Tânia Goldkorn: domínio na gestão de condomínios de alto luxo

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“Excelência vem da atenção aos detalhes”

“Mais um Natal está chegando. Apesar do meu sobrenome judaico-polonês — do qual me orgulho muito —, confesso que acho essa época do ano fascinante. Amo a atmosfera de união, a celebração, o visual. Adoro ver meus condomínios decorados com capricho; adoro contemplar as luzes da cidade. São ritos que não fizeram parte da minha infância. Sou filha de pai judeu e mãe católica. Mas, até que eles eram pessoas bem flexíveis: combinaram que os quatro filhos (eu e os meninos) escolheríamos qual religião seguir aos 10 anos de idade. Optei pelo catolicismo e fui batizada por Dom Helder Câmara. Mas o Natal em si, com lar enfeitado e visita do Papai Noel, só passei a ter quando me casei e tive as gêmeas Letícia e Débora. Hoje, celebro o Natal com minhas filhas, genros e quatro netos.  

Nasci e cresci no Rio de Janeiro, em um condomínio em Botafogo, onde meu pai, inclusive, era síndico morador. Ele tinha uma empresa de exportação de óculos no centro da cidade, e uma das janelas dava para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu era criança, mas já fazia balé clássico e sonhava com os palcos daquela construção imponente. Alguns anos depois, cheguei realmente a dançar ali. Não me tornei uma Ana Botafogo na vida adulta, mas me tornei uma excelente professora, contribuindo para a formação de grandes bailarinos.  

Meu pai teve um revés profissional e conseguiu se recolocar no interior paulista; por isso, nos mudamos para Campinas, onde concluí o colegial e me formei em Matemática pela PUC. No período de estudante, dei aula de balé para crianças no Conservatório Maestro Eleazar de Carvalho. Depois que me casei, passei a viver em São Paulo, onde conheci Ismael Guiser e sua sócia, Yoko Okada, dois ícones da dança. Trabalhei anos para a companhia deles, como bailarina e professora. Deixei a dança quando minhas filhas ainda eram pequenas, pois eu precisava de maior estabilidade financeira. 

Apostei no mundo da moda. Fui sacoleira, representante comercial e, junto com uma ex-aluna, tive uma empresa de peças multimarcas para lojistas. Por um bom tempo, o negócio deu muito certo, mas, em dado momento, a sociedade chegou ao fim. Procurei outras alternativas de trabalho. Tentei até a carreira de personal organizer, que era novidade. Mas aquilo não era para mim. Imagine você organizar tudo na casa do cliente, voltar no dia seguinte e ver as coisas todas fora de lugar?! Deus me livre (risos!).  

Nessa época, aconteceu uma reviravolta no condomínio onde moro, no Morumbi. O prédio é bom, mas muito antigo e estava deteriorado por falta de manutenção. A gestão anterior ficou 16 anos estagnada, daí os moradores decidiram substituí-la. Eu me tornei subsíndica para auxiliar a nova síndica, mas, após seis meses, ela se mudou para o interior. Assumi o mandato-tampão até ser eleita no pleito seguinte, e durante mais quatro mandatos. Recuperei o condomínio — é meu case de sucesso. E olha que curioso: passei a ser indicada para edifícios vizinhos, prédios de altíssimo padrão. Acabei me especializando nesse nicho, mas não o escolhi; foi o luxo que me escolheu.  

Desde os meus primeiros passos como síndica, há 15 anos, senti que deveria me profissionalizar para cuidar melhor do meu condomínio. Notei tantas particularidades na sindicatura, como siglas e leis, que pensei: “Sou boa para estudar, vou me dar bem nessa área.” Fiz desde pesquisas na internet até o curso de Administração de Condomínios no Secovi, cujo TCC foi sobre sustentabilidade — o que se tornaria um dos pilares da minha gestão. Em condomínio de alto luxo, ser sustentável faz toda a diferença na valorização imobiliária.  

No começo da carreira, visitei fábricas, corporações de bombeiros, fiz curso de paisagismo e de elevadores, entre outros. Também montei um glossário de termos ‘estranhos’, como barrilete, periféricos, normas regulamentadoras, AVCB… E com essas palavras venci algumas concorrências. Eu chegava a uma apresentação no condomínio X ou Y, disparava ‘um barrilete’ e era escolhida (risos!). Mas faço um aparte: não basta falar, tem de entender do que se trata e dominar a língua portuguesa.  

Os meus primeiros condomínios vieram mais devagar, mas, de repente, me vi com 30 clientes. Convidei outros síndicos para minha empresa de sindicatura; mesmo assim, eu trabalhava 14, 15 horas por dia. Em 2023, tive um problema renal grave e fiquei um período na UTI. No meio condominial diziam que eu havia me internado para fazer uma cirurgia plástica. Antes fosse (risos!). Passado o susto, preferi reduzir minha carteira. Antes, surgiam condomínios e eu ‘punha pra dentro’, porque a profissão é mal remunerada e você quer se resguardar para o caso de vir a perder algum cliente. Mas agora priorizo qualidade de vida. 

Hoje, recorro a aplicativos de IA para agilizar a parte burocrática do meu trabalho e organizo melhor minhas atividades profissionais, que incluem também dar cursos e palestras para síndicos. Nessas ocasiões, às vezes ouço: ‘Tania, as pessoas vêm aqui para te ver, você é referência.’ Eu não me vejo assim, não tenho essa soberba. O que é positivo, porque eu continuo estudando, continuo sendo uma operária dos condomínios. O público que atendo é muito exigente; estou sempre me aprimorando. Já participei do Magic Leader, sobre método Disney de excelência, em Orlando, e fiz curso de Direito Imobiliário na UCES, em Buenos Aires. Um pouco antes, fiz uma imersão em prédios de alto luxo em Nova York (que originou um dos meus cursos), e lá eles gostam de tudo brilhando: portas, corrimãos, espelhos, piso. Aqui também são bem rigorosos com a limpeza.  

Um condomínio de alto padrão bem gerido precisa funcionar perfeitamente e ser impecável até onde pouco se vê. O papel higiênico da área comum, por exemplo, precisa ter qualidade. O aromatizador do elevador não pode cheirar a talco de bebê — o empresário que o acessa pela manhã com seu terno Ricardo Almeida e pasta Gucci não quer sentir esse cheiro. Ele vai reclamar com quem? Com a gestão. A excelência vem da atenção aos detalhes.

Para atender a esses moradores, oriento meus síndicos parceiros que temos de ser discretos no condomínio, quase imperceptíveis no dia a dia. Temos de ser educados, polidos, não íntimos. Não fazemos parte daquela realidade. Sempre digo: eu trabalho no alto luxo, passeio tranquilamente nas rodas de luxo, mas não tenho helicóptero nem apartamento de 18 milhões. Não sou um deles. Ter essa percepção é relevante num universo em que sagacidade e refinamento valem ouro.”            

Tânia Goldkorn em depoimento a Isabel Ribeiro

Matéria publicada na edição 317 nov/dez 2025 da Revista Direcional Condomínios

Autor

  • Jornalista Isabel Ribeiro

    Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.