Vida de síndico: o lado bom existe?

No checklist do gestor, não faltam obrigações e preocupações. Mas o ofício também traz momentos gratificantes e experiências transformadoras, como relatam três síndicos na reportagem a seguir.

Reunião de síndicos

Junte mais de um síndico e logo temos narrativas de problemas. Sim, eles existem, e o compartilhamento é saudável. Mas e quanto ao lado bom do ofício? Pois em homenagem ao Dia do Síndico, a Direcional Condomínios reuniu três gestores para discorrerem sobre aspectos positivos da vida à frente dos condomínios. São eles: Rosana Nicchio, síndica profissional em três edifícios e orgânica há 17 anos no Siena Tower, em Santana, zona norte; Cleonice Boiati, síndica moradora do Maison Madeleine, no Cambuci, zona sul; e Piero Fioretti, síndico profissional do Blend Vila Mariana, onde reside, na Chácara Inglesa, zona sul. Graduados, respectivamente, em Economia, Direito e Marketing, eles também frequentaram cursos profissionalizantes do segmento.

A parte mais prazerosa em ser síndico, segundo eles, é quando há reconhecimento do desempenho, podendo ser demonstrado por meio de mudança de postura do morador, elogio, reeleição ou comentário. E pode vir da menor ou da maior idade. O síndico do Blend recebeu a mensagem de uma mãe relatando uma conversa com o filho de 4 anos. Ao dizer ao garoto que o Piero tinha avisado que o controle da garagem havia sido consertado, ouviu do filho: “Eu sei quem é ele, é o síndico do prédio. Acho que é detetive também porque encontra as coisas erradas, e é super-herói porque sabe consertar tudo”. A frase emocionou o síndico, em seu terceiro mandato. “Criança é inocente, porém sincera; acho que algo de bom estou fazendo”, salienta.

No extremo etário, um condômino de 89 anos, ao receber visita da filha apresentou a síndica Rosana à moça da seguinte forma: “Essa é a nossa síndica. Ela era minha inimiga, agora é minha amiga porque está sempre pronta para o condomínio”. A ‘inimizade’ era apenas da parte do idoso, que demorou a aceitar outra pessoa no cargo por nutrir grande simpatia pelo antigo gestor. Outro episódio, no mesmo endereço, também emociona Rosana. Na primeira renovação de mandato, os condôminos lhe ofereceram um reajuste de 20% durante reunião. “Eu não esperava, já era bem remunerada. Mas a melhor parte foi quando uma moradora se manifestou dizendo que as assembleias eram conturbadas com as polarizações, mas passaram a fluir melhor na minha gestão devido ao diálogo com os moradores, e me aplaudiram em seguida”.

Na opinião da síndica Cleonice, viver em condomínio também é trocar sentimentos, só que as pessoas estão cada vez mais fechadas em si mesmas, lamenta. “Quando podemos proporcionar pequenas coisas para elas, como investir num paisagismo mais colorido, tirando- as um pouco desse estado introspectivo, e em contrapartida ouvirmos um elogio, é algo muito especial”, diz a síndica, atuando há dez anos no Maison Madeleine.

Outra questão interessante da sindicatura observada pelo trio é que a atividade impulsiona novos aprendizados. “Eu vivo em busca de conhecimento, seja por meio de cursos, palestras, leituras ou lives. Tenho certa facilidade com a legislação, mas as leis mudam, precisamos nos atualizar, fora que o próprio cotidiano nos motiva a aprender, especialmente quando envolve o comportamento humano. Às vezes, no trato com um condômino, eu preciso recorrer à neurolinguística para melhor compreendê-lo”, conta Cleonice. Ela completa que conhecimentos adquiridos tornam o síndico mais seguro para se comunicar tanto na vida condominial quanto pessoal.

Síndicos

A oportunidade de conviver diretamente com pessoas diferentes e estabelecer uma comunicação assertiva é mais uma vantagem do ofício, como menciona Piero Fioretti, empresário do setor gráfico e síndico há 7 anos. “Sempre fui uma pessoa irritada, sem paciência, mas desde que passei a ocupar o posto de síndico descobri um lado calmo, o que foi ótimo. Você desenvolve habilidades, síndico não pode ter dia ruim, se você der uma resposta atravessada para o morador, ele não vai esquecer”.

Rosana endossa que a sindicatura transforma. “A experiência é enriquecedora. Entendemos que não é o nosso ponto de vista que importa, mas sim nosso ponto de vista enquanto gestores, baseado em estudos ou evidências, então passamos a colher opiniões, a escutarmos moradores, prestadores, o pessoal da área técnica, e construímos um novo caminho”. Na relação interpessoal também há ganhos. “No dia a dia, começamos a entender melhor o próximo, percebendo, por exemplo, que por trás da implicância com um barulho tolerável pode haver um quadro de depressão, e a partir daí passamos a ver o outro com mais compaixão, a sentir prazer em ajudar, buscando soluções”, diz a síndica do Siena Tower.

Já Piero cita o ‘poder transformador’ do síndico no sentido literal. Brinca que é obreiro, pois está sempre promovendo benfeitorias em prol do bem-estar dos condôminos e da valorização patrimonial. Cleonice acrescenta que é prazeroso, diante de obras, pegar na mão do morador e conseguir mostrar o que está sendo feito para tornar melhor o lugar que ele habita.

Por sua vez, Rosana destaca que o síndico é um agente de transformação em múltiplos aspectos, o que traz satisfação pessoal. “Na pandemia, fui procurada pela paróquia do bairro, que assiste entidades de vários bairros, para que o condomínio participasse de uma campanha de arrecadação de alimentos. Procurei envolver os condôminos e fizemos uma boa arrecadação. Um dos moradores doou uma tonelada e meia de alimentos e quando eu fui agradecê-lo, ele disse que só poderia contribuir por três meses, o que foi uma excelente notícia, visto que a arrecadação era só naquele mês. Esse condômino faz a doação até hoje, então imagine a quantidade de pessoas que estão sendo assistidas a partir de um engajamento iniciado no condomínio. Ser síndico é também ser porta-voz de ações que impactam positivamente a existência do outro”, finaliza.


Matéria publicada na edição 295 nov/dez-23 da Revista Direcional Condomínios

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