Uso racional da água é imperativo nos condomínios

Com o custo alto da água e impacto nas contas condominiais, temos de pensar em ações positivas para reduzir o consumo e gerar a sustentabilidade econômica.

Ilustração de água

Somos um país rico em recursos hídricos. De toda a água doce disponível do planeta, cerca de 7,2% está no Brasil, conforme informações da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico). Ainda, de acordo com a mesma fonte, somos o país com a maior quantidade de água no mundo, um potencial enorme. No entanto, o estado de São Paulo possui apenas 1,6% do potencial nacional, sendo que abriga 22% da população do país.

Basta buscar informações da ONU, UNESCO e da própria ANA e veremos dados médios de uso no país:

  • 70% da água vai para agricultura e pecuária e não podemos deixar de ter alimento;
  • 22% para a indústria que promove empregos e desenvolvimento;
  • Apenas 8% é para consumo doméstico. Ou seja, daquele 1,6% que poderia parecer algo grandioso, apenas 8% está disponível ao uso doméstico.

É aqui que pesa a nossa responsabilidade no uso racional, pois não geramos benefício algum gastando mais que o necessário. Esse desperdício recria todo ano, durante a estiagem do inverno, o velho fantasma do racionamento de água.

Somente a região metropolitana de São Paulo concentra a metade de toda a população do estado e a água existente não está totalmente disponível ao uso, na porta de nossos condomínios e casas. É necessário captar água em mananciais que dependem das chuvas. Entre o tratamento da água e distribuição temos perdas por vazamentos. De acordo com dados da SABESP as perdas correspondem a 18% de tudo que é tratado.

Nossa única alternativa para a sustentabilidade no uso de água é fazê-lo de forma racional, reduzindo o consumo sem gerar desconfortos.

REDUÇÃO COM QUALIDADE

Usar a água de forma racional é mais fácil do que se imagina. Eu busco isso dentro de casa. As duchas podem ter jatos fortes, com conforto e uma quantidade de água muito menor. E isso é plenamente possível. Em meu apartamento saí de duchas de 12,2 litros/minuto existentes para duchas de 7,2 litros/minuto gastando R$ 98,00 em cada uma, com uso de um bom redutor de vazão. Reduzimos o tempo de banho também. Reduzi drasticamente o uso do aquecedor a gás e apenas essa economia pagou o custo em 4 meses. Imaginem a redução do consumo de água! Para cada minuto de banho conseguimos economizar 5 litros de água – somos de 3 a 4 pessoas todos os dias. Façam as contas. Os mananciais e o bolso agradecem.

MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA

O hidrômetro individual é a melhor ferramenta para redução de consumo. Seja por uso racional ou porque devemos pagar nossa conta da água separadamente. Se você já possui medição individualizada, que tal usá-la no dia a dia para estimar metas e reduzir o consumo?

Para implantar a medição individualizada é importante nos situarmos entre duas configurações:

  1. Condomínios onde há previsão para o hidrômetro: Nestes casos o desafio é encontrar o sistema mais adequado, conhecer os prós e contras de cada tecnologia, verificar se o hidrômetro ofertado é realmente o mais indicado e escolher a empresa que ofereça mais qualidade. Recomendo que o custo não seja o fator decisivo, é melhor gastar bem do que jogar dinheiro fora. Fale com profissionais qualificados. Na maioria das vezes uma consultoria tem um custo irrisório frente ao risco de contratar errado.
  2. Condomínios sem previsão de medição individualizada: Estes exigem alterações físicas e com boas empresas sempre. Mas é preciso tomar as decisões certas. É difícil acreditar que ainda se faz obra sem um projeto. Nos últimos anos andei em muitos condomínios onde erros conceituais são muito mais frequentes que simples vazamentos. Falta de redutoras de pressão, falta de pressurizadores onde deveria ter, tubulações mal dimensionadas e exposição ao sol são apenas alguns exemplos. Ou seja, uma infinidade de problemas por falta de projeto e fiscalização de obra. A norma NBR 16280 aplicada para reformas de áreas privativas deve ser considerada para as áreas comuns também. Em caso de falta de projeto ou documentação o síndico pode ser responsabilizado civilmente. A solução: faça a coisa certa, busque empresas e profissionais qualificados. Assim, um retrofit hidráulico acompanhado da individualização será um sucesso dentro do seu condomínio.

