uniformes das equipes de segurança, defende o consultor da área, Eduardo Lauande. “Muitas vezes os condomínios dão prioridade a um tecido sintético, fácil de passar, mas que não possibilitam a respiração da pele e geram desgaste físico. O fardamento tem que oferecer elegância e conforto laboral”, diz. Além da escolha certa do tecido, Lauande recomenda modelagens “mais tropicalizadas” em lugar do terno convencional. Mesmo porque, é preciso dar mobilidade ao movimento corporal do segurança e evitar peças que lhe tragam riscos, como a gravata.
A cor é outro item importante. Lauande relata o caso de um condomínio de casas localizado na região do Vale do Paraíba, Interior de São Paulo, que optou pelo fardamento branco para a equipe de ronda. “Eles ficaram super expostos”, observa, destacando que a cor deve ser escura para o período noturno, de maneira a que o funcionário fique “camuflado”. “Durante o dia, o ideal é adotar tons em bege, cinza claro, chumbo ou marrom, que não são retentores de calor e possibilitam maior durabilidade”, sugere.
Para o empresário João Francisco Guariglia, que dirige uma confecção familiar com 53 anos de atuação na região de Sorocaba, a segurança representa uma das principais vantagens dos uniformes. Estes permitem distinguir os funcionários das pessoas estranhas aos condomínios, observa, destacando, ainda, que “a uniformização está se tornando cada dia mais atraente, até mesmo pelo marketing indireto”, ao propagar o nome da empresa e/ou condomínio.
Matéria publicada na edição Nº 152 em novembro de 2010 da Revista Direcional Condomínios.