Se você já possui medição individualizada, use-a a seu favor, faça com que seu condomínio tenha ações positivas para o uso racional da água. Eu, por exemplo, consegui redução de consumo na ordem de 35% para a água e 48% no gás.

AÇÕES POSITIVAS

A barreira para reduzir o consumo está normalmente na cultura e não no conforto. Tenho projetos de mansões e apartamentos de altíssimo padrão onde os moradores preferiram duchas econômicas para reduzir o consumo de água com um bom nível conforto. É uma questão de atitude.

Já montei programas de redução de consumo apenas conscientizando e o resultado foi muito positivo. Algumas ações custam muito pouco e o resultado é excepcional. Mas precisa ter boa informação e entender que o resultado pode vir aos poucos. O conhecimento é o melhor caminho e os resultados nessa jornada ajudam a dar o exemplo. Há muitas dicas de economia pela internet. Quanto a uma campanha, pense em várias abordagens:

  1. Coloque avisos com as dicas de consumo, informe com ilustrações que sejam rápidas de serem entendidas até mesmo no elevador, onde o tempo é curto;
  2. Espalhe informações o quanto puder, seja na academia ou na cozinha do salão de festas, na brinquedoteca. Adultos podem se tornar mais colaborativos por meio de seus filhos;
  3. Se o seu condomínio possui equipe de recreação, faça atividades com as crianças que sirvam para incentivá-las sobre o uso racional de água.
  4. Você sabe como funcionam os aparelhos (chuveiro elétrico, aquecedor a gás, etc.)? Saber como funcionam esses equipamentos ajuda a economizar sem perder o conforto;
  5. Se você tem feira, minimercado ou outros serviços dentro do condomínio, aproveite e exponha suas ideias de sustentabilidade;
  6. Sei das dificuldades em aprovar a medição individualizada, seja pela falta de informação ou pelo custo, mas busque dados, faça um estudo de possibilidades técnicas no seu condomínio.

Monte o seu programa de uso racional da água. E não esqueça dos grandes vilões de consumo como a ducha do banho, pias, torneiras abertas e vazamentos. Mãos à obra.

Dicas simples de redução de consumo

  1. Primeiramente, preste muita atenção ao seu banho. Siga as recomendações abaixo:
    • Reduza o tempo sob o chuveiro o quanto puder. Sabendo a vazão da sua ducha você saberá o quanto poderá economizar sem haver perda de conforto. A dica para calcular a vazão está logo abaixo.
    • Se você usa chuveiro elétrico, dê preferência a modelos eletrônicos e use sempre a menor potência que lhe dê conforto. Isso vai lhe ajudar muito mesmo.
    • Se você usa aquecedor a gás ou boiler elétrico, teste a vazão da sua ducha. Para isso tenha à mão um relógio com cronômetro, por exemplo. Abra a ducha na temperatura do seu banho. Ao mesmo tempo em que iniciar a contagem coloque um balde abaixo da ducha e o retire após 30 segundos. Utilize um copo medidor de cozinha para retirar toda a água do balde e, assim, mensurar a quantidade total. Ao final multiplique o dado obtido por 2 e você obterá o volume em litros por minuto da sua ducha. Se esse número for maior que 8, pense em alternativas para a troca do chuveiro.
    • Aquecedores de passagem tem potência limitada. No manual dos fabricantes, o equipamento é indicado para duchas de 7 a 8 litros por minuto. Então siga o manual, certamente você irá economizar água.
    • Não saia comprando qualquer ducha. Pesquise modelos que tenham baixa vazão e, se necessário, coloque um redutor de vazão universal. A maioria dos fabricantes possui duchas econômicas. Eu já testei ducha muito pequena que consumia 20 litros por minuto, mais que as maiores do mercado, então não se iluda com qualquer promessa. Pesquise.
  1. Verifique suas torneiras. Use bicos “arejadores” em todas elas – esse dispositivo injeta ar junto com a água, reduzindo a quantidade do líquido e dando a sensação de maior vazão.
  1. Use o aquecedor de passagem de maneira racional. Se o aparelho possui controle de temperatura, deixe a regulagem mais próxima da usada no banho. Não vale a pena esquentar demais a água para depois esfriá-la. Além disso você diminui riscos de queimadura com a água muito quente. Ao tomar banho, abra primeiro o registro de água quente, pois ela tem uma longa distância a percorrer do aquecedor até a ducha, então a deixe chegar primeiro – se puder, enquanto espera a temperatura esquentar, coloque um balde para não desperdiçar a água que cai e a utilize na limpeza. Misture a temperatura e aproveite seu banho. Saiba que o consumo de gás é proporcional ao consumo de água quente e aumenta bastante quanto maior for a temperatura da água.
  1. Economize água ao escovar os dentes. Não deixe a torneira aberta o tempo todo; feche enquanto escova e abra somente para enxaguar a boca.
  1. Use a descarga e o vaso sanitário de modo adequado. Não jogue papel ou qualquer outro lixo dentro do vaso, isso reduz a capacidade de descarga e vai obrigá-lo a acioná-la mais de uma vez. Fique alerta à válvula da caixa, é comum ela se desregular pelo uso ou até mesmo apresentar defeitos e com isso o consumo de água aumentará drasticamente.
  1. Na cozinha, economize nas contas de água e gás. Antes da lavar a louça aproveite guardanapos que serão jogados fora para fazer uma pré-limpeza mais grossa nos pratos e afins. Retire o máximo de resíduos antes de usar a água. A gordura sai mais facilmente com água quente, porém nem sempre é necessário usar o aquecimento para lavar a louça. Caso tenha funcionários, oriente-os para agirem dessa maneira.
  1. Use a lava-louças e lava-roupas na capacidade máxima. O consumo de água será praticamente o mesmo com “meia carga” ou carga completa. Aliás, se você tem lava-louças, use-a, elas são absurdamente econômicas.
  1. Seja um fiscal no condomínio. Na área comum, veja se estão usando a água da maneira correta. Usar máquinas de alta pressão economiza água, mas deve–se ter um uso racional para economizar energia elétrica também. Água não é vassoura!!! Veja se estão tirando a sujeira grossa antes de usar a água.
  1. Fique atento ao sistema de rega. No jardim, tem de se usar a mangueira com terminais mais apropriados para aspergir a água melhor e fazê-lo a pequenas distâncias, se possível, pois do contrário a água acumulada por cima das plantas vai evaporar rapidamente. Se possível, na próxima vez que forem revitalizar o jardim, é interessante que usem plantas mais apropriadas, do tipo que requerem pouca água, ou estudem sistemas de irrigação por gotejamento.

Dica para evitar desperdício indireto

A situação que vou mencionar não afeta o uso da água diretamente, mas pode gerar complicações muito sérias. Alguns clientes têm problema de entupimento da rede de esgoto e quando um técnico é chamado para verificar a origem do problema encontra resíduos de “areais ecológicas” para pets. Nunca jogue esse material em vaso sanitário, mesmo que o fabricante diga que pode fazê-lo. As redes não estão preparadas para esse tipo de resíduo. E quando acontece o problema, até descobrir a causa, acredite, muita água foi usada na tentativa de desentupir o vaso. Então fiquem de olho!

Além do uso racional, temos que praticar a cidadania evitando problemas com nossos vizinhos de edifício, que compartilham da mesma rede de esgoto.

Meu desejo é que tenham sucesso na empreitada pelo uso racional da água.

Dicas para escolher uma ducha econômica

Não compre qualquer coisa só porque é mais barata. A ducha mais ‘gastona’ que vi até hoje nestes 22 anos convivendo com individualização custava menos de R$ 40,00 e foi vendida pela empresa que instalou o aquecedor. Não que duchas baratas sejam necessariamente ruins, mas a tentativa de resolver a situação pode te trazer um problema maior.

Prefira duchas que forneçam até 10 a 12 litros de vazão por minuto. Vale lembrar que a partir de 8 litros por minutos, como já orientado, será necessário colocar um redutor de vazão. No mercado existe kit com vários redutores, cada um para uma vazão diferente. Instale um de cada vez e teste.

Eu fiz isso e o desfecho foi perfeito. Iniciei com uma ducha que, no gráfico, indicava vazão máxima de 12 l/min. Comprei um kit com vários redutores e fiquei com o de 8 l/min, que na prática deu 7,2 l/min. E estou muito satisfeito com o resultado.

Acho importante ressaltar que conforto é algo pessoal, então a dica que passo acima é para quem deseja chegar ao melhor resultado. Eu fiz testes, então faça também. Vale muito a pena.


Matéria publicada na edição 287 março/2023 da Revista Direcional Condomínios

